Em pronunciamento, Lula defende taxação de ricos para compensar isenção do IR
Ricardo Stuckert / PR
Por Marcel Naves
30/11/2025 | 21h08 ● Atualizado em 01/12/2025 | 08h39
São Paulo, 30/11/2025 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu em pronunciamento neste domingo (30) a taxação de pessoas de alta renda para compensar a isenção do Imposto de Renda. Na transmissão em cadeia nacional de rádio e TV, Lula afirmou que a "elite brasileira" acumula privilégios e chamou de "vergonhoso" o fato de o grupo "pagar menos Imposto de Renda que a classe média e os trabalhadores".
Lula declarou que a lei que amplia a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil mensais atacará os "privilégios de uma pequena elite financeira" e ajudará o Brasil na justiça tributária.
O aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda foi sancionado por Lula no último dia 26, após o Senado e a Câmara aprovarem a medida por unanimidade.
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Além de isentar de IR quem ganha até R$ 5 mil por mês, a nova lei também cria um desconto para os contribuintes que ganham até R$ 7.350 mensais. Para compensar as reduções no imposto, o texto prevê uma tributação mínima para pessoas com alta renda, criando uma alíquota progressiva de até 10% aos que recebem mais de R$ 600 mil por ano.
O presidente afirmou que cálculos da Receita Federal apontam que, em 2026, as mudanças no Imposto de Renda devem injetar R$ 28 bilhões na economia do País.
As regras começarão a valer em 2026 e vão impactar a declaração do Imposto de Renda feita em 2027. O aumento da faixa isenta de IR foi uma das principais promessas de campanha de Lula. Além das mudanças no Imposto de Renda, o presidente aproveitou o pronunciamento para mencionar uma série de avanços em outros programas sociais, como o Bolsa Família.
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Ele fez referência ao mote de uma campanha publicitária da Secretaria de Comunicação da Presidência sobre a nova faixa de isenção do IR — batizada de "Brasil mais justo". "Nosso governo está do lado do povo brasileiro, construindo um País mais próspero, mais forte e, principalmente, mais justo", disse.
'Quase um 14º salário'
A um ano das eleições, Lula afirmou que a ampliação da faixa de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil será "quase um 14ª salário". Ele sugeriu que os contemplados pela medida podem usar a "renda extra" para quitar uma dívida ou comprar uma televisão com tela maior para ver a Copa do Mundo de 2026.
"A partir de janeiro do ano que vem, o que hoje é desconto no contracheque vira dinheiro extra no bolso. Para viajar com a família. Comer o que mais gosta. Comprar presentes de Natal para os filhos. Quitar uma dívida. Adiantar uma prestação. Comprar uma televisão com tela maior para ver a Copa do Mundo no ano que vem", disse Lula.
Ao longo do pronunciamento, Lula evitou usar a palavra "isenção" e preferiu falar em "zero de imposto de renda", mesmo termo que foi utilizado na divulgação do pronunciamento. "Com zero de Imposto de Renda, uma pessoa com salário de R$ 4,8 mil pode fazer uma economia de R$ 4 mil em um ano. É quase um 14º salário", disse.
Injustiça tributária
Lula defendeu que a medida visa atacar a desigualdade no País e destacou que, além de aumentar a faixa de isenção, a lei prevê uma taxação mínima de 10% para os super-ricos, que frisou serem 0,1% da população. "Mais do que uma correção da tabela do imposto de renda, a nova lei ataca a principal causa da desigualdade no Brasil: a chamada injustiça tributária", declarou.
Ele voltou a usar um discurso contra os mais ricos e disse que, ao longo de 500 anos de história, a elite brasileira acumulou "mais e mais privilégios" e que, entre eles, "talvez o mais vergonhoso seja o de pagar menos IR do que a classe média e os trabalhadores".
Lula disse que, hoje, quem "vive do suor do seu trabalho e constrói de fato a riqueza deste País" paga até 27,5% em IR, já "quem vive de renda" paga apenas 2,5%, em média. "Quem mora em mansão, tem dinheiro no exterior, coleciona carros importados, jatinhos particulares e jet-skis, paga dez vezes menos do que uma professora, um policial ou uma enfermeira."
O presidente classificou a situação como "inaceitável" e disse que "era preciso mudar". Acrescentou que a mudança no IR é um passo decisivo para transformar a realidade da desigualdade no Brasil, mas que foi apenas o primeiro.
"Podem ter certeza de que não vamos parar por aí. O que nós queremos é que a população brasileira tenha direito à riqueza que produz com o suor do seu trabalho. Seguiremos firmes combatendo os privilégios de poucos para defender os direitos e as oportunidades de muitos."
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