Facebook Viva Youtube Viva Instagram Viva Linkedin Viva

A certificação digital pode solucionar a falsificação de bebidas?

Envato

O uso de inteligência artificial e blockchain podem viabilizar a fiscalização em escala das bebidas, defende especialista - Envato
O uso de inteligência artificial e blockchain podem viabilizar a fiscalização em escala das bebidas, defende especialista
Felipe Cavalheiro*
Por Felipe Cavalheiro* felipe.cavalheiro@viva.com.br

Publicado em 17/10/2025, às 08h00

São Paulo, 17/10/2025 - A confirmação de mais um caso de morte por intoxicação por metanol em SP abalou a confiança da população na compra de bebidas. Para garantir a procedência de uma garrafa, uma solução pode estar na certificação digital. Por meio de tecnologia avançada, um sistema poderia garantir que todos envolvidos na produção e distribuição agiram legalmente, e aplicaram todos os processos declarados. 

Leia também: Associações ensinam técnicas para identificar bebidas adulteradas

O especialista em inteligência artificial e rastreabilidade, Rafael Mandia, diretor de operações da empresa Blockforce, explica que a certificação digital possibilita o rastreio fiscal, verificando todo o histórico da bebida. Inviabilidade da certificação física

Para combater a falsificação, a primeira possível seria um certificado impresso fisicamente, exclusivo para cada garrafa. Por exemplo, um "QR Code" diferente em cada uma poderia ser impresso, levando o consumidor ao certificado de autenticidade do produto. 

Mandia afirma que, apesar de ser o método ideal, o custo é um problema. Ainda que seja aplicável em certas indústrias, que têm produtos bem mais caros e únicos, a produção das bebidas exige uma fabricação em larga escala, com milhões de produtos iguais. 

"Sou muito fã da certificação física, mas ela não foi aplicada em praticamente nenhuma indústria em grande escala.  Mas para imprimir um código diferente em milhares de bebidas, o preço de uma garrafa subiria muito. Será que o consumidor quer pagar por isso?"

Como teste empírico, o Brasil já teve o Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe). Regulamentado em 2008 e descontinuado em 2016, quando abrangia quase 300 empresas, o Sicobe criava uma "assinatura digital" para as garrafas. O método, no entanto, era ineficiente e outras auditorias custavam menos de 1% do valor.

Segundo o estudo "O impacto na implementação do Sicobe nos custos de controle e contribuições sociais: uma evidenciação na auditoria de produção das empresas do setor de bebidas", da Universidade Federal de Santa Catarina, o gasto com a certificação podia ser abatido dos impostos, e R$ 1 bilhão deixou de ser arrecadado a cada ano. Este custo, segundo a autora do estudo, Natália Kirchner de Azevedo, "recai para o consumidor e toda a sociedade". 

Como funciona a certificação digital? 

Ao contrário de um rastreio físico, a certificação digital funciona integrando a documentação emitida por todos os envolvidos até que a bebida chegue ao copo do consumidor.  Além de dificultar a falsificação, expondo qualquer irregularidade, ela pode fornecer outros detalhes da produção, como impactos ambientais ou as fazendas responsáveis pela matéria-prima. 

Mandia explica que, para operar, um sistema de certificação digital usa principalmente duas tecnologias: blockchain e inteligência artificial. A primeira, mesma técnica usada nas bitcoins, mantém as informações imutáveis e descentralizadas, sem depender de um único fiscal. Já a IA automatiza a verificação de normas e identifica padrões dos fornecedores. 

Pressão de custos

Com todas as tecnologias para a certificação digital já presentes, e um custo baixo em comparação à certificação física, por que não aplicá-la à logística das bebidas? Para Mandia, as empresas ainda não pensam no médio prazo, apenas no curto, resistindo ao gasto imediato, ainda que aumente a confiança do consumidor. 

O especialista complementa que a implementação de um sistema como esse deve ser gradual, e começar cobrando das grandes empresas, esperando que chegue naturalmente aos pequenos vendedores, que ainda não têm estrutura para aplicá-lo. Como exemplo, ele aponta a lei europeia.  Firmada em 2023, ela será aplicada somente em 2027, dando tempo ao mercado para se preparar. 

Por fim, Mandia reforça que essa pressão deve vir, principalmente, do consumidor. Segundo ele, a maior preocupação do cliente brasileiro é o preço, que ofusca as demais exigências, mas o cenário está mudando.

"O consumidor brasileiro olha o preço, compra, põe no carrinho, leva, come, bebe e não está muito interessado. Mas a parcela que tem conhecimento e se preocupa está crescendo muito rapidamente, e é responsabilidade dos líderes da indústria educar positivamente". 

*Estagiário sob supervisão da editora Luana Pavani

Palavras-chave bebidas falsificadas metanol

Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.

Gostou? Compartilhe

Últimas Notícias