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As maiores vítimas fatais por álcool no País têm mais de 55 anos, diz pesquisa

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Pessoas nessa faixa etária foram mais da metade das vítimas fatais no País em 2023 - Envato
Pessoas nessa faixa etária foram mais da metade das vítimas fatais no País em 2023
Paula Bulka Durães
Por Paula Bulka Durães paula.bulka@viva.com.br

Publicado em 02/12/2025, às 08h00 - Atualizado às 08h01

São Paulo, 02/12/2025 – Apesar de a abstenção de álcool ter aumentado no Brasil, principalmente entre a população jovem, isso não se refletiu no consumo dos mais velhos. Entre 2010 e 2023, o único grupo etário que registrou aumento no número de mortes decorrentes do uso abusivo de álcool foi o dos brasileiros com mais de 55 anos.

Pessoas nessa faixa etária foram, inclusive, mais da metade das vítimas fatais no País em 2023.

Segundo um levantamento recente do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), as mortes nessa faixa etária cresceram 51% no período analisado. Os mais velhos também se destacaram no número de internações, que, em 2024, aumentaram 105% entre pessoas com mais de 55 anos, enquanto, para o público geral, a alta não passou de 10,2%.

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A doutora em sociologia e coordenadora do Cisa, Mariana Thibes, que liderou a publicação “Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2025”, reforça que o crescimento de casos entre a população mais madura pode estar relacionado aos efeitos cumulativos dos hábitos ao longo da vida.

“Se o indivíduo fez o uso abusivo de álcool por anos, ele pode não sentir as consequências enquanto jovem, mas vai perceber os efeitos quando estiver mais velho”, explica. Segundo a pesquisadora, existem mais de 200 doenças crônicas hoje relacionadas ao uso nocivo do álcool que atingem com frequência pessoas acima de 50 anos.

A psiquiatra e vice-presidente do Cisa, Natalia Haddad, destaca outro fator de risco para a população mais velha: o metabolismo mais lento.

“A pessoa idosa vai metabolizar o álcool de uma forma mais lenta, então a mesma dose que ele consumia quando mais jovem, é mais tóxica ao organismo nessa etapa da vida, assim como os efeitos sentidos”, detalha.

Thibes e Haddad esclarecem também que existem duas categorias de doenças associadas ao consumo de álcool: as totalmente e as parcialmente atribuíveis.

São exemplos de doenças totalmente atribuíveis ao álcool o alcoolismo e a cirrose, facilmente identificadas como relacionadas ao consumo nocivo de bebidas. Entre as doenças parcialmente ligadas ao álcool, o excesso de doses é um dos fatores, mas não o único, como certos tipos de câncer – cólon, mama, esôfago e fígado – e doenças cardíacas.

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Para identificar a influência do álcool nas mortes e internações dos brasileiros, o centro de pesquisas utilizou estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelecem porcentuais de base.

Nos acidentes de trânsito, por exemplo, a OMS calcula que cerca de 36% das ocorrências estejam ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas. “É uma parcela definida de culpa, atualizada com o passar dos anos”, explica a socióloga.

Cirrose lidera entre as causas mais frequentes de morte

Em 2023, a causa mais comum de morte por uso de álcool entre pessoas com mais de 55 anos foi a cirrose hepática (do fígado), com quase 9 mil casos registrados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em seguida, aparecem os acidentes de trânsito (3,1 mil) e a doença cardíaca isquêmica (3 mil).

Embora os homens sejam os usuários mais frequentes de álcool, o crescimento no número de vítimas fatais foi mais expressivo entre mulheres ao longo dos anos. De 2010 a 2023, as mortes aumentaram 60,4%, sobretudo por doenças parcialmente relacionadas à bebida – 97,4% em 2023. O total de casos foi mais alto entre 2020 e 2023.

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Internações crescem mais entre mulheres

Tanto entre mulheres mais velhas quanto na população feminina em geral, houve crescimento de internações superior ao registrado entre homens. Para Thibes, uma das razões está ligada à maior sensibilidade ao álcool.

O corpo feminino é mais suscetível aos danos do álcool, e os impactos podem surgir antes, mesmo com um consumo menor do que o masculino”, expõe.

O destaque vai para o salto no número de internações entre mulheres mais velhas, que cresceu 97,6% em 14 anos – a maioria por doenças parcialmente atribuíveis ao álcool (96,4%), como quedas e acidentes de trânsito. Entre os homens, o avanço foi de 73%.

Uso nocivo e alcoolismo

As pesquisadoras alertam para a diferença entre o uso nocivo de álcool e o alcoolismo. O uso abusivo, que pode resultar em doenças crônicas na velhice, é comum no Brasil, como explica Thibes. É considerado nocivo o uso, por exemplo, quando a pessoa vai em uma festa, em churrasco e bebe muito, fica embriagado, mesmo que de forma esporádica.

“Se eu sou mulher e tomo mais de quatro doses de álcool, e aqui entende-se dose como um copo de cerveja ou uma taça pequena de vinho, em uma mesma ocasião, isso já vai refletir significamente na minha saúde, principalmente a longo prazo”, detalha a socióloga.

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Já o alcoolismo é classificado pela literatura médica como doença crônica, ligada à dependência do álcool. “Vale reforçar que o alcoolismo não é uma doença ligada somente às pessoas idosas. Temos muitos jovens e adultos que convivem com a dependência”, reforça Haddad.

Existe dose segura?

Pelos parâmetros adotados pelo Cisa, em conformidade com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considera-se uso nocivo de álcool, de forma geral:

  • Mais de quatro doses de álcool consumidas em uma mesma ocasião, para mulheres;
  • Mais de cinco doses de álcool consumidas em uma mesma ocasião, para homens.

As pesquisadoras reforçam que essa é uma estimativa e que bebidas alcoólicas não devem ser consumidas todos os dias.

Quais são os sinais de dependência?

A psiquiatra Natalia Haddad descreve como sinais de dependência mudanças significativas no comportamento do usuário. “Um dos maiores desafios é o estigma e o tabu que cercam o alcoolismo. As pessoas muitas vezes demoram a reconhecer a doença e a procurar ajuda porque ela é associada a uma falha de caráter, mas ela não é”, esclarece. São sinais de alerta:

  • Brigar com familiares ou envolver-se em confusão com frequência;
  • Bater o carro ou se envolver em acidentes de trânsito por dirigir embriagado;
  • Dificuldade de cumprir metas relacionadas ao consumo de bebidas, como parar de beber ou reduzir a frequência.

Procure ajuda

O Cisa recomenda que as pessoas que precisem de ajuda busquem apoio no Alcoólicos Anônimos, que possui canais rápidos e efetivos de auxílio. Para acessar o site clique aqui

O Brasil possui Centros de Atenção Psicossocial (Caps) especializados no atendimento de pessoas com dependência de álcool, que podem fazer o primeiro acolhimento. Esses centros são gratuitos e estão espalhados por todo o território nacional, em bairros residenciais.

Para atendimentos sem sair de casa, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o Disque 132, para orientação de dependentes e familiares. Para apoio emocional, é possível discar 188, do Centro de Valorização da Vida (CVV), com atendimento 24 horas.

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