Câncer de mama deve atingir mais de 73 mil brasileiras até o fim de 2025; saiba como se prevenir

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O Brasil deve encerrar o ano de 2025 com mais de 73 mil novos casos de câncer de mama - Foto: Envato Elements
O Brasil deve encerrar o ano de 2025 com mais de 73 mil novos casos de câncer de mama

Por Beatriz Duranzi

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Publicado em 05/06/2025, às 08h24

O Brasil deve encerrar o ano de 2025 com mais de 73 mil novos casos de câncer de mama, de acordo com projeções do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O número, 73.610 novos registros, representa um risco estimado de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres, consolidando a doença como o tipo de câncer mais comum entre as brasileiras, excetuando-se os tumores de pele não melanoma.

A estimativa reflete uma tendência crescente observada nos últimos anos, acompanhada de um dado preocupante: a mortalidade também está em ascensão. Um estudo publicado na revista científica BMC Cancer apontou que, entre 2000 e 2021, o número de óbitos por câncer de mama no país passou de 10,5 para 11,8 mortes por 100 mil mulheres.

Um país dividido pela desigualdade

O mapa da doença no Brasil revela desigualdades regionais significativas. O risco estimado de câncer de mama é mais alto no Sudeste, com 84,46 casos a cada 100 mil mulheres, enquanto no Norte esse número cai para 24,99. Regiões como o Sul (71,44), Centro-Oeste (57,28) e Nordeste (52,20) ficam em posições intermediárias.

Essas disparidades refletem mais do que apenas diferenças demográficas ou ambientais: mostram a desigualdade no acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento oncológico. Em 2024, 41% das pacientes começaram o tratamento após o prazo de 60 dias estipulado pela Lei nº 12.732/2012, uma janela crítica que pode comprometer seriamente as chances de cura.

Jovens cada vez mais afetadas

Tradicionalmente associada a mulheres acima dos 50 anos, a doença tem avançado também entre as mais jovens. A mortalidade entre mulheres com menos de 40 anos teve um crescimento anual médio de 1,8%, três vezes superior ao aumento observado na faixa de 50 a 69 anos.

Essa faixa etária enfrenta obstáculos específicos: não é contemplada pelos programas públicos de rastreamento e possui maior densidade mamária, o que dificulta a detecção de alterações nos exames de imagem. Além disso, os tumores em mulheres jovens tendem a ser mais agressivos e de evolução mais rápida.

Mulheres negras em maior vulnerabilidade

Outra dimensão alarmante da crise do câncer de mama no Brasil é a desigualdade racial. Entre 2000 e 2020, a mortalidade entre mulheres negras cresceu 2,3% ao ano, quase quatro vezes mais que entre as mulheres brancas (0,6% ao ano), segundo o Inca.

Essa diferença revela o peso das estruturas sociais e econômicas desiguais, que expõem as mulheres negras a mais barreiras para a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado. Em muitos casos, elas vivem em regiões com menor oferta de serviços especializados e enfrentam dificuldades para acessar informações de saúde e cuidados contínuos.

Barreiras pessoais e falhas do sistema

Um levantamento da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp) com 437 mulheres revelou as múltiplas barreiras que afastam as pacientes da prevenção. Entre os motivos pessoais, destacam-se o medo do diagnóstico, o constrangimento, a falta de tempo e a falsa sensação de segurança por não apresentarem sintomas.

No campo institucional, o sistema público também enfrenta entraves: demora para agendar exames, longos tempos de espera e falhas no encaminhamento. Como resultado, muitas pacientes chegam aos serviços de saúde com a doença em estágio avançado, o que reduz as opções terapêuticas e a chance de sobrevida.

O DataSUS mostrou que em estados como o Acre, 57% dos casos ultrapassaram o limite legal de 60 dias para início do tratamento. No Rio Grande do Sul, o índice também é preocupante, com 33% de atrasos.

Cenário global

A Agência Internacional para Pesquisa de Câncer (IARC) projeta um cenário ainda mais preocupante para as próximas décadas: até 2050, o mundo pode registrar 3,2 milhões de novos casos anuais de câncer de mama e 1,1 milhão de mortes. Isso representaria um aumento global de 38% nos diagnósticos e 68% nos óbitos.

Atualmente, o planeta já contabiliza 2,3 milhões de novos casos e 670 mil mortes por ano. No Brasil, o crescimento na incidência entre 2008 e 2017 foi de 1% a 5% ao ano, de acordo com relatório da IARC publicado na revista Nature Medicine.

Como se prevenir?

Diante dos limites do modelo tradicional, que depende da iniciativa da paciente para procurar o serviço de saúde, São Paulo desenvolveu uma nova estratégia.

O projeto ConeCta-SP, iniciado em 2022, aposta em uma abordagem ativa: agentes de saúde das unidades básicas identificam mulheres da faixa etária de risco e as convocam diretamente para exames preventivos.

A proposta busca romper o ciclo de atraso e invisibilidade, principalmente em áreas mais vulneráveis. A expectativa é que esse modelo possa inspirar políticas públicas em outros estados, contribuindo para reduzir a mortalidade e melhorar os índices de diagnóstico precoce para o câncer de mama.

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