Ter mais de 60 anos custa mais caro em São Paulo

Foto: Prefeitura de São Paulo

Enquanto no IPC geral as famílias gastam em média 6% de seus recursos com itens de saúde, entre pessoas com mais de 60 anos esse número sobre para 16% - Foto: Prefeitura de São Paulo
Enquanto no IPC geral as famílias gastam em média 6% de seus recursos com itens de saúde, entre pessoas com mais de 60 anos esse número sobre para 16%

Por Humberto Dantas*

redacao@viva.com.br
Publicado em 08/10/2025, às 14h55
São Paulo, 08/10/2025 - Um índice de inflação toma por base hábitos de consumo de famílias que são acompanhadas em suas despesas durante todo um ano. Assim, ele não é preciso em relação a casos isolados e específicos de uma determinada pessoa, mas oferta uma visão geral que considera uma estrutura de ponderação de despesas que vão desde pagamentos simples do cotidiano, como uma passagem de ônibus ou um cafezinho, até mesmo um automóvel ou uma reforma doméstica.

Agora imagine que neste acompanhamento de despesas para a estruturação do indicador de inflação fosse possível isolar apenas famílias compostas por pessoas com 60 ou mais anos de idade. Eis o que a Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas fez. 

E as diferenças obtidas são significativas em relação a dois aspectos essenciais: a estrutura de ponderação, ou seja, ao padrão estrutural dos gastos mensais, e os resultados acumulados de uma série iniciada em janeiro de 2020.

Leia também: Você sabe o que é inflação e quais são os principais índices?
Desde 1973 a Fipe calcula o Índice de Preços ao Consumidor da cidade de São Paulo (IPC-Fipe). A série histórica do indicador é mais antiga, iniciada em 1939 sob os cuidados da Prefeitura. Assim, são mais de 85 anos de aferição do comportamento dos preços na maior cidade do continente. O indicador da Fipe considera os gastos de famílias que possuem renda total entre 1 e 10 salários-mínimos, o que hoje equivale a algo entre R$ 1.518,00 e R$ 15.180,00.

Gastos com saúde pesam mais

Em relação às estruturas de peso, importante salientar as diferenças associadas aos grandes grupos do indicador inflacionário. Enquanto no IPC geral as famílias gastam em média 6% de seus recursos com itens de saúde, entre as pessoas com mais de 60 anos esse número sobre para 16%, ou seja, quase três vezes mais. Isso significa, por exemplo, que em meses onde há reajustes nos preços de planos de saúde e medicamentos os idosos sofrem muito mais.

O grupo Habitação também tem peso maior no IPC60+, representando 38% dos gastos contra 31% das famílias em geral. O alívio, em contrapartida, está principalmente em grupos como Educação, Transportes e Vestuário, conforme mostra o gráfico abaixo.

gráfico de pesos do IPC 60+

Fonte: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

Custo de vida dos idosos

Diante desses resultados, o segundo aspecto a ser destacado vem em forma de uma pergunta essencial: o custo de vida dos idosos nos últimos quase seis anos é maior ou menor do que aquele aferido pelo IPC geral? A inflação acumulada para família que vivem com algo entre 1 e 10 salários-mínimos em São Paulo, entre janeiro de 2020 e setembro de 2025, é de 38,4%, enquanto entre os idosos, via IPC60+, esse percentual sobre para 41,7%. Para quem imagina que esses 3,3 pontos sejam pouco, basta converter o valor com base na lógica do salário-mínimo.

Se um idoso que mora sozinho e ganha R$ 1.518,00 mensais vivesse com 3,3% a mais de dinheiro por mês, ele teria um incremento de R$ 50,00, ou se preferir: R$ 600,00 por ano. Na outra ponta, uma família de idosos que ganha 10 salários-mínimos, teria uma adição mensal de R$ 500,00, ou R$ 6.000,00 anuais. Nota? Pergunte para um idoso o que ele faria com esse dinheiro e respostas certamente atestarão à relevância do recurso extra.

Humberto Dantas é doutor em ciência política pela USP e professor universitário. A pedido do Viva, o especialista avalia o custo de vida dos idosos à luz do IPC-Fipe.

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