São Paulo, 04/11/2025 — A inteligência artificial (IA) já faz parte da vida dos brasileiros e vem ganhando espaço nas empresas. Mas a formação tradicional ainda não acompanha o ritmo dessa transformação. É o que revela um estudo da EXEC, consultoria especializada em recrutamento e desenvolvimento de alta liderança e conselheiros.
Segundo o levantamento, que ouviu mais de 350 executivos e líderes empresariais de empresas brasileiras e multinacionais, apenas 15% consideram que cursos acadêmicos oferecem formação adequada em IA. A pesquisa mostra que a educação formal não avança na mesma velocidade que as novas tecnologias, deixando um gap educacional que vem sendo preenchido por iniciativas próprias de aprendizado. Entre os participantes, 28% buscam artigos especializados e 30% aprendem trocando experiências com colegas e amigos do mercado.
Para Rodrigo Magalhães, sócio da EXEC e especialista em Gestão do Capital Humano, o aprendizado sobre IA está acontecendo de forma colaborativa e prática.
“Os executivos buscam entender, testar e aplicar soluções diretamente nos seus negócios, aprendendo a partir de casos reais e do intercâmbio entre pares”, afirma.
Esse movimento, explica Magalhães, reflete uma característica marcante dos profissionais brasileiros: a facilidade de adaptação e aprendizado na prática. “A IA, por ser um tema em constante evolução, demanda justamente esse tipo de aprendizado contínuo e fluido, menos acadêmico e mais conectado à realidade corporativa”.
A pesquisa também mostrou a adoção da ferramenta por cargos: diretores em geral representam 30,6% do uso da IA, seguidos por CEOs (25%), diretores de operações (25%) e CFOs (19,4%). Magalhães ressalta que os gestores têm papel fundamental em orientar suas equipes para o uso seguro e ético da IA. “A cautela não pode se transformar em imobilismo. É importante criar ambientes de experimentação controlada — como laboratórios internos ou hubs de inovação —, com regras claras de segurança, ética e propósito. Assim, é possível acelerar o aprendizado sem abrir mão da governança”, diz.
Segundo Magalhães. o que diferencia um líder nos dias de hoje é a mentalidade digital, ou seja, a capacidade de entender o que está disponível no mercado de tecnologia – seja IA ou não -- e conectar essas possibilidades aos desafios da organização e traduzir isso em resultados concretos. "Essa visão é o que sustenta a tomada de decisão estratégica e a inovação contínua."
Diferentes perfis
O levantamento também traçou um panorama sobre os usos da IA nas organizações, identificando diferentes níveis de maturidade na adoção da tecnologia entre empresas brasileiras e multinacionais, além de variações por setor.
As empresas brasileiras utilizam a IA principalmente para ganhar eficiência operacional, com foco em produtividade e redução de custos. Já as multinacionais demonstram maior inclinação para reforçar inovação e governança.
“Enquanto o Brasil enxerga a IA como ferramenta de ganho imediato, as multinacionais tratam o tema como ativo estratégico de longo prazo”, ressalta.
A pesquisa mostra, ainda, que diferentes setores adotam a IA de maneiras distintas:
- Nos setores de tecnologia e varejo, 30% dos executivos usam a ferramenta para impulsionar a inovação e aumentar a produtividade;
- Em mineração, 30% a utilizam para otimizar processos;
- Em energia e agronegócio, 20% recorrem à IA para reduzir custos.
No sistema bancário, o estudo aponta que 55% dos bancos fazem uso pontual da IA em processos e no atendimento ao cliente, ainda sem integrar a tecnologia à estratégia central. Já 50% das companhias de tecnologia e educação incorporam a inteligência artificial como parte dos planos de inovação, aplicando-a em novos modelos de negócio e no desenvolvimento de competências.
Para Magalhães, essas diferenças refletem o grau de maturidade das empresas na adoção da IA. “Elas estão aprendendo a integrar essa ferramenta de forma segura, estratégica e com governança, construindo aos poucos os mecanismos necessários para capturar seu potencial sem expor riscos à competitividade ou à reputação organizacional. Para que a IA seja integrada às decisões centrais de negócio, é preciso avançar em pilares como governança de dados, proteção de informações sensíveis, ética no uso e mitigação de riscos”, afirma o executivo.