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Mulheres e álcool: consumo cresce no Brasil e falta tratamento

Foto: Envato Elements

O drama vivido por Heleninha reflete a realidade de milhões de mulheres no País - Foto: Envato Elements
O drama vivido por Heleninha reflete a realidade de milhões de mulheres no País

Por Beatriz Duranzi

redacao@viva.com.br
Publicado em 17/10/2025, às 08h48
São Paulo, 17/10/2025 - O consumo abusivo de álcool entre mulheres brasileiras triplicou nas últimas quatro décadas e praticamente dobrou nos últimos 20 anos, passando de 7,8% em 2006 para 15,2% em 2023, cenário que têm preocupado especialistas. Os dados são do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), e divulgados em uma reportagem da Agência Senado.
O crescimento é ainda mais expressivo entre mulheres jovens e negras, enquanto entre os homens os índices permanecem altos, porém relativamente estáveis — de 25% para 27,3% no mesmo período.
Um fato atual curioso é que, quando a novela Vale Tudo foi exibida pela primeira vez, em 1988, a personagem Heleninha Roitman retratava uma mulher em luta contra o alcoolismo e em busca de reabilitação, uma realidade que então atingia menos de 5% das brasileiras.
Quase quarenta anos depois, o drama vivido por Heleninha deixou de ser exceção e passou a refletir a experiência de milhões de mulheres no país, revelando não apenas o aumento do consumo, mas também a persistente falta de acesso a tratamento e apoio adequados.

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Por que as mulheres estão bebendo mais

Especialistas apontam que a combinação de fatores sociais, culturais e psicológicos ajuda a explicar o aumento.

Com a presença feminina cada vez maior em espaços antes dominados por homens, o consumo de álcool se tornou mais comum, e também mais aceito socialmente.

Além disso, campanhas publicitárias direcionadas ao público feminino, com bebidas associadas à elegância e ao prazer, ajudaram a glamourizar o ato de beber.

Outro ponto importante é o impacto da sobrecarga emocional e mental. Muitas mulheres lidam com jornadas duplas, responsabilidades familiares e pressões financeiras, usando o álcool como uma forma de aliviar o estresse.

Também há questões de saúde mental envolvidas: traumas, abusos e transtornos como ansiedade e depressão podem levar ao consumo excessivo e, em alguns casos, à dependência.

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Falta de tratamento e preconceito

Mesmo com o aumento do problema, poucas mulheres recebem tratamento adequado. Dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mostram que apenas uma em cada 18 mulheres com diagnóstico de dependência química está em tratamento, enquanto entre os homens essa proporção é de um para sete.

Pesquisas também indicam que o estigma e o machismo dificultam a busca por ajuda. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), realizado com grupos de Alcoólicos Anônimos (AA), revelou que muitas mulheres não se sentem à vontade em reuniões mistas, por medo de assédio e discriminação.

Para mudar esse cenário, o Projeto de Lei 2.880/2023, em tramitação no Senado, propõe a criação de um programa nacional de atenção à saúde de mulheres alcoolistas, com acompanhamento multiprofissional e interdisciplinar. O texto aguarda votação em plenário.

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Efeitos mais graves no corpo feminino

Do ponto de vista biológico, o impacto do álcool no organismo das mulheres é mais severo, mesmo com doses menores.

A metabolização mais lenta e a maior proporção de gordura corporal fazem com que o álcool permaneça por mais tempo no sangue, o que acelera o desenvolvimento da dependência. Esse fenômeno é conhecido como “telescoping”.

As consequências incluem doenças hepáticas, como cirrose e hepatite alcoólica, aumento do risco de câncer de mama, problemas cardiovasculares e transtornos mentais.

Durante a gestação, o consumo pode causar a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que afeta o desenvolvimento do bebê.

De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), o abuso de álcool é responsável por 105 mil mortes por ano no Brasil, sendo 14% de mulheres.

Entre 2010 e 2021, o número de mortes femininas relacionadas ao álcool cresceu 7,5%, enquanto entre os homens houve queda de 8%.

Um levantamento da Unifesp, divulgado pelo Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid), mostrou que em 2022 1.438 mulheres morreram em decorrência de doenças agravadas pelo álcool, em sua maioria, negras e chefes de família, o que evidencia o impacto social e econômico dessas perdas.

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Publicidade e prevenção

O tema também chegou ao Senado em outro projeto, o PL 2.502/2023, do senador Styvenson Valentim (Podemos-RN), que pretende restringir ainda mais a propaganda de bebidas alcoólicas.

Atualmente, a Lei 9.294/1996 limita a exibição de comerciais em rádio e TV entre 6h e 21h, mas apenas para bebidas com teor alcoólico acima de 13%, deixando de fora produtos populares, como cerveja e vinho.

A proposta quer ampliar as restrições para qualquer bebida com mais de 0,5% de álcool, alinhando o Brasil às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Palavras-chave cuidados mulheres saúde álcool

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