Foto: Prefeitura de São Paulo
Por Humberto Dantas*
redacao@viva.com.brAgora imagine que neste acompanhamento de despesas para a estruturação do indicador de inflação fosse possível isolar apenas famílias compostas por pessoas com 60 ou mais anos de idade. Eis o que a Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas fez.
E as diferenças obtidas são significativas em relação a dois aspectos essenciais: a estrutura de ponderação, ou seja, ao padrão estrutural dos gastos mensais, e os resultados acumulados de uma série iniciada em janeiro de 2020.
Em relação às estruturas de peso, importante salientar as diferenças associadas aos grandes grupos do indicador inflacionário. Enquanto no IPC geral as famílias gastam em média 6% de seus recursos com itens de saúde, entre as pessoas com mais de 60 anos esse número sobre para 16%, ou seja, quase três vezes mais. Isso significa, por exemplo, que em meses onde há reajustes nos preços de planos de saúde e medicamentos os idosos sofrem muito mais.
O grupo Habitação também tem peso maior no IPC60+, representando 38% dos gastos contra 31% das famílias em geral. O alívio, em contrapartida, está principalmente em grupos como Educação, Transportes e Vestuário, conforme mostra o gráfico abaixo.
Fonte: Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
Diante desses resultados, o segundo aspecto a ser destacado vem em forma de uma pergunta essencial: o custo de vida dos idosos nos últimos quase seis anos é maior ou menor do que aquele aferido pelo IPC geral? A inflação acumulada para família que vivem com algo entre 1 e 10 salários-mínimos em São Paulo, entre janeiro de 2020 e setembro de 2025, é de 38,4%, enquanto entre os idosos, via IPC60+, esse percentual sobre para 41,7%. Para quem imagina que esses 3,3 pontos sejam pouco, basta converter o valor com base na lógica do salário-mínimo.
Se um idoso que mora sozinho e ganha R$ 1.518,00 mensais vivesse com 3,3% a mais de dinheiro por mês, ele teria um incremento de R$ 50,00, ou se preferir: R$ 600,00 por ano. Na outra ponta, uma família de idosos que ganha 10 salários-mínimos, teria uma adição mensal de R$ 500,00, ou R$ 6.000,00 anuais. Nota? Pergunte para um idoso o que ele faria com esse dinheiro e respostas certamente atestarão à relevância do recurso extra.
Humberto Dantas é doutor em ciência política pela USP e professor universitário. A pedido do Viva, o especialista avalia o custo de vida dos idosos à luz do IPC-Fipe.
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.