Inclusão etária: supermercados investem em força de trabalho 50+
Tânia Rêgo / Agência Brasil
Por Mariana Cesário, especial para o VIVA
redacao@viva.com.brSão Paulo, 08/12/2025 - Dados do IBGE comprovam o envelhecimento da força de trabalho brasileira. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral, no terceiro trimestre de 2025, houve aumento superior a 2,4% somente no segmento de trabalhadores em situação ativa entre 40 e 59 anos, na comparação com o mesmo período de 2024: o número saltou de 40,71 milhões para 41,7 milhões. Entre os trabalhadores com 60 anos ou mais, o crescimento foi ainda maior: passou de 8,27 milhões para 8,75 milhões no mesmo período, alta de 5,81%.
Esse fenômeno é mais visível em setores intensivos em mão de obra, como o supermercadista, um dos pilares da economia nacional, que movimentou R$ 1,067 trilhão em 2024, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
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Diversas empresas do setor possuem práticas de inclusão etária. Um exemplo é o da rede Assaí, cuja política foi reconhecida ao receber o selo Age Friendly. Concedido globalmente pelo Age-Friendly Institute e implementado no Brasil pela consultoria Maturi, o certificado exige que as empresas passem por auditoria e apresentem evidências concretas de políticas estruturadas, ações continuadas e indicadores de acompanhamento.
“Estruturamos o Programa 50+ como um dos pilares da nossa estratégia de diversidade geracional. Revisamos políticas e processos já existentes e criamos iniciativas específicas para atrair e desenvolver esses profissionais. Hoje, contamos com mais de 12 mil colaboradores e colaboradoras 50+, o que representa cerca de 13% da Nossa Gente, resultado de um esforço consistente de atração, contratação e retenção desse perfil”, afirma a gerente de RH, Atratividade, Seleção, Expansão, Diversidade e Inclusão do Assaí, Tamaly Amorim.
O Grupo Pão de Açúcar (GPA), embora ainda não tenha buscado a certificação, informa que a diversidade etária faz parte da sua estratégia desde 2015. A diretora de RH, Sustentabilidade e Comunicação Corporativa, Erika Petri, afirma que hoje a empresa convive com praticamente todas as gerações no mesmo ambiente. “Temos 15% do quadro com pessoas 50+. No ano passado, esse número estava em 13%. Percebemos um ganho de estabilidade e experiência, fatores que reforçam a importância desse grupo para a operação”, diz.
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A Rede de Supermercados DIA também reforçou sua política interna de contratação de profissionais acima de 45 anos. O diretor-executivo de Gente & Gestão, Luís Felipe Almeida, destaca que, embora a empresa sempre tenha tido sensibilidade ao tema, foi apenas em 2023 que lançou um programa formal de vagas afirmativas.
“O Dia Supermercados sempre se preocupou com oportunidades para pessoas com mais idade, mas o programa oficial de recrutamento 45+ ampliou essa atuação. Hoje, cerca de 20% do quadro tem 45 anos ou mais”, afirma o executivo. Ele destaca uma característica do trabalhador mais maduro: “O turnover de pessoas com 45+ é metade do registrado para outros grupos etários”. O turnover é apontado como um ponto crítico do setor. Segundo Almeida, esse indicado reforça o valor estratégico desses profissionais.
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O varejo alimentar emprega aproximadamente 9 milhões de pessoas no País, distribuídas por mais de 414 mil lojas. Apesar da capilaridade, enfrenta uma escassez estrutural de trabalhadores. Levantamento recente da Confederação Nacional do Comércio (CNC) aponta que cerca de 70% das funções-chave dos supermercados operam com dificuldade de preenchimento, principalmente em cargos como operador de caixa, repositor, açougueiro, balconista e auxiliar de loja.
Nesse contexto, a presença de profissionais mais experientes se torna não apenas uma alternativa socialmente relevante, mas também uma resposta operacional. O GPA estima que o turnover entre trabalhadores 50+ seja até 50% menor do que entre os mais jovens. O Assaí, embora não divulgue números específicos, afirma que a inclusão de profissionais maduros melhora a estabilidade e contribui para um clima intergeracional mais equilibrado.
Dessa maneira, políticas de diversidade etária e contratação de profissionais maduros deixam de ser iniciativas isoladas e passam a integrar a estratégia para manter capacidade operacional.
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