Círio de Nazaré tem início, com investimento federal e debate cultural

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Em 2024, o Círio reuniu cerca de 2 milhões de pessoas, com impacto econômico superior a R$ 190 milhões - Divulgação/Arquidiocesedebelém
Em 2024, o Círio reuniu cerca de 2 milhões de pessoas, com impacto econômico superior a R$ 190 milhões

São Paulo, 09/10/2025 O Círio de Nazaré, uma festa católica que homenageia Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do Pará e Rainha da Amazônia, terá este ano transmissão ao vivo, no próximo dia 12, a partir de 10h.

A transmissão faz parte de uma parceria entre o Ministério do Turismo com a EBC Internacional e o canal GovBR. A celebração também poderá ser acompanhada no canal do Ministério no YouTube.

A manifestação religiosa acontece todos os anos, desde 1793. As celebrações, duram cerca de 15 dias, e se dão por meio de missas e romarias, que tem vários símbolos e significados, como a Imagem Peregrina, o manto a berlinda e a corda.

Investimento em turismo

Pela primeira vez, a tradicional festa de fé da Amazônia contará com R$ 2 milhões de recursos federais. Os investimentos do Ministério do Turismo ajudarão na organização do Círio, garantindo infraestrutura adequada para receber os visitantes e potencializar o turismo religioso na região.

A festividade é reconhecida como patrimônio cultural imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Em 2024, o Círio de Nazaré reuniu cerca de 2 milhões de pessoas, com impacto econômico superior a R$ 190 milhões. Para 2025, a expectativa é superar esse número, ampliando os benefícios para setores como hospedagem, transporte, gastronomia, comércio e serviços.

Os números evidenciam a importância do segmento: são realizadas anualmente cerca de 8,1 milhões de viagens domésticas motivadas pela fé, número que ultrapassa 18 milhões se consideradas as viagens de excursionistas. Além disso, 37% da população brasileira já vivenciou experiências ligadas à fé, sendo que 18% apontam o turismo religioso como segmento favorito – atrás apenas do turismo de sol e praia (62%).  

O segmento também se mostra estratégico para a economia nacional. O turismo religioso é responsável por movimentar cerca de R$ 15 bilhões por ano. O setor já recebeu R$ 27 milhões do Ministério do Turismo.

Em defesa da Amazônia

A cantora e ativista cultural Fafá de Belém apresentou a programação da 15ª edição da Varanda de Nazaré, evento que acontece entre 10 e 12 de outubro, na capital paraense. Fafá se emocionou ao relembrar momentos marcantes da trajetória da Varanda, que nasceu como um espaço de acolhimento durante o Círio de Nazaré e se consolidou como uma plataforma de escuta, diálogo e valorização da identidade amazônica.

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“Aqui, o rio é nossa rua, e a fé é o que nos move”, afirmou a artista. “A fé que nos move é inclusiva. Aqui, uma procissão de milhões caminha lado a lado com a maior festa LGBTQIA+ do Norte, sob o mesmo manto de Nossa Senhora. O Círio é o amor que caminha pelas ruas. Não é a religião, é a fé viva de um povo inteiro”, afirmou a artista

Fafá também reforçou o caráter político do Fórum Varanda da Amazônia, que terminou ontem (08/10), e discutiu sustentabilidade, turismo de base local, empreendedorismo cultural e políticas públicas para a região, especialmente neste ano em que Belém se prepara para sediar a COP 30. Para ela, o evento é uma oportunidade de mostrar ao mundo o modo de vida amazônico, as distâncias, as travessias e a resiliência das comunidades ribeirinhas.

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Fafá de Belém é porta-voz da Varanda e do Fórum Varanda da Amazônia - Foto: Aryane Almeida

“Nós precisamos de um olhar diferenciado. A Amazônia não pode ter o mesmo tratamento que São Paulo. Aqui, as distâncias são de rio, de lama, de semanas. E esse é o mote da Varanda: que olhem para nós, que nos entendam e nos respeitem”, ressaltou.

E a cantora e atriz continuou, lembrando sobre a necessidade de união. “Já vivi grandes momentos nesta terra que se esvaíram. Não podemos repetir a síndrome do ‘já foi’. O Pará não é um cachorro vira-lata. Somos uma cultura pujante, ancestral, de fé e de beleza. Precisamos de continuidade, de compromisso e de união.”

Patrimônio e política cultural

Em um tom mais crítico, Fafá fez um apelo por políticas públicas consistentes para o setor cultural e denunciou a falta de apoio a iniciativas locais, mesmo diante de projetos aprovados em leis de incentivo.
Como é que a cultura desse estado não tem o apoio que merece? Quem faz cultura aqui corta o dobrado. É preciso uma política cultural que olhe para quem vive e faz o Pará todos os dias. O que vem de fora é importante, mas quem sustenta a cultura daqui é quem mora aqui”.
A artista defendeu ainda a preservação da memória urbana e ambiental de Belém, criticando a destruição de prédios históricos e o confinamento das árvores centenárias da cidade.
“Tudo o que é valorizado no mundo é o que conta a história do lugar. O que se quer preservar da memória dessa terra? Uma mangueira não nasceu ontem. Ela precisa respirar. Precisamos cuidar do que é nosso, com alegria e consciência.”

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