Belém, 21/11/25 - O novo texto com as decisões da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) foi publicado nesta madrugada e sem esses dois temas vistos como fundamentais para muitas das delegações: mapa do caminho para transição energética, que aponta o trajeto para o fim do uso de petróleo e combustíveis fósseis e também para as florestas.
“A versão saiu em linhas mais conservadoras”, afirmou Branca Americano, assessora especial da presidência do Conselho Empresarial de Desenvolvimento Sustentável (
Cebds).
O texto suscitou críticas. Um grupo de cientistas divulgou um comunicado condenando a ausência do "mapa do caminho" de um dos textos centrais resultantes das negociações. O grupo fala em “traição à ciência”.
O tema, pela expectativa, deveria ser tratado no documento cunhado como “Decisão Mutirão”, que reúne justamente os pontos mais sensíveis que não constavam da agenda inicialmente prevista para discussão oficial entre países. Um número próximo de 80 países se uniram em torno da ideia de um roteiro para acabar ou reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Contudo, as palavras "combustíveis fósseis" estão ausentes do texto mais recente.
“Isso é uma traição à ciência e às pessoas, especialmente aos mais vulneráveis, além de totalmente incoerente com os objetivos reafirmados de limitar o aquecimento a 1,5°C e com o quase esgotamento do orçamento de carbono", diz o comunicado.
“No texto anterior, havia menção relevante sobre trazer a discussão do "transitional way" em workshops ou em "roundtables" de alto nível político, para que as partes pudessem avançar na mobilização e discussão da transição energética, redução de combustíveis fósseis, conectando com a agenda de florestas. Mas isso foi retirado dessa nova versão”, afirmou Viviane Romeiro, diretora de Clima e Energia do Cebds. Romeiro afirma que já se ouve uma lamentação grande sobre esse retrocesso no rascunho do texto final.
O posicionamento dos cientistas é assinado por Carlos Nobre, do Science Panel of the Amazon; Fátima Denton, da United Nations University; Johan Rockström, do Potsdam Institute for Climate Impact Research; Marina Hirota, do Instituto Serrapilheira, Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo; Piers Forster, da University of Leeds; Thelma Krug, Presidente do Conselho Científico da COP30.
“É impossível limitar o aquecimento a níveis que protejam as pessoas e a vida sem eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e acabar com o desmatamento. Nessas últimas horas, os negociadores devem trabalhar juntos para recolocar no texto os roteiros para um futuro mais seguro e próspero. A ciência está aqui para ajudar", apontam.
Hoje é o último dia para negociação, com expectativa de postergar as tratativas para sábado.
'Espírito de mutirão'
A assesora do Cebds afirma, porém, que o novo rascunho mantém o espírito de mutirão que está conectado com a agenda de ação, proposta pela presidência da COP30 no início deste ano. “A presidência propôs no texto anterior que todos sentassem à mesa para conversar e avaliar como as economias baseadas em combustíveis fósseis começarão a transição”, afirmou Americano. E pontuou: “Isso não é possível mudar do dia para o dia. Por isso, é preciso fazer um roteiro, um mapa do caminho”.
A assessora pondera que a COP ainda não terminou e que vê espaço para novo ajuste na conclusão da conferência. “Não se bateu um martelo ainda sobre o texto final. O jogo só acaba quando termina”, disse.