Carlos Macedo
Publicado em 09/07/2025, às 15h46 - Atualizado em 12/07/2025, às 09h17
São Paulo, 12/07/2025 - O envelhecimento da população tem mexido com vários segmentos da economia, que começam a olhar para este público com mais atenção. Afinal, a chamada geração prateada deve movimentar R$ 3,8 trilhões em 2044, o que representa 35% do consumo domiciliar privado, que está projetado em R$ 10,8 trilhões, segundo a pesquisa Mercado Prateado: consumo dos brasileiros 50+, que integra o projeto Brasil Prateado, realizada pelo Data8.
Essa mudança no perfil etário abre espaço para o setor de construção que tem começado a lançar imóveis do tipo senior living, que são moradias adaptadas que proporcionam independência, segurança e qualidade de vida aos mais velhos. De acordo com Martin Henkel, especialista em marketing 60+ e CEO da SeniorLab, o consumidor maduro não está apenas acompanhando tendências, ele está criando novas exigências.
Morar bem, com conforto, segurança e acesso facilitado a serviços, não é luxo para esse público, é prioridade”.
O consultor alerta que não é só uma questão de adaptar as casas ou os apartamentos é preciso pensar em áreas de lazer adaptadas para o público maduro, com espaços de convivência e equipamentos para atividades físicas ao ar livre, além de serviços por demanda.
Ele cita como exemplo que as avós de hoje são bem diferentes, elas não querem ter somente a obrigação de cuidar de netos, elas querem sair, viajar, fazer atividade física e ter independência em todos os aspectos.
Henkel ressalta ainda que ao se pensar em moradia para idosos, também é preciso entender as tendências que vêm com a longevidade urbana, como:
“A população madura não quer morar em lugares ‘preparados para idosos’, mas sim em bairros que ofereçam autonomia, estímulo à vida ativa e conforto para todas as idades”, reforça Henkel.
Cada rampa construída, cada calçada bem planejada e cada metro quadrado arborizado é, na prática, um investimento na valorização imobiliária do futuro".
O especialista avalia que esse tema moradia para idosos está “atrasado” no Brasil. “Nós temos uma área de sombra por bastante tempo ainda, o que é uma pena. As construtoras estão começando agora, uma coisa que já é um movimento no exterior e que já deveria ter começado", diz. Isso porque entre um projeto sair do papel e ser colocado para ser habitado pode levar três a cinco anos, às vezes mais.
As moradias para idosos começam a despontar em alguns lugares no Brasil como, Porto Alegre, São Paulo e Florianópolis.
Em Porto Alegre, o sócio-fundador do Grupo São Pietro Hospitais e Clinicas Luciano Zuffo, disse que recebeu o convite de uma incorporadora para uma parceria para criar a operação de um Senior Living de alto padrão, o Magno Três Figueiras São Pietro.
O executivo tentou encontrar algumas referências no Brasil, ao não encontrar, buscou benchmarking fora do País. “Lá fora isso é muito mais bem desenvolvido do que aqui, porque a cultura dos países com população mais idosa aponta que para locais assim. Aqui, as pessoas se sentem culpadas por colocar seus familiares nesses lugares, uma mistificação ruim do asilo", pondera.
Para mudar esse pensamento, Zuffo e os sócios criaram um projeto que transcende a questão da saúde, com foco em convivência, atividades, comunidade, e que conta com uma equipe multidisciplinar voltada para o bem-estar.
Entre os serviços oferecidos no empreendimento estão salão de beleza, spa, academia, seis refeições diárias com acompanhamento de nutricionista, quartos para casais e individuais, com diferentes tamanhos para atender às necessidades dos moradores.
Outro item importante é um dispositivo antiqueda dentros dos apartamentos e o GPS com botão de pânico para segurança dos residentes que têm autorização familiar para sair. “Dentro do residencial, a equipe acompanha e localiza os moradores. Considero essa autonomia um ponto importantíssimo”.
O Magno Três Figueiras São Pietro foi lançado em setembro de 2024 e, atualmente conta com 55 moradores, o que representa quase 50% da ocupação total.
Entre os residentes, a maior parte é do sexo masculino, na faixa etária média de 83,5 anos. Do total de moradores, 27% estão no grau 1 (independentes), 33% no grau 2 (autonomia parcial), e 35% estão no grau 3 (sem autonomia). O tíquete médio mensal está entre R$ 15.500 e R$ 16.000, variando conforme o nível de assistência.
Zuffo revelou ainda que tem planos de expansão para Santa Catarina, Paraná, São Paulo (interior e capital) e interior do Rio Grande do Sul, com projetos em diferentes fases.
O empresário do mercado imobiliário Alexandre Frankel, que está à frente da Vitacon e da Housi, já anunciou que vai lançar sua própria linha de moradias para idosos na cidade de São Paulo. O primeiro prédio está previsto para este semestre, em Higienópolis, bairro paulistano, com 300 apartamentos de 30 a 60 metros quadrados, e valor geral de vendas estimado em R$ 400 milhões. Outros dois projetos estão em desenvolvimento para o ano que vem nos bairros de Perdizes e Jardins.
O projeto foi concebido para que cada prédio tenha uma equipe de enfermagem para atendimentos emergenciais e/ou resgates. Já os serviços de saúde recorrentes de cada morador poderão ser contratados à parte. O projeto para idosos incluirá ainda uma sala para consultas via telemedicina, equipada com aparelho para se medir a pressão arterial e a oxigenação do sangue, por exemplo.
As áreas comuns terão salas apropriadas para atividades como hidromassagem, fisioterapia e atividades físicas de baixo impacto, como ioga. Outros itens típicos de condomínios também estarão ali, como academia, salão de jogos e áreas verdes.
"Há muito tempo estamos estudando entrar no senior living. Esse é um setor que tomou proporções enormes", afirma Frankel.
No projeto de Higienópolis, o condomínio custará cerca de R$ 1,2 mil para apartamento de 30 metros quadrados e R$ 2,4 mil para unidades de 60 metros quadrados, o que restringe o público a famílias de média renda para cima.
As executivas Daline Moura Hällbom, que atua há 17 anos no mercado imobiliário e Beatriz Pons Korsar, com 13 anos de experiência em projetos suecos de asilos e apartamentos para idosos, abriram a Söderhem, uma empresa de consultoria e administração de moradias para idosos. A inspiração veio dos países nórdicos, que já estão mais avançados na adaptação dos empreendimentos para atender as necessidades da terceira idade.
O negócio foi aberto em Florianópolis e está prestes a fechar os primeiros dois prédios na cidade, com lançamentos previstos para o ano que vem na região da Lagoa da Conceição e do Centro. O negócio terá parceria da catarinense Embracon, administradora de condomínios.
O foco da empresa será o senior living nos moldes suecos, mas turbinando o condomínio com espaços de vivência e bem-estar com jeitinho brasileiro, que vão de horta a ioga, além de eventos que ajudem a promover a socialização dos moradores.
"Buscamos criar o senso de comunidade. O prédio é para pessoas que estão no mesmo barco, se aposentaram, os filhos cresceram e às vezes bate a solidão", diz Daline Hällbom.
A concepção dos projetos prevê apartamentos de 50 a 80 metros quadrados, com um a dois quartos. O modelo de negócios pode ser baseado na venda ou na locação de cada unidade, atraindo desde compradores que vão morar no local ou investir.
O grande desafio é superar a barreira do preço, já que as unidades devem girar em torno de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão, o que restringe o público-alvo a famílias com renda na faixa dos R$ 40 mil. "Primeiro vamos nos consolidar no mercado. Posteriormente, pretendemos colaborar com o governo para levar esse modelo para o público de média e baixa renda, com projetos que tenham escala", explica Daline.
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