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Por Beatriz Duranzi
redacao@viva.com.brLeia também: Heleninha tem nova recaída; veja principais tratamentos para alcoolismo
Especialistas apontam que a combinação de fatores sociais, culturais e psicológicos ajuda a explicar o aumento.
Com a presença feminina cada vez maior em espaços antes dominados por homens, o consumo de álcool se tornou mais comum, e também mais aceito socialmente.
Além disso, campanhas publicitárias direcionadas ao público feminino, com bebidas associadas à elegância e ao prazer, ajudaram a glamourizar o ato de beber.
Outro ponto importante é o impacto da sobrecarga emocional e mental. Muitas mulheres lidam com jornadas duplas, responsabilidades familiares e pressões financeiras, usando o álcool como uma forma de aliviar o estresse.
Também há questões de saúde mental envolvidas: traumas, abusos e transtornos como ansiedade e depressão podem levar ao consumo excessivo e, em alguns casos, à dependência.
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Mesmo com o aumento do problema, poucas mulheres recebem tratamento adequado. Dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mostram que apenas uma em cada 18 mulheres com diagnóstico de dependência química está em tratamento, enquanto entre os homens essa proporção é de um para sete.
Pesquisas também indicam que o estigma e o machismo dificultam a busca por ajuda. Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), realizado com grupos de Alcoólicos Anônimos (AA), revelou que muitas mulheres não se sentem à vontade em reuniões mistas, por medo de assédio e discriminação.
Para mudar esse cenário, o Projeto de Lei 2.880/2023, em tramitação no Senado, propõe a criação de um programa nacional de atenção à saúde de mulheres alcoolistas, com acompanhamento multiprofissional e interdisciplinar. O texto aguarda votação em plenário.
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Do ponto de vista biológico, o impacto do álcool no organismo das mulheres é mais severo, mesmo com doses menores.
A metabolização mais lenta e a maior proporção de gordura corporal fazem com que o álcool permaneça por mais tempo no sangue, o que acelera o desenvolvimento da dependência. Esse fenômeno é conhecido como “telescoping”.
As consequências incluem doenças hepáticas, como cirrose e hepatite alcoólica, aumento do risco de câncer de mama, problemas cardiovasculares e transtornos mentais.
Durante a gestação, o consumo pode causar a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que afeta o desenvolvimento do bebê.
De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), o abuso de álcool é responsável por 105 mil mortes por ano no Brasil, sendo 14% de mulheres.
Entre 2010 e 2021, o número de mortes femininas relacionadas ao álcool cresceu 7,5%, enquanto entre os homens houve queda de 8%.
Um levantamento da Unifesp, divulgado pelo Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid), mostrou que em 2022 1.438 mulheres morreram em decorrência de doenças agravadas pelo álcool, em sua maioria, negras e chefes de família, o que evidencia o impacto social e econômico dessas perdas.
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O tema também chegou ao Senado em outro projeto, o PL 2.502/2023, do senador Styvenson Valentim (Podemos-RN), que pretende restringir ainda mais a propaganda de bebidas alcoólicas.
Atualmente, a Lei 9.294/1996 limita a exibição de comerciais em rádio e TV entre 6h e 21h, mas apenas para bebidas com teor alcoólico acima de 13%, deixando de fora produtos populares, como cerveja e vinho.
A proposta quer ampliar as restrições para qualquer bebida com mais de 0,5% de álcool, alinhando o Brasil às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
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