Caso Bruno Henrique é desalentador, mas também mostra que o radar contra fraudes está ligado

São Paulo, 16/04/2025 - Aos 34 anos de idade, pode-se dizer que Bruno Henrique Pinto aproxima-se do fim da carreira de jogador de futebol. Começou em um time de várzea na periferia de Belo Horizonte, em 2009, e deve deixar os gramados depois de uma história vitoriosa no Flamengo, time de maior torcida do País. A história é vitoriosa, mas ninguém garante que seja com final feliz. Indiciado pela Polícia Federal por suspeita de manipulação de jogo - o atacante teria forçado cartão amarelo em partida contra o Santos pelo Brasileirão de 2023.

Bruno Henrique não é apenas um dos principais jogadores do Brasil. Ele é também o mais bem pago do Flamengo e, por consequência, uma das maiores remunerações do País. De acordo com a imprensa esportiva, o salário de Bruno Henrique gira em torno de R$ 2 milhões por mês. Por mês! Fora luvas, bônus por metas alcançadas e outras premiações.

Na base do indiciamento da Polícia Federal está uma robusta investigação e a análise de quase quatro mil mensagens no Whatsapp, trocadas entre ele e o irmão, Wander Nunes Pinto Jr. Há ainda uma prima e uma cunhada, cujas trocas de mensagem também foram analisadas. Pelo que se sabe até agora, a apuração da PF concluiu que o cartão amarelo forçado por Bruno Henrique teria rendido prêmios que giram em torno de R$ 1,8 mil ao trio, que apostou pouco menos de R$ 400. Bruno Henrique ainda não se manifestou, enquanto o Flamengo reforçou seu compromisso com "fair play desportivo e com o devido processo legal", de acordo com apuração do Estadão.

Big Brother

Manipulação de resultados não é novidade. Nem no futebol, nem em outros esportes. Quem não lembra do caso recente envolvendo Lucas Paquetá - e que ainda está em apuração? O que mudou nos últimos anos foi a expansão das apostas online em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Ao virar um negócio e de alta rentabilidade, as bets se cercaram de cuidados - e de muita tecnologia - para coibir qualquer prática de manipulação. "É o nosso negócio que está em jogo, literalmente. E não podemos admitir qualquer indício de suspeita", afirma o presidente de uma das bets legalizadas no Brasil.

Somente a licença para operarem legalmente custou R$ 30 milhões a cada empresa. Não se sabe precisamente quanto elas arrecadam, mas os números são estimados sempre na casa dos bilhões.

Não é por outro motivo que a tecnologia por trás do monitoramento de partidas de futebol em todo o mundo é uma das mais sofisticadas. "Analisa-se de tudo. Desde lances suspeitos até o comportamento do jogador em campo - se estava mais tenso que o normal, se questionou o árbitro além do comum", explica o executivo.

Na manhã desta quarta-feira, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), anunciou a renovação do contrato com a empresa de tecnologia Sportradar Integrity Services. A companhia, listada na Nasdaq, monitora mais de um milhão de eventos por ano e tem como clientes a ATP, NBA, UEFA, FIFA e Bundesliga, entre outras associações e federações.

Pelo contrato renovado com a CBF, a empresa suíça vai monitorar 8,2 mil jogos de futebol brasileiro - entre feminino e masculino.

De acordo com o relatório anual de Integridade da Sportradar, o Sportradar Integrity in Action 2024 - Global Analysis & Trends, divulgado em janeiro de 2025, o número de partidas suspeitas de manipulação no mundo caiu 17% em 2024. No Brasil, essa redução foi ainda mais expressiva, com 53 casos a menos em comparação ao ano anterior, representando uma queda de 48% no país. Uma ótima notícia para quem é apaixonado por futebol - caso de bilhões de pessoas ao redor do globo.

As investigações sobre o suposto envolvimento de Bruno Henrique em esquema de manipulação estão apenas começando e demora ainda a esclarecer definitivamente todos os pontos. Talvez a única pergunta que fique sem resposta é: por que um craque tão brilhante, jogador de um dos maiores times do mundo, com um salário milionário, pode ter escolhido sair do futebol pela porta dos fundos?