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São Paulo, 23/11/2025 - Pessoas com 65 anos ou mais já passam mais de três horas por dia na internet e, quando se somam TV e dispositivos digitais, acumulam mais horas de tela do que jovens adultos, segundo a Ofcom, reguladora oficial de indústrias de comunicações do Reino Unido. Essa tendência ajuda a entender a rotina de aposentados conectados a celulares, computadores e tablets, e abre um debate sobre bem-estar digital.
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Para a coordenadora de Gerontologia da EAD UniCesumar, Maria Cristina Cunha, o crescimento é resultado de uma combinação de fatores: inclusão digital acelerada, especialmente após a pandemia, busca de pertencimento e companhia no dia a dia e a conveniência de resolver a vida por aplicativos. “O uso da tecnologia deixou de ser periférico e entrou na rotina de muitos idosos, como conversar com a família no WhatsApp, ver vídeos, acompanhar notícias, fazer consultas e pagamentos, tudo no mesmo aparelho”, aponta a especialista.
A professora explica que há uma relação variável entre o uso das telas e a solidão. Enquanto em alguns casos, a internet diminui o isolamento, em outros ela torna as interações mais superficiais, reduzindo saídas e encontros presenciais. Para esses casos, ela faz algumas recomendações.
“Um ponto de atenção é quando aparecem sinais de prejuízo funcional, como a piora do sono, refeições apressadas, irritabilidade ao tentar reduzir o tempo online e o abandono de compromissos presenciais. Nesses casos, valem rotinas com horários, pausas ativas e conversas francas sobre segurança e golpes, além de acompanhamento profissional quando necessário”.
O alerta já tem evidências em estudos internacionais. Na Coreia do Sul, a pesquisa Smartphone Overdependence Survey 2022 estimou que 15% das pessoas de 60 a 69 anos estavam em risco de dependência do celular. A pesquisa reforça que o problema não é exclusivo de adolescentes e pede atenção para o vício em telas no público idoso.
Do lado dos hábitos de mídia, há mudanças importantes antes mesmo dos 65 anos. Segundo a empresa GWI, que realiza pesquisa de consumidores e tem sede em Londres e Nova York, enquanto o consumo de mídias tradicionais permanece estável pelo público 50+, o de streaming e redes sociais segue em crescimento.
O professor de Mídias Digitais da EAD UniCesumar, Gabriel Calvi, explica que os formatos que melhor conversam com essa faixa etária combinam utilidade prática (tutoriais, serviços), nostalgia, convivência familiar, além de saúde e finanças. Ele destaca o papel de plataformas como WhatsApp, Facebook, YouTube e Instagram, usadas para informar, entreter e manter vínculos, ao mesmo tempo em que cresce a presença de influenciadores 60+.
Para Calvi, o caminho não é problematizar o uso de telas para as pessoas idosas, mas que elas sejam usadas com intenção e responsabilidade.
“No cenário atual, é muito importante que regras simples sejam estabelecidas para o uso saudável da tecnologia, como horários combinados, pausas, encontros presenciais na agenda e trilhas de verificação de segurança”.
Estagiário sob supervisão de Luana Pavani
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