Superação, acolhimento e fé inspiram milhares de devotos rumo a Aparecida

Divulgação

Milhares de fiéis vão à Basílica de Aparecida mostrar sua fé, agradecer ou pedir milagres à padroeira - Divulgação
Milhares de fiéis vão à Basílica de Aparecida mostrar sua fé, agradecer ou pedir milagres à padroeira
Por Alessandra Taraborelli alessandra.taraborelli@viva.com.br

Publicado em 08/10/2025, às 08h46 - Atualizado às 08h55

São Paulo, 08/10/2025 – O mês de outubro é um período muito importante para os católicos e devotos que comemoram o Dia de Nossa Senhora Aparecida.

Todos os anos, milhares de fiéis vão até a Basílica, localizada em Aparecida, interior de São Paulo, para mostrar a sua fé, agradecer ou pedir algum milagre para a santa. Para mostrar o quanto são agradecidos, muitos romeiros vão andando até a casa da padroeira do Brasil, outros vão de bike, moto, excursão, carro, carroça, não importa o meio transporte, o que importa é que todos têm um único objetivo: renovar a sua fé.

Leia também:Romeiro com destino a Aparecida: veja dicas de segurança e programação

Para ajudar esses fiéis a cumprirem as suas missões junto a padroeira do Brasil, muitos voluntários se unem nesta missão e procuram dar acolhimento emocional, oferecer um pouco de alimento, massagem, e lugar para repousar, para que o romeiro restabeleça suas forças e siga o seu destino.

Leia também: Círio de Nazaré: veja a programação da maior manifestação religiosa do Pará

Voluntários da fé

É o caso da Fabiana Morgan, voluntária, que mora em São José dos Campos e há 10 anos participa do ponto de apoio no Km 144 da rodovia Dutra. O projeto foi idealizado pelo senhor Abílio José e sua irmã, Candida de Lourdes, dois portugueses, também devotos da padroeira do Brasil, que resolveram, sozinhos, começar a oferecer um lugar com sombra e água para o descanso dos romeiros.

Fabiana, que mora bem perto do ponto de apoio, disse que chegou por curiosidade, para saber do que se tratava e há dez anos, desde que a iniciativa começou, colabora neste ponto de apoio. No início, eram cerca de oito pessoas e hoje já são mais de 50 voluntários.

“Como é um trabalho voluntário, cada um colabora na hora e quando puder”, explica, agradecendo à idealizadora que, segundo Fabiana, lhe tem ensinado muito sobre voluntariado e acolhimento. A voluntária auxilia na orientação para evitar exploração de pessoas de má-fé, e manter a integridade do voluntariado.

A tenda, que funciona 24 horas por dia oferece abrigo, comida, e serviços como massagens e chuveiros com água quente, é mantida por doações, com apoio da prefeitura com energia, água, internet e alguns colchonetes.

[Colocar ALT]
Tenda de apoio oferece comida e banho quente para os romeiros, no km 144 da Dutra -Divulgação Instagram 

Não há registro exato de quantas pessoas já passaram pela tenda, mas o caderno para os romeiros assinarem teve só no ano passado mais de 6 mil assinaturas. Assim, a previsão é de por ali em 2024  tenham tenham passado cerca de 10 mil romeiros.

“Nós vamos divulgando nas redes sociais (Instagram @apoioromeirosjddiamante) o que precisamos, vamos supor, água, café, açúcar, gelo, bolo, torta, fruta, além da parte de enfermagem como atadura, pomada para assadura, óleo para massagem. É todo um trabalho voluntário, tudo é doado”, afirma.

A partir de lá os romeiros ainda têm mais 80 km de caminhada. Mas não é água e nem comida o que as pessoas mais procuram quando chegam ao espaço.

“O que elas mais procuram é um abraço, uma palavra de motivação. A caminhada é árdua, não é fácil, você tem que ter um propósito. A gente sempre tenta receber todos com um abraço caloroso, cumprimentando a todos com 'Que a paz de Cristo e o amor de Maria esteja com você. Seja bem-vindo”. 

O ponto de apoio está montado desde o dia 27 de setembro, eles são o primeiro na região do Vale do Paraíba e o último a ser desmontado, o que vai acontecer no dia 15 de outubro.

“Nós ficamos mais porque sempre tem alguém que resolve chegar um pouco mais tarde na casa da mãe”, revela. Segundo ela, a região de São José dos Campos conta com 11 pontos de apoio.

Ela revela que nesses 10 anos viveu muitos momentos emocionantes e de confirmação da fé. Um deles, foi quando a mãe de um rapaz chegou na tenda desesperada, porque o seu filho bebia e já tinha tentado o suicídio. Dona Candida deixou a carta sob os pés da imagem que tem na tenda, até que chegou um romeiro de sua confiança, pois a carta tinha a história da família, e pediu que ele levasse a carta até Aparecida. No ano seguinte, a mãe foi agradecer, dizendo que seu filho tinha se curado e não bebia mais.

Outro exemplo de fé, foi durante uma madrugada, quando elas olhavam pela câmera de monitoramento da CCR/Movida – concessionária responsável pela via Dutra -, alguns romeiros se aproximando do ponto de apoio e eles não tinham nada para oferecer. Era madrugada.

"Menina, num piscar de olhos, a gente olha para trás, uma padaria levou 500 pães quentinhos, com frios e manteiga. A gente não sabia como tinha conseguido dar conta e de onde surgiu essa pessoa com a doação. Foi emocionante”, conta. Ela convida a quem quiser participar do voluntariado. "É uma experiência incrível. Lá você ri, você chora, você sente Nossa Senhora e uma paz de espírito.”

Caminho da Fé

O dia da padroeira do Brasil surgiu a partir de 1717, quando três pescadores brasileiros, que tentavam levar o alimento para casa, foram frustrados com a falta de peixe na rede. Tentaram uma segunda vez, e um dos pescadores encontrou, no rio Paraíba do Sul, em São Paulo, uma imagem incompleta de madeira escura sem cabeça. Jogaram a rede novamente, para tentar pegar peixe, veio a cabeça, e eles identificaram Nossa Senhora da Conceição. Após este encontro, as redes dos pescadores se encheram de peixes.

A imagem foi levada para a casa de um dos pescadores e passou a ser objeto de devoção, que foi crescendo ano a ano. Mas foi só em 1929 que o Papa Pio XI proclamou Nossa Senhora Aparecida padroeira do Brasil.

Carlos Campioto, de 48 anos, gerente comercial, compartilha a experiência de ter feito o Caminho da Fé pela primeira vez em 2013, motivado por seu hábito de caminhada, um conhecimento superficial do caminho e a recuperação de um problema de saúde.

[Colocar ALT]
Carlos Campioto e seus amigos no Caminho da Fé - Arquivo pessoal

Ele que já frequentava a Basílica de Nossa Senhora todos os anos, resolveu caminhar até os pés da santa, e convidou um amigo que topou o desafio. Ele gostou tanto que já foi mais cinco vezes, e desde 2022 vem organizando grupos, que surgiram a partir do interesse e de indicação de colegas. No mês passado, ele levou um grupo de 31 pessoas pelo caminho da Fé.

O início da caminhada se dá no município de Paraisópolis, em Minas Gerais, e que são cerca de 135 km até a cidade de Aparecida. Assim, como da primeira vez, eles andam cerca de 20 km por dia e param em pousadas ou albergues, ondem comem, tomam banho e descansam, para retornar para a estrada no dia seguinte, a partir das 6 horas da manhã, para um percurso que dura de seis dias.

Campioto explica que no Caminho da Fé é emitido um “passaporte”, que vai recebendo o carimbo pelo caminho, e Paraisópolis é o último ponto de emissão desse documento. Esse caminho rural passa por meio de sítios, plantações e tem vários desafios, como subidas e lama em caso de dias com chuva.

Na sua primeira vez, o gerente comercial conta que o maior desafio foi o físico, principalmente no segundo dia, onde os romeiros precisam encarar duas boas subidas. Mesmo com este desafio, Campioto não pensou em desistir em nenhum momento.

“É um caminho onde você sente o tempo todo muita energia, é uma troca muito grande. Na primeira vez, eu realmente fui ajudado. Um rapaz parou e a gente começou a conversar e ele compartilhou o motivo pelo qual estava fazendo a caminhada. Confesso que eu não lembrava do primeiro dia do caminho e nem da dificuldade do segundo dia. Eu só fui ter noção daquilo tudo quando eu fiz o percurso com a minha caminhonete, e eu vi o quão difícil era”, disse. Hoje, ele é responsável por toda a logística do grupo e vai no carro de apoio.

Essa caminhada é de agradecimento, seu momento de conexão. As pessoas perguntam: vem pedir o quê? Não tenho nada a pedir, só a agradecer, e saúde para o próximo ano. Só isso”.

Exercício físico

Eliete Sobral, advogada aposentada de 66 anos, realizou o Caminho da Fé em 2021, quando tinha 62 anos. O percurso, que teve início em Águas da Prata, foi de 311 km, foi concluído em 11 dias, andando em média 25 km por dia.

Ela explica que, no início, o propósito não era religioso. Embora seja devota de Nossa Senhora de Aparecida, ela foi por gostar de caminhada. A aposentada conta que algumas pessoas até estranharam o fato de ela ser espírita.

[Colocar ALT]
Eliete Sobral, no Caminho da Fé, conta da emoção de sair do meio do mato e passar pelo portão da Basílica - Arquivo pessoal

“Mas durante o caminho, a coisa virou religiosa, porque o pessoal faz realmente com esse cunho, dificilmente uma pessoa vai só para caminhar. Até aprendi a rezar o terço com o pessoal”, afirma, acrescentando que o caminho proporciona uma energia positiva muito forte.

“Não tem como você ficar imune à toda aquela energia". Ela cita que o grande desafio foi durante a subida do da Serra Luminosa. “Detesto subida. E acho que esse foi o maior desafio", conta, lemrbando que no quarto dia estava com bolhas nos pés.

Dentre os momentos emocionantes, ela destaca a chegada à Basílica, depois de tantos dias no meio do mato e passando por vilarejos. Lá estava seu marido com um cartaz à sua espera. “Você entra na cidade e tem um choque, porque você vem do meio do mato e se depara com aquele alvoroço.  Quando você passa naquele portão, com o pessoal tocando violão, é uma emoção muito grande. Logo vi meu o marido me recebendo com a plaquinha 'bem-vinda a Aparecida'. Aí você chora, não tem como", conta, também orgulhosa de ter recebido o diploma por completar o caminho.

Momento de superação

Thiago Taraborelli, 47 anos, gerente comercial,  fez o Caminho da Fé duas vezes, de bike. A primeira, em 2019, foi por uma questão de superação e curiosidade, após vários amigos fazerem o percurso. Já a segunda vez, em 2020, foi por fé, "para ter um momento comigo mesmo e alcançar o objetivo que eu tinha determinado”, afirma.

[Colocar ALT]
Thiago Taraborelli no Caminho da Fé, de bicicleta, pedalando entre 40 e 50 km por dia - Arquivo pessoal

Nas duas ocasiões ele e uns amigos saíram de Mococa, interior de São Paulo, e encontraram mais alguns colegas em Águas de Prata, onde saíram rumo a Aparecida. O trajeto total deu 428 km e foi feito em quatro dias e meio, sendo que no quinto dia, por volta de meio dia, já estavam dentro da Basílica.

De acordo com Taraborelli, o maior desafio é o mental. “O corpo chega uma hora que ele não responde mais. A rotina é muito dura, você pedala, em média, 40 a 50 quilômetros por dia, e tem muita subida. É um desafio psicológico, é o momento que o corpo não responde, você não sente as pernas e os braços, mas também não quer desistir. É uma luta de você com você mesmo”, revela.

Ele ressalta, no entanto, que quando completa o caminho é uma sensação de vitória.

“Você chega sensibilizado, porque durante todo o percurso você passa refletindo, é um momento só seu. É um momento de muita comunhão com Deus, você volta uma pessoa renovada e passa se conhecer melhor”, afirma.

Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.

Últimas Notícias