São Paulo, 04/09/2025 - O aumento da longevidade tem se tornado um desafio e também oportunidade para vários setores. Para o setor imobiliário trata-se de uma vantagem pouco explorada de gerar inovação e valor real a partir de diferentes modalidades de moradia para o público maduro. O estudo Residências para a Longevidade – Oportunidades para o Mercado Imobiliário, realizado pela MV Marketing e pela geroarquiteta Flavia Ranieri, mostra que transformar a longevidade em valor de mercado exige muito mais do que adaptar plantas ou incluir rampas de acesso.
Incorporadoras e investidores que desejam capturar esse potencial precisam estão diante de um dos mercados com maior crescimento projetado nas próximas décadas. “O que emerge deste estudo, que tem por lente a moradia, é que atuar com sucesso no segmento da longevidade exige uma abordagem estratégica, técnica e profundamente conectada com o comportamento desse consumidor diverso”, aponta Bete Marin, cofundadora da MV Marketing e uma das coordenadoras do estudo.
Entre os principais aprendizados trazidos pelo estudo está a constatação de que não se trata de um nicho, mas de uma transformação econômica robusta. No entanto, sem um diagnóstico comportamental preciso, as chances de desalinhamento entre produto e demanda são altas – com impactos diretos em vendas, ocupação e margem. Por isso, os projetos bem-sucedidos são aqueles que alinham desde o início experiência do usuário, produto, operação e marketing. Ao tratar a moradia como algo que começa muito antes da mudança de endereço.
“Essa transformação etária é palpável. Incorporadoras e investidores que enderecem agora essa dinâmica etária terão vantagem competitiva nos próximos anos”, salienta a geroarquiteta Flavia Ranieri.
Outro diferencial competitivo apontado, segundo as coordenadoras do estudo, é a validação com o público-alvo. De acordo com Camilla Alves, cofundadora da MV Marketing, escutar futuros moradores deixou de ser etapa protocolar e tornou-se parte essencial do processo de inovação.
"Nos nossos projetos que realizaram uma escuta qualificada com entrevistas, testes de proposta de valor e workshops de cocriação, conseguimos ajustar conceitos, serviços e linguagem comercial com mais precisão", conta.
A longevidade, portanto, não se resolve com adaptações pontuais, mas com um redesenho completo da cadeia de valor, da arquitetura ao modelo de negócio.”
A escuta ativa é o ponto de virada, garantem as especialistas. O público maduro é exigente, informado e sabe o que quer. Segurança emocional e física, serviços com propósito (e sob demanda) equilíbrio entre pertencimento e autonomia são fatores importantes.
Os fatores que influenciam a decisão de moradia na maturidade vão muito além da idade e da renda. São múltiplas variáveis que se entrelaçam: momento de vida; estilo de vida e valores; grau de autonomia e suporte; localização e vínculos afetivos; expectativas em relação à moradia; e classe social e capacidade de investimento.
“Para quem estamos construindo? Essa deve ser a pergunta norteadora dos projetos imobiliários. Profissionais que ignoram a complexidade comportamental e as nuances do envelhecer correm alto risco de criarem projetos desalinhados com a demanda atual", diz Bete Marin.
Ela reforça que entender o perfil de consumo, os desejos e as barreiras emocionais que envolvem a decisão de compra é o ponto de partida para criar empreendimentos verdadeiramente desejados, rentáveis e sustentáveis ao longo do tempo. "A longevidade, nesse contexto, exige uma abordagem de escuta ativa e design centrado nas pessoas”, afirma Bete Marin.
Além da construção civil
Segundo as autoras do estudo, há um "gap" do mercado imobiliário brasileiro nas faixas etárias entre 50 e 79 anos. "Trata-se de uma demanda reprimida que ainda é negligenciada pela oferta atual, majoritariamente centrada em instituições voltadas a pessoas idosas com algum grau de dependência", diz o relatório.
O envelhecimento da população não transforma apenas o setor da construção civil: ele movimenta toda a cadeia de valor que orbita o morar: indústria moveleira; arquitetura e design de interiores; tecnologia residencial e health techs; e serviços de bem-estar, suporte à saúde e hospitalidade.
Flavia Ranieri, geroarquiteta, aponta a necessidade de reinventar a experiência de habitar na maturidade - Foto: Divulgação
“Esse fenômeno abre espaço para modelos de negócios mais rentáveis, sustentáveis e alinhados às reais necessidades e aos desejos do consumidor maduro, conectando diferentes setores em torno de uma mesma urgência: reinventar a experiência de habitar na maturidade. A moradia, nesse contexto, deixa de ser produto final e passa a ser plataforma para serviços, vínculos e qualidade de vida”, afirma Flavia Ranieri.
Os dados comprovam o potencial do mercado imobiliário prateado: são 59 milhões de brasileiros acima de 50 anos dos quais 5,6 milhões de pessoas idosas vivendo sozinhas – grupo que representa hoje a maior proporção de domicílios unipessoais no País.
A habitação é o maior gasto mensal entre as despesas da maturidade, o que reforça a urgência de repensar a experiência de morar na longevidade. "A transição demográfica exige do mercado imobiliário inovação no produto, na linguagem e na estratégia de venda", diz ela.
O estudo traz um conceito chamado LaaS Longevity - Living as a Service adaptado para Longevidade, que pode ser traduzido por “residência como serviço para a longevidade”. Em um cenário marcado pelo envelhecimento da população e pelo desejo crescente de autonomia, segurança, bem-estar e vontade de interagir com diferentes faixas etárias, o LaaS Longevity se propõe a agregar serviços.
Na prática, em vez de somente comprar ou alugar uma moradia, o residente passa a ter acesso a uma experiência com serviços integrados, unindo tecnologia, design e inteligência de dados. É como uma assinatura de moradia, na qual, além do imóvel, o morador conta com serviços personalizados e escaláveis, que podem ser contratados conforme a evolução das necessidades e fases da vida.
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