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Por Beatriz Duranzi
redacao@viva.com.brSão Paulo, 08/08/2025 - Ainda no século 21, o preconceito religioso continua sendo uma realidade enfrentada por muitos trabalhadores - especialmente aqueles que seguem religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, mas também com qualquer tipo de crença. E são várias no País, um estado laico, em que convivem praticamentes de cristianismo, judaísmo, protestantes, entre tantas outras religiões.
O ambiente de trabalho, que deveria ser um espaço de respeito e diversidade, muitas vezes se transforma em palco de ofensas veladas, piadas discriminatórias e até represálias diretas contra quem expressa sua fé.
Casos assim acendem o alerta: como identificar esse tipo de violência e o que fazer diante dela?
O racismo religioso acontece quando uma pessoa é discriminada por seguir uma religião que tem origem em tradições africanas ou indígenas.
Essas manifestações de preconceito se revelam de várias formas, desde comentários ofensivos e piadas, até a exclusão de oportunidades, mudanças de setor ou punições injustas após a exposição de crenças.
Apesar de muitas vezes disfarçado de “brincadeira”, esse tipo de comportamento é grave e ilegal. Ele reforça estigmas históricos e nega a liberdade religiosa garantida pela Constituição Federal.
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A legislação brasileira, por meio da Lei nº 9.029/1995, proíbe qualquer prática discriminatória por motivo de religião, raça, gênero ou origem no contexto profissional.
Se a empresa não tomar providências após ser informada de uma situação de racismo religioso, ela também pode ser responsabilizada judicialmente.
Além de indenizações individuais, a empresa pode sofrer:
Por isso, é essencial que as empresas invistam em programas de diversidade, criem comitês internos e promovam capacitações que envolvam questões raciais e religiosas.
As situações mais comuns relatadas por trabalhadores incluem:
Em muitos casos, o preconceito é sutil e constante, o que pode dificultar a percepção imediata. Mas seus efeitos se acumulam e afetam a saúde emocional e o rendimento do trabalhador.
A primeira atitude seja documentar tudo. Anote datas, horários, falas, nomes de testemunhas e, se possível, salve mensagens ou prints de conversas. Essas evidências são fundamentais para futuras ações.
A denúncia pode (e deve) ser feita em múltiplas frentes:
É possível denunciar de forma anônima em alguns canais. O importante é não silenciar.
O combate ao racismo religioso não se resume a punir os culpados. É preciso educar, dialogar e transformar a cultura corporativa. Isso inclui:
Quando o preconceito religioso se soma ao racismo de gênero, o impacto é ainda mais profundo. Mulheres negras que seguem religiões de matriz africana enfrentam maior vulnerabilidade: além do preconceito religioso e racial, ainda lidam com as piores remunerações e menos oportunidades de ascensão profissional.
Segundo levantamento dos Ministérios da Mulher e do Trabalho, essas profissionais chegam a receber menos da metade do salário de homens brancos, o que torna urgente a criação de políticas corporativas mais inclusivas e justas.
Racismo religioso é crime. Denunciar é um ato de coragem, e de proteção a todos.
É fundamental entender que religião não deve ser motivo de vergonha, muito menos de punição. Quando o preconceito entra no ambiente de trabalho, todos perdem: o trabalhador, a equipe e a própria empresa.
Reconhecer os sinais, saber como agir e exigir respeito são passos essenciais para construir ambientes verdadeiramente diversos e igualitários.
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