São Paulo, 01/10/2025 - Uma pesquisa divulgada ontem mostra que 14% da população ainda compra produtos de limpeza em canais informais, o que representa mais de R$ 5 bilhões em saneantes clandestinos. Em comparação, o faturamento anual do setor industrial formal, de uso doméstico, está em R$ 38,16 bilhões.
Para Juliana Marra, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e Profissional (Abipla), o problema tem duas faces. “Os produtos falsificados trazem ineficácia e uma falsa sensação de economia para a população. Além do risco direto à saúde, a informalidade gera concorrência desleal, precariza o mercado e impede a arrecadação de impostos que deveriam retornar às políticas públicas. Precisamos combatê-la porque seu custo humano e financeiro é altíssimo.”
Os dados fazem parte da 3ª edição da Pesquisa Nacional sobre a Informalidade em Produtos de Limpeza, que entrevistou 1.219 pessoas nas cinco regiões. publicada em conjunto pela Abipla e pela Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional (Abralimp). A pesquisa
Dentre os principais canais de consumo desse tipo de produto estão os caminhões que vendem a granel, opção utilizada por 8% dos consumidores. Na maioria dos casos, esses veículos circulam ao menos duas vezes por mês, estimulando fidelização e compras recorrentes, diz a pesquisa. A prática não é regulamentada no País.
Dentre os motivos que levam às compras de produtos clandestinos, os entrevistados destacaram a necessidade de limpar sujidades específicas, como pelos de animais domésticos, manchas de gordura e mofo, dentre outros. Nesses casos, a busca por produtos mais específicos e o acesso facilitado pelas vias informais contribuem para a prática, assim como o valor mais acessível.
O estudo mapeou os hábitos de consumo em lares e empresas e mostra que o crescimento desse tipo de consumo apresenta um aumento de 3% após um período de queda, mostrando que a informalidade segue como um desafio estrutural para o setor.
Durante o evento de lançamento da pesquisa, Kelly Dias Botelho, gerente de inspeção e fiscalização sanitária de alimentos, cosméticos e saneantes, da Anvisa, disse que nos últimos cinco anos, a agência reguladora recebeu cerca de 700 denúncias sobre saneantes, e metade era de produtos irregulares. "Mais do que punir, precisamos educar tanto o mercado quanto a população", defendeu.
Informalidade cresce em empresas
No mercado de limpeza profissional, que atende hospitais, restaurantes, hotéis, escolas, indústrias e agronegócio, a pesquisa ouviu 700 empresas e mostra que 20% delas compram produtos de forma parcial ou exclusiva em canais informais, número maior do que o registrado em 2021 (17%) e 2024 (18%).
Para Nathalia Tiemi Ueno, presidente da Abralimp, o cenário é preocupante. “Produtos ou serviços fora de conformidade aumentam riscos sanitários, comprometem contratos, prejudicam a concorrência leal e, sobretudo, colocam em risco a saúde e a segurança da população. É por isso que defendemos um setor mais integrado, profissional e ético, no qual rastreabilidade e qualidade sejam valores inegociáveis.”
Assim como no setor doméstico, as empresas que mais recorrem ao mercado clandestino buscam produtos específico para sujidades mais difíceis, como resíduos industriais ou manchas em tecidos, e acabam buscando produtos mais “fortes”. Entre eles, aparecem desinfetantes hospitalares, desengraxantes e saneantes para roupas.
Riscos de intoxicação
O risco de intoxicação é um dos principais alertas da pesquisa em relação ao consumo de produtos clandestinos. Sintomas como tontura, dores fortes de cabeça e falta de ar são os mais citados por pessoas que utilizando esses produtos, mostra a pesquisa. De 2024 para 2025, o aumento desses casos subiu 26 pontos percentuais, mostra a pesquisa.
Dentre os produtos mais misturados estão bicarbonato de sódio, vinagre e álcool, o que pode causar desde sintomas pontuais até desmaios e internações. Outros produtos citados nas "misturinhas caseiras" são limão, removedor, sal, óleo essencial, amônia, café e azeite de oliva.