Racismo religioso no trabalho: como identificar e o que fazer

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Ainda é comum que trabalhadores sejam alvo de preconceito religioso - Foto: Envato Elements
Ainda é comum que trabalhadores sejam alvo de preconceito religioso

Por Beatriz Duranzi

redacao@viva.com.br
Publicado em 08/08/2025, às 08h28 - Atualizado às 10h13

São Paulo, 08/08/2025 - Ainda no século 21, o preconceito religioso continua sendo uma realidade enfrentada por muitos trabalhadores - especialmente aqueles que seguem religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, mas também com qualquer tipo de crença. E são várias no País, um estado laico, em que convivem praticamentes de cristianismo, judaísmo, protestantes, entre tantas outras religiões.

O ambiente de trabalho, que deveria ser um espaço de respeito e diversidade, muitas vezes se transforma em palco de ofensas veladas, piadas discriminatórias e até represálias diretas contra quem expressa sua fé.

Casos assim acendem o alerta: como identificar esse tipo de violência e o que fazer diante dela?

O que é racismo religioso?

O racismo religioso acontece quando uma pessoa é discriminada por seguir uma religião que tem origem em tradições africanas ou indígenas. 

Essas manifestações de preconceito se revelam de várias formas, desde comentários ofensivos e piadas, até a exclusão de oportunidades, mudanças de setor ou punições injustas após a exposição de crenças.

Apesar de muitas vezes disfarçado de “brincadeira”, esse tipo de comportamento é grave e ilegal. Ele reforça estigmas históricos e nega a liberdade religiosa garantida pela Constituição Federal.

Leia também: Por que o Dia de Combate à Discriminação Racial ainda é necessário no Brasil

A legislação brasileira, por meio da Lei nº 9.029/1995, proíbe qualquer prática discriminatória por motivo de religião, raça, gênero ou origem no contexto profissional. 

Se a empresa não tomar providências após ser informada de uma situação de racismo religioso, ela também pode ser responsabilizada judicialmente.

Além de indenizações individuais, a empresa pode sofrer:

  • Multas administrativas
  • Restrições em financiamentos públicos
  • Ações civis públicas por dano moral coletivo

Por isso, é essencial que as empresas invistam em programas de diversidade, criem comitês internos e promovam capacitações que envolvam questões raciais e religiosas.

Como o racismo religioso se manifesta no ambiente de trabalho?

As situações mais comuns relatadas por trabalhadores incluem:

  • Brincadeiras ofensivas ou piadas sobre roupas, guias, colares ou hábitos espirituais
  • Isolamento ou exclusão em reuniões, atividades ou dinâmicas de equipe
  • Recusa de promoções ou aumento de responsabilidade após o colaborador revelar sua religião
  • Hostilidade por parte de colegas ou superiores
  • Assédio moral disfarçado de orientação profissional

Em muitos casos, o preconceito é sutil e constante, o que pode dificultar a percepção imediata. Mas seus efeitos se acumulam e afetam a saúde emocional e o rendimento do trabalhador.

O que fazer se você for vítima?

A primeira atitude seja documentar tudo. Anote datas, horários, falas, nomes de testemunhas e, se possível, salve mensagens ou prints de conversas. Essas evidências são fundamentais para futuras ações.

A denúncia pode (e deve) ser feita em múltiplas frentes:

  • RH da empresa ou ouvidoria interna
  • Ministério Público do Trabalho (MPT), que tem canais específicos para esse tipo de denúncia
  • Delegacias comuns ou especializadas em crimes de discriminação
  • Centros de referência em direitos humanos ou igualdade racial

É possível denunciar de forma anônima em alguns canais. O importante é não silenciar.

A importância da conscientização

O combate ao racismo religioso não se resume a punir os culpados. É preciso educar, dialogar e transformar a cultura corporativa. Isso inclui:

  • Incluir o tema em treinamentos sobre assédio e respeito no ambiente de trabalho
  • Estimular parcerias com coletivos antirracistas e organizações de religiões de matriz africana
  • Promover ações de conscientização que abordem a liberdade religiosa como um direito humano

Discriminação atinge ainda mais mulheres negras

Quando o preconceito religioso se soma ao racismo de gênero, o impacto é ainda mais profundo. Mulheres negras que seguem religiões de matriz africana enfrentam maior vulnerabilidade: além do preconceito religioso e racial, ainda lidam com as piores remunerações e menos oportunidades de ascensão profissional.

Segundo levantamento dos Ministérios da Mulher e do Trabalho, essas profissionais chegam a receber menos da metade do salário de homens brancos, o que torna urgente a criação de políticas corporativas mais inclusivas e justas.

Racismo religioso é crime. Denunciar é um ato de coragem, e de proteção a todos.

É fundamental entender que religião não deve ser motivo de vergonha, muito menos de punição. Quando o preconceito entra no ambiente de trabalho, todos perdem: o trabalhador, a equipe e a própria empresa.

Reconhecer os sinais, saber como agir e exigir respeito são passos essenciais para construir ambientes verdadeiramente diversos e igualitários.

Serviço: onde denunciar racismo religioso no trabalho

  • Disque 100 – Canal nacional para denúncias de violações de direitos humanos
  • MPT Ouvidoriahttps://mpt.mp.br
  • Ouvidorias e canais internos da empresa
  • Delegacias comuns ou especializadas

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