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São Paulo, 29/09/2025 - Cansaço físico e mental constante, irritabilidade, distanciamento emocional, falta de motivação para projetos e até problemas de saúde, como dores de cabeça e insônia, estão entre os sintomas que podem acender um alerta sobre saúde mental no ambiente corporativo. Uma pesquisa recente realizada pela empresa da área de psicologia Telavita, revela que a área de Tecnologia da Informação (TI) lidera o ranking de Síndrome de Burnout entre os setores avaliados.
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Segundo a análise, 42,5% dos profissionais de TI apresentam burnout completo, que representa um quadro consolidado, com sintomas de esgotamento físico e emocional. Outros 38,1% relatam sintomas claros de esgotamento. A pesquisa, realizada com 4.440 profissionais de diferentes níveis hierárquicos e setores econômicos, também revelou que mais da metade dos jovens de 18 a 25 anos (51,94%) já inicia a carreira em estado de esgotamento.
Para o médico do trabalho e gestor de saúde ocupacional, Dr. Phelipe Felício, de forma geral, observa-se na área uma sobrecarga de trabalho marcada por jornadas extensas, pressão por resultados e pela cultura de entregas rápidas, muitas vezes acompanhada da falta de reconhecimento.
“A área de TI sustenta a digitalização de praticamente todos os negócios, mas convive com altas demandas, prazos curtos e constante pressão por inovação, reforçando uma cultura de alta performance. Além disso, atividades como implantação de sistemas, segurança cibernética e suporte exigem disponibilidade contínua. A lógica de que ‘o sistema não pode parar’ gera uma sensação permanente de prontidão, com pouco espaço para erros ou falhas, o que aumenta a ansiedade”.
A mentora e palestrante de carreira Patricia Nagase acredita que a falta de clareza sobre valores e limites pessoais tem levado os profissionais de TI a viverem em ritmo acelerado até o ponto da exaustão. “O resultado aparece nos crescentes índices de burnout no setor: reflexo direto da alta pressão e da dificuldade de reconhecer quando é hora de pausar. Quando o corpo e a mente deixam de sustentar a demanda, a conta chega — e muitas vezes tarde demais."
Felício ressalta que outro ponto crítico é a conectividade constante. “São chamados fora do horário, mensagens urgentes e a sensação de estar sempre de plantão que comprometem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Soma-se a isso o isolamento social e a comunicação limitada, fatores que, como mostra a literatura científica, impactam de forma significativa a saúde mental. Há também um gap entre as demandas técnicas e o suporte organizacional disponível, o que agrava o risco de esgotamento."
De acordo com Gilberto Reis, COO da Runtalent, empresa de Soluções Digitais, o cuidado com a saúde mental precisa partir da liderança das empresas.
“Ignorar esses dados pode não apenas comprometer a saúde de um colaborador, mas também desmotivar um time inteiro. É fundamental mapear os sinais de esgotamento, direcionar intervenções personalizadas, acompanhar de perto os níveis de proteção contra a exaustão e garantir que o ambiente de trabalho seja sempre um espaço de crescimento, nunca um lugar nocivo."
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia reconhecido, em 2019, o burnout como resultado de estresse crônico no ambiente de trabalho. Em janeiro de 2022, o transtorno passou a ser classificado como doença ocupacional, reforçando a gravidade da condição. Na área de TI, Felício defende que o burnout precisa ser reconhecido como um risco estratégico para as empresas, já que afeta diretamente a produtividade, a capacidade de inovação e a retenção de talentos.”
A solução, diz ele, passa pela adoção de uma gestão mais humana, que estabeleça limites claros para a jornada de trabalho, ofereça maior apoio emocional, valorize o papel estratégico da tecnologia e promova ambientes sustentáveis que favoreçam a saúde e o bem-estar dos profissionais.
Além da área de TI, a pesquisa mostrou os níveis críticos em outros setores:
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