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Por Eduardo Laguna e Anna Scabello, do Broadcast
[email protected]São Paulo, 06/05/2025 - O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral disse hoje que oportunidades abertas em mercados que vão retaliar as barreiras comerciais dos Estados Unidos devem impulsionar a produção de grãos no Brasil. Por outro lado, ponderou, os produtos brasileiros podem encontrar mais obstáculos num mundo com mais barreiras ao comércio, não apenas nos Estados Unidos.
Em fórum realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Barral, que hoje trabalha como consultor, projetou que até 2030 o Brasil vai responder por 60% da produção global de soja, aproveitando-se das retaliações aos Estados Unidos. Já a produção brasileira de milho deve subir para 90 milhões de toneladas no mesmo período, na esteira do consumo gerado pelo aumento da renda em economias como Índia e mercados asiáticos.
Esse é, conforme Barral, o cenário positivo pós-tarifaço do presidente Donald Trump. Os desafios, observou, são colocados pela perspectiva de mais barreiras tanto comerciais quanto ambientais, em especial na Europa, em paralelo à maior ocorrência de eventos climáticos extremos.
Para o ex-secretário de comércio exterior, fatores políticos podem impedir o acesso dos produtos brasileiros em mercados internacionais. “São muitas as oportunidades, são muitos os riscos e as transformações tecnológicas que temos que nos atentar ao longo das movimentações da geopolítica”, avaliou Barral no fórum.
Para o especialista, a volta de Trump ao poder marca o fim da ordem criada após o acordo internacional de Bretton Woods, de 1944, de liberalização do mercado e fortalecimento das organizações multilaterais. “Durou até agora, ou começa a terminar”, assinalou Barral, acrescentando que o modelo econômico pós-Bretton Woods tirou 1 bilhão de pessoas da miséria, especialmente na Ásia, mas gerou descontentamentos com a globalização. “Trump é sintoma de tudo que vivemos nos últimos anos”, assinalou.
A consequência do tarifaço de Trump, na visão de Barral, deve ser um aumento das zonas de influência americana e chinesa no mundo. Em paralelo, a Europa vai buscar manter a sua posição de liderança global.
A China, na avaliação do consultor, deve assistir mais empresas deixando o país em direção a destinos como a Índia, que pode fechar um acordo com os Estados Unidos. A tendência, considera, é que a China invista em políticas para fortalecer o consumo interno em reação aos obstáculos a suas exportações, que puxaram o crescimento do país nos últimos anos.
Para Barral, é apenas uma especulação prever se o antagonismo entre Estados Unidos e China, a batalha do século, vai evoluir a um conflito armado. Ele entende, no entanto, que no mínimo está em curso uma “guerra fria”.
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