Brasília, 12/11/2025 - A pecuária de corte brasileira pode reduzir as emissões de gás carbônico (CO2 equivalente) em pelo menos 79,9% até 2050 na produção de um quilo de carne, revela estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). O estudo foi apresentado na tarde desta quarta-feira na Agrizone, durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém do Pará.
A pesquisa considera a redução possível a partir do ritmo atual de adoção das práticas mais eficientes de produção e de conversão de áreas degradadas para pastagem. Mas, de acordo com o estudo, se o governo brasileiro cumprir a meta de zerar desmatamento até 2030 e se as medidas adicionais foram aceleradas a redução pode chegar a 92,6% em 25 anos.
"A pecuária brasileira tem um papel central na agenda climática e um enorme potencial para contribuir com a descarbonização, liberando espaço nas metas do Brasil em relação ao Acordo de Paris. Isso é motivo de muito orgulho, mas também aumenta ainda mais a nossa responsabilidade, pois precisamos continuar a acelerar o caminho que já estamos percorrendo", disse o presidente da Abiec, Roberto Perosa, em nota.
O potencial de descarbonização da pecuária brasileira foi calculado pela FGV Agro a partir de quatro cenários possíveis. O primeiro considera a continuidade das tendências atuais de uso da terra e aumento de produtividade, sem políticas adicionais de mitigação ou aceleração. O estudo cita o exemplo de que a pecuária nacional aumentou em 183% sua produtividade desde 1990, enquanto reduziu a área ocupada por pastagens em 18%. Mantido esse ritmo, as emissões por quilo de carne serão reduzidas de 80 kg de CO2 para 16,1 kg até 2050, uma queda de 79,9%, de acordo com a pesquisa.
O segundo cenário traçado pela FGV considera o cumprimento da meta do governo brasileiro de zerar o desmatamento até 2030, o que permitiria uma redução de 86,3% nas emissões por quilo de proteína animal produzida. A terceira projeção adiciona a adoção integral do Plano ABC+ (Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária), com foco na recuperação de pastagens degradadas e na expansão de sistemas integrados, como o de lavoura e pecuária, em que a descarbonização chega a 91,6%.
O quarto cenário incorpora o uso de técnicas zootécnicas, como aditivos alimentares para redução de fermentação entérica e o abate precoce. Na última conjuntura, é possível atingir a redução de 92,6% de queda na emissão de carbono. Se for considerado o balanço líquido de emissões da pecuária, o potencial de redução da pecuária varia de 60,7% no cenário de manutenção das práticas atuais até 85,4% no cenário de maior aceleração das práticas adotadas.
"O resultado potencial de redução de 92,6% nas emissões por quilo de proteína produzida pode ser alcançado por meio da combinação de metas públicas já estabelecidas, da implementação em escala de tecnologias de ponta, além da expansão das melhores práticas que já vêm sendo aplicadas por alguns dos mais relevantes produtores nacionais. Isso confirma o papel da pecuária como um pilar essencial para o cumprimento das metas climáticas do Brasil", afirmou o coordenador da FGV Agro, Guilherme Bastos.
A pesquisa utilizou geoanálises e modelagem econômica, conectando o uso da terra ao desempenho produtivo e ambiental da pecuária por meio de um modelo econômico global que projeta cenários de produção, produtividade e emissões até 2050 sob diferentes estratégias de mitigação.
O estudo mostra ainda que o cenário mais avançado de descarbonização depende da aplicação de políticas públicas relevantes como alavanca da ação produtiva. "A adoção de políticas públicas e tecnologias de ponta é o que garante o salto de eficiência necessário para que o Brasil se posicione na vanguarda da sustentabilidade", acrescentou Bastos.
Uma das questões basilares apontadas pelo estudo é o fim da ilegalidade e o alcance da meta de desmatamento zero até 2030. Outro ponto revelado é a necessidade de mecanismos de incentivo e financiamento que acelerem a adoção das práticas do Plano ABC+ e das tecnologias mais avançadas. "Garantindo que o investimento na conservação e na recuperação de pastagens degradadas seja economicamente viável para o produtor rural. Esse binômio - regulação firme e incentivo estrutural - é a chave para transformar o potencial em resultado e garantir a liderança da pecuária brasileira na fronteira da sustentabilidade ambiental", aponta o estudo.