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Por Alessandra Taraborelli e Cláudio Marques
redacao@viva.com.brSão Paulo, 21/09/2025 - Em um contexto de envelhecimento acelerado da população brasileira, é possível que muitos profissionais 50+ não tenham até se preparado para ter sustentabilidade financeira e assim poder enfrentar a velhice, que cada vez mais se estende no tempo. Mas não é só possível começar agora, como necessário adotar um comportamento nesse sentido.
“O Brasil é um País que poupa pouco”, afirma Eduardo Marchiori, CEO da consultoria Mercer. A sua experiência à frente da empresa o fez observar um alto índice de burnout no mercado, atualmente. “Fomos estudar esse fenômeno e vimos que 43% desse quadro vem do estresse financeiro. Uma parte disso é consequência daquela dívida de curto prazo, mas também vem da insegurança de não se saber se a pessoa está preparada para o amanhã”, diz.
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Em vista desse cenário, ele defende que as pessoas comecem a se preparar já para o futuro. Afinal, as pessoas vão viver mais e se não tiverem recursos, devem experimentar uma situação complicada.
“Vai faltar poupança e aspressões devem ser maiores, porque os nossos pais também estão vivendo mais. É uma combinação muito complexa”, avalia.
E se não tiver dinheiro, a pessoa vai ficar mais estressada, o que acaba por incidir sobre a saúde. “E como pagar um plano de saúde, se você não poupou e está ficando mais velho?”, diz o executivo.
“É possível que, em 2040, tenhamos 50% da mão de obra com 50 anos ou mais”, afirma. E esses números dão ideia do impacto que uma situação dessas poderá vir a causar no desempenho das organizações. Tanto, diz Marchiori, que as empresas estão enxergando esse problema e se interessando cada vez mais por programas de educação financeira. “É para os profissionais com 50 anos ou mais, mas também para os jovens.”
Ele lembra que apostar nas bets e os juros altos também contribuem para compor o quadro de dificuldades, já que muitas vezes as pessoas contraem dívidas com taxas muito elevadas, o que acaba por afetar o orçamento pessoal e familiar. E o profissional 50+ tem que realmente fazer agora uma mudança no seu comportamente. “O tempo é caro”, diz.
“O tempo é caro em todos os aspectos, porque o juro é composto, porque, enfim, vivemos mais, o custo de saúde é crescente. E se uma pessoa hoje não consegue se empregar, isso, além de tudo, consome o pouco recurso que eventualmente tenha acumulado na vida. E a pressão é muito maior ali na frente (com mais idade). É uma equação que não fecha”, afirma.
Para ele, programas de educação financeira são positivos, porque ajudam na produtividade do colaborador, e também acabam por influenciar a família dele a adotar uma nova postura em relação ao dinheiro. De acordo com Marchiori, é possível e necessário, a partir dos 50 anos, começar a se preparar para a fase em que não vai haver mais acumulação de renda, caso a pessoa não o tenha feito até então.
No processo de educação financeira, os pequenos passos fazem a diferença, segundo o executivo. Ou seja, não adianta ter uma decisão pontual em dia e, por exemplo, guardar ou aplicar R$ 1 mil. É preciso ter a mesma postura todos os meses, ser resiliente. “Aí a matemática financeira ajuda muito.”
Para ele, o trabalho de conscientização é um pequeno passo, mas muito importante. “Arrumar as finanças em casa, conversar com a família, fazer escolhas”, exemplifica. Ele cita a previdência privada como uma alternativa para ajudar os trabalhadores a terem um padrão de vida mais próximo ao que tinham durante o tempo de atividade profissional.
Nesse sentido, as empresas têm um papel fundamental para apoiar seus colaboradores, oferecendo acesso não apenas a programas de educação financeira, mas também benefícios de previdência privada, que se adaptem às diferentes fases da vida.
Recente pesquisa da Mercer identificou um movimento crescente de organizações com iniciativas neste sentido: 53% de 1.007 empresas ouvidas oferecem plano de previdência privada. Entre as que não oferecem esse benefício, 49% pretendem concedê-lo nos próximos três anos.
“Temos percebido uma procura cada vez maior de funcionários aderindo aos planos oferecidos pelas empresas. Muitos já compreenderam que, provavelmente, o benefício da previdência social não será suficiente para a manutenção do padrão de vida deles na aposentadoria. Por outro lado, as empresas têm nos procurado para entender como abarcar um porcentual maior dos seus funcionários nesses planos”, pondera.
Todo esse processo implica que o profissional 50+ se mantenha na ativa. E, para isso, é preciso sempre estar se requalificando. Um outro estudo realizado pela Mercer mostra que a “adaptação é o maior desafio” para o crescimento dos negócios. De acordo com o relatório Global Talent Trends 2024-2025, para 41% dos respondentes, esse risco está relacionado com a “requalificação/melhoria de competências”, voltadas principalmente à capacidade de adaptar às mudanças tecnológicas e às novas exigências do mercado.
Para o levantamento foram entrevistados 12.400 executivos de alto escalão, líderes de RH, colaboradores e investidores em 24 mercados da América Latina (incluindo Brasil) e Caribe, Europa, EUA, Canadá, Ásia e Índia. Ainda segundo o relatório, a incapacidade de aproveitar o potencial da tecnologia e o impacto da economia da longevidade ocupam a segunda principal prioridade.
A Mercer considera que os resultados mostram que, além da necessidade de desenvolver talentos, as lideranças estão preocupadas em utilizar eficazmente as ferramentas tecnológicas disponíveis e em gerir as implicações de uma força de trabalho que está envelhecendo.
O documento também identificou que o principal objetivo dos líderes de RH neste ano, é aprimorar as habilidades dos gestores de pessoas, reforçando a importância de uma liderança empática, influente e inspiradora. Outro destaque para o período é a criação de processos de talentos em torno de habilidades, como estratégia crucial para sobrevivência e sustentabilidade das empresas.
Embora seja sabido, segundo o relatório, que a tecnologia não substitui o talento, ela redefine e eleva a importância das habilidades. Dessa maneira, torna a requalificação contínua (reskilling e upskilling) uma oportunidade.
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