Lula Marques/ Agência Brasil
Por Luiz Araújo, Lavínia Kaucz e Victor Ohana, do Broadcast
[email protected]Brasília, 02/05/2025 - O governo federal anunciou por volta das 18h que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nesta sexta-feira, 2, o pedido de demissão do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, em meio ao desgaste do governo com a revelação de fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A decisão foi tomada durante audiência no Palácio do Planalto. Para o lugar de Lupi, o presidente convidou o atual secretário-executivo da pasta, Wolney Queiroz, que assumirá o comando do ministério.
A exoneração de Lupi e a nomeação de Wolney, ex-deputado pelo PDT, foram publicadas em edição extra do Diário Oficial da União. O movimento marca a primeira mudança no alto escalão do governo desde que veio à tona a investigação sobre irregularidades na concessão de descontos em benefícios previdenciários.
Na semana passada, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram a Operação Sem Desconto, que apura um esquema de deduções indevidas em contracheques de aposentados e pensionistas do INSS. Segundo os investigadores, o total de descontos sem autorização chega a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Considerando dados desde 2016, o montante pode chegar a quase R$ 8 bilhões.
Lupi vinha sendo pressionado nos bastidores desde que o escândalo ganhou visibilidade. A fraude se baseava em adesões forjadas a associações e serviços, gerando descontos automáticos e indevidos nos benefícios pagos pelo INSS. Os alvos da operação incluíram servidores, empresas e entidades beneficiadas com os valores desviados.
Lupi informou pelas redes sociais seu pedido de demissão e reiterou que não foi omisso e que seu nome não foi citado até o momento nas investigações. A publicação foi feita minutos depois de o carro do ministro deixar o Palácio do Planalto, nesta tarde, após reunião convocada pelo presidente Lula. Ele vinha sendo pressionado desde a semana passada para deixar o cargo.
“Tomo esta decisão com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso que apuram possíveis irregularidades no INSS. Faço questão de destacar que todas as apurações foram apoiadas, desde o início, por todas as áreas da Previdência, por mim e pelos órgãos de controle do governo Lula”, escreveu Lupi na rede X, antigo Twitter.
Ele também disse esperar que as investigações “sigam seu curso natural, identifiquem os responsáveis e punam, com rigor, aqueles que usaram suas funções para prejudicar o povo trabalhador”.
Lupi disse que a entrega do cargo partiu dele e agradeceu ao presidente Lula pela “confiança e oportunidade”.
Reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, de 26 de abril, mostrou que Lupi soube das denúncias em junho de 2023, mas demorou quase um ano para tomar medidas. Ao Broadcast Político, Lupi negou omissão, disse que procurou agir e responsabilizou o então diretor de Benefícios, André Félix Fidélis, pela lentidão nas apurações internas, o que levou à necessidade de o ministro demiti-lo.
No mesmo dia em que a operação da PF e da CGU foi deflagrada, o governo exonerou o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) e assinada pela ministra da Casa Civil substituta, Miriam Belchior, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter determinado a demissão de Stefanutto.
Na última quarta-feira, 30, oprocurador federal Gilberto Waller Júnior, corregedor da Procuradoria-Geral Federal, órgão da Advocacia-Geral da União (AGU), foi nomeado como novo presidente INSS.
Em um longo histórico político, Wolney Queiroz tem alinhamento com pautas caras ao PT, mas teve desgaste recente quando se aproximou do PL nas eleições municipais de seu reduto eleitoral. Ele ocupava o cargo de secretário-executivo da Previdência desde o início do atual governo, posição considerada o segundo posto mais importante dentro de um ministério.
Nascido em 1972 em Caruaru (PE), ele é filiado ao PDT desde 1992. Iniciou a carreira política como vereador em sua cidade natal, onde presidiu a Câmara Municipal. Em 1995, assumiu o primeiro de seis mandatos consecutivos como deputado federal por Pernambuco.
Durante sua atuação no Congresso Nacional, foi vice-líder do PDT em diferentes períodos entre 1995 e 2013, liderou a bancada do partido entre 2020 e 2022 e chefiou o bloco de oposição ao governo Jair Bolsonaro em 2022. Também presidiu a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, além de participar de comissões como Constituição e Justiça, Defesa do Consumidor e Desenvolvimento Urbano.
Votou contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Foi contrário à PEC do Teto de Gastos e à Reforma Trabalhista no governo Michel Temer, e apoiou a abertura de investigação contra o então presidente Temer em 2017. Votou contra a reforma da Previdência em 2019.
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