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Por Daniela Amorim, do Broadcast
[email protected]Rio, 05/07/2025 - Nos últimos meses, cresceu a proporção de brasileiros que recorrem à poupança para arcar com gastos cotidianos. A fatia de consumidores que utilizaram a poupança para despesas correntes foi de 13,5% em junho de 2025, ante 11,9% em junho de 2024.
Os dados, calculados em médias móveis trimestrais para suavizar oscilações e acompanhar tendências, são de um quesito da Sondagem do Consumidor, apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).
"A gente tem visto que tem tido um aumento basicamente constante dele, em média móvel trimestral, o que mostra que a situação financeira dos consumidores está realmente complicada. Porque tem gente usando a poupança para poder quitar as despesas correntes. Vale a pena lembrar que isso aqui é despesa do dia-a-dia mesmo, não é uma despesa extra", frisou Anna Carolina Gouveia, economista do Ibre/FGV.
Embora o mercado de trabalho permaneça aquecido, a inflação, a taxa de juros elevada e o alto nível de endividamento prejudicam a situação financeira das famílias, explicou Gouveia.
"Mesmo com a renda mais alta, com o mercado de trabalho forte, as famílias estão muito endividadas mesmo, a gente tem visto inclusive o aumento desse endividamento nos últimos meses", disse a pesquisadora.
Pode ser um reflexo também da inflação, que está incomodando um pouco o consumidor, segundo ela. Isso acaba gerando um custo de vida mais alto para o consumidor, que precisa lidar com essa variação de preço e acaba precisando ter que tirar da própria poupança para poder pagar despesas. Um terceiro ponto, diz, é a taxa de juros alta. "E nesse contexto de pessoas muito endividadas, a taxa de juros alta ainda é pior."
A parcela de consumidores que usam a poupança para gastos cotidianos permanece acima de 13% desde abril de 2025, com leve melhora em maio e junho: abril (13,7%), maio (13,6%) e junho (13,5%).
"Ou seja, a gente pode estar tendo uma transferência de pessoas que deixaram de despoupar para preferir se endividar. Então é um cenário também bem ruim", ponderou Gouveia.
O resultado, porém, continua melhor que o registrado em janeiro de 2022, quando a participação de consumidores com necessidade de recorrer à poupança para quitar despesas correntes chegou perto do pico da série, aos 16,2%. O auge histórico, iniciado em julho de 2009, foi alcançado em maio e junho de 2016, aos 16,3%, enquanto o ponto mais baixo ocorreu entre março e maio de 2010, quando 4% dos entrevistados usavam a poupança em despesas correntes.
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