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Por Felipe Cavalheiro*
redacao@viva.com.brSão Paulo, 09/10/2025 - A capacidade de manter o foco por longos períodos tem diminuído de forma consistente nas últimas décadas. O que antes parecia uma questão de disciplina ou hábito, hoje é compreendido pela neurociência como uma transformação estrutural do cérebro.
A pesquisadora americana Gloria Mark, especialista em atenção, conseguiu medir esta perda: em pesquisa para seu livro intitulado "Attention Span" , ela relevou que, entre 2004 e 2023, o tempo que conseguimos dedicar de atenção a telas caiu de 2,5 minutos para 47 segundos. Ou seja: menos de um terço do tempo no começo do século.
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De acordo com o neurologista Marcelo Masruha, o design das plataformas digitais, com notificações, vídeos automáticos, feeds infinitos e recompensas rápidas, remodelou o modo como o cérebro processa e prioriza informações. “Esses estímulos constantes ativam o sistema de recompensa e tornam o cérebro mais dependente de novidades. O resultado é a perda da capacidade de se manter em uma mesma tarefa por muito tempo”, explica.
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Desde 2012, com a popularização do feed infinito e dos algoritmos que priorizam conteúdos de alto engajamento, o ambiente digital passou a explorar diretamente os circuitos de dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de prazer e motivação. O médico observa que o mecanismo é proposital.
“Cada rolagem de tela, cada curtida ou notificação, gera um pequeno pico de prazer. É um mecanismo que reforça o comportamento e estimula o consumo contínuo de informação, mesmo sem necessidade real”
Segundo ele, o impacto vai muito além da distração momentânea. A exposição constante a estímulos fragmentados enfraquece a memória de trabalho, reduz a tolerância ao tédio e aumenta os níveis de ansiedade. “Com o tempo, o cérebro se adapta a esse padrão, tornando-se mais impulsivo e menos resiliente. Passamos a buscar recompensas rápidas e evitamos atividades que exigem foco prolongado, como leituras extensas, estudo ou planejamento.”
Mas há caminhos para reverter esse processo, segundo o neurologista.
“O foco é um recurso biológico valioso, e protegê-lo é uma escolha consciente”, conclui Masruha. “Nosso desafio hoje não é ter mais informação, e sim reaprender a direcionar a mente em meio a tanto estímulo.”
*Estagiário sob supervisão de Luana Pavani
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