Essa fruta brasileira pode ajudar a evitar a obesidade, revela estudo

Além do sabor marcante e da forte ligação com a identidade brasileira, a jabuticaba tem mostrado um potencial surpreendente para a saúde, especialmente no combate à obesidade. 

Um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP) revelou que compostos presentes principalmente nas sementes da fruta têm ação anti-inflamatória e podem contribuir para prevenir o acúmulo de gordura corporal.

A pesquisa, liderada pela nutricionista Gabriela Cunha como parte de sua dissertação de mestrado, foi realizada no Laboratório de Compostos Bioativos da FCF-USP, sob orientação da professora Maria Inés Genovese e em colaboração com o professor André Marette, da Universidade Laval, no Canadá. O trabalho recebeu apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O foco do estudo foram os elagitaninos, um tipo de composto fenólico encontrado em alta concentração nas sementes da jabuticaba. Esses compostos são conhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, características que os colocam entre os principais aliados da saúde metabólica.

Compostos fenólicos estão presentes em diversos alimentos vegetais, como chá verde, cacau, uvas e frutas vermelhas. No caso da jabuticaba, o destaque vai para a ação específica dos elagitaninos na prevenção de alterações metabólicas ligadas ao excesso de peso, como a resistência à insulina, o colesterol elevado e a inflamação sistêmica.

Um experimento com elagitaninos

Para avaliar os efeitos desses compostos no organismo, a equipe de pesquisa desenvolveu um experimento com 60 camundongos, divididos em quatro grupos. Durante oito semanas, os animais receberam uma dieta com alto teor de gorduras e açúcares, simulando os hábitos alimentares modernos que favorecem o desenvolvimento da obesidade.

Dois desses grupos receberam suplementos com compostos fenólicos da jabuticaba. No primeiro grupo, foram administrados todos os compostos, incluindo os elagitaninos. No segundo, os animais receberam a maioria dos compostos, com exceção dos elagitaninos da semente. Um terceiro grupo seguiu uma dieta equilibrada, e o quarto consumiu apenas a dieta hipercalórica, sem nenhum tipo de suplemento.

Os resultados foram surpreendentes: os camundongos que receberam todos os compostos fenólicos da jabuticaba, mesmo com uma alimentação rica em gorduras e açúcares, mantiveram indicadores de saúde semelhantes aos dos animais que seguiram a dieta equilibrada. Por outro lado, os que não ingeriram os elagitaninos apresentaram os mesmos efeitos negativos dos que não receberam nenhum suplemento.

O achado mais importante da pesquisa foi a comprovação do papel essencial dos elagitaninos na prevenção da obesidade e dos distúrbios metabólicos associados”, explica Gabriela Cunha ao Jornal da USP.

A obesidade como desafio global

Estudos como esse ganham ainda mais relevância diante dos números alarmantes da obesidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022, 2,5 bilhões de adultos com 18 anos ou mais estavam acima do peso, incluindo mais de 890 milhões de adultos que viviam com obesidade. No Brasil, a tendência segue o mesmo rumo, com taxas crescentes de obesidade em todas as faixas etárias.

Embora os benefícios da jabuticaba já sejam conhecidos em diversas culturas tradicionais, o estudo da USP traz uma abordagem inovadora ao destacar o potencial das sementes, muitas vezes descartadas no consumo comum da fruta. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de suplementos naturais ou alimentos funcionais à base de extratos da fruta, especialmente voltados à prevenção da obesidade e de doenças metabólicas.

Além de valorizar a jabuticaba, um fruto tipicamente brasileiro, a pesquisa contribui para a busca por alternativas mais saudáveis e naturais no enfrentamento de um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade.