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Por Jessica de Holanda, especial para o VIVA
redacao@viva.com.brSão Paulo, 01/12/2025 - Neste 1º de Dezembro, Dia Mundial de Luta contra a AIDS, o panorama no Brasil é de otimismo, mas com cautela. Dados do último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (2024) mostram a menor taxa de mortalidade por AIDS desde 2013, com 3,9 óbitos para cada 100 mil habitantes.
Essa redução na mortalidade é uma consequência da melhoria tanto do perfil dos medicamentos quanto da acessibilidade a esse tratamento, que é gratuito no Sistema Único de Saúde (SUS), segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
No entanto, as faixas etárias de 20 a 29 anos concentram a maior parte dos novos diagnósticos de HIV, seguidas por um crescimento entre adolescentes de 15 a 19 anos. E, em paralelo, preocupa o aumento de diagnósticos tardios em pessoas acima dos 50 anos, faixa etária que muitas vezes não se percebe em risco e chega aos serviços de saúde tardiamente, com a saúde já comprometida.
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Mas independente da idade, a expectativa de vida de pessoas que vivem com HIV em tratamento pode ser igual ou até maior do que a daquelas que não convivem com o diagnóstico, explica o médico infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Bernardo Porto Maia: "Isso ocorre porque essas pessoas, quando diagnosticadas e tratadas precocemente, se inserem num contexto de cuidado com a própria saúde que não é comum em outras populações", afirma.
Maria Helena*, de 72 anos, contraiu o vírus ainda nos anos 90 e se orgulha em dizer que a vida “não terminou ali”: “Encontrei crescimento nisso tudo. Tenho três filhos, netos, não sei como seria minha vida se fosse diferente. Me trato, caminho todos os dias, continuo tendo uma vida saudável”.
Além do caso dela, para muitos pacientes, o acompanhamento médico regular também permite o diagnóstico precoce de outros problemas de saúde, como hipertensão ou diabetes, garantindo um monitoramento integral.
A terapia antirretroviral, que no passado exigia diversos comprimidos com efeitos colaterais severos, evoluiu para regimes mais simples, seguros e potentes. "Hoje, pessoas que vivem com HIV e têm um bom controle virológico conseguem conviver com essa condição com apenas dois medicamentos, e inclusive estes dois co-formulados em um único comprimido", explica o médico do Emílio Ribas.
Isso significa que muitos pacientes mantêm o vírus sob controle tomando apenas um comprimido por dia. O futuro é ainda mais promissor com a chegada dos antirretrovirais de longa ação. "A gente já tem aprovado, por exemplo, o cabotegravir para profilaxia [PrEP] com injeções bimestrais", diz Porto Maia. Embora já disponível na rede privada, a versão injetável para tratamento e prevenção ainda aguarda incorporação pelo SUS.
Essa inovação pode substituir a tomada diária de comprimidos por uma injeção aplicada a cada um ou dois meses, aumentando a comodidade e a adesão ao tratamento, um benefício significativo para pacientes de todas as idades, incluindo os mais idosos que já fazem uso de outras medicações.
A prevenção ao HIV também se modernizou e hoje vai além do preservativo, fundamental para evitar outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
O SUS oferece um pacote completo, que inclui preservativos interno e externo, distribuídos gratuitamente nas unidades de saúde; a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), com medicamentos que devem ser iniciados em até 72 horas após uma situação de risco, por 28 dias; e a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), de uso diário por pessoas com maior vulnerabilidade ao HIV, reduzindo drasticamente o risco de infecção.
A testagem regular também é fundamental para o diagnóstico precoce em todas as faixas etárias e está disponível nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centros de Testagem (CTA).
*Nome fictício, a pedido
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