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São Paulo, 22/10/2025 - A nova edição da pesquisa Trabalho Sem Assédio 2025, realizada pela Think Eva em parceria com o LinkedIn, mostra que o assédio moral ainda é o tipo de violência mais comum no ambiente de trabalho e também o mais silenciado.
O estudo, que ouviu 3.128 pessoas de diferentes regiões, perfis e classes sociais em todo o Brasil, revela que 48,5% dos profissionais que sofreram assédio moral não denunciaram o caso por medo de retaliação ou demissão.
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De acordo com o levantamento, o assédio moral se manifesta principalmente por humilhações, gritos, constrangimentos públicos, isolamento e excesso de críticas.
Embora homens e mulheres estejam expostos a esse tipo de prática, as mulheres relatam com mais frequência situações de desqualificação e vigilância constante, enquanto os homens mencionam sobrecarga de tarefas e cobranças excessivas.
“Estamos diante de um cenário que exige ação imediata e estratégica das lideranças. A subnotificação do assédio e a baixa adesão aos canais de denúncia indicam um problema estrutural. A falta de segurança psicológica e confiança nas empresas tem impacto direto na produtividade e na retenção de talentos”, afirma a executiva de Soluções de Talento do LinkedIn no Brasil, Ana Plihal.
O estudo também mostra que o assédio sexual continua presente nas empresas. Mais de um terço das mulheres afirma já ter vivido esse tipo de situação ao longo da carreira, e 57% dos profissionais dizem já ter presenciado episódios de assédio sexual no trabalho, mesmo que não tenham sido diretamente afetados.
Mesmo diante dessa alta incidência, apenas 10% das mulheres que sofreram assédio sexual recorreram aos canais oficiais de denúncia oferecidos pelas empresas. O medo da exposição, da impunidade e da minimização dos casos continuam sendo os principais motivos para o silêncio.
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Apenas 35% dos casos chegam ao conhecimento das empresas, e cerca de 50% dos colaboradores não percebem ações efetivas de combate ou prevenção.
“É preciso coragem para enfrentar esse problema e garantir um ambiente de trabalho seguro e inclusivo de verdade. Fomentar uma cultura ética e a confiança nos canais de denúncia não é bom só para os colaboradores, mas também para os negócios”, afirma a cofundadora da Think Eva, Maíra Liguori.
A pesquisa revela ainda que as redes sociais se tornaram uma extensão dos espaços de assédio, 27% dos profissionais afirmaram já ter recebido mensagens com teor sexual inadequado, e 29% disseram ter sofrido ofensas, constrangimentos ou comentários agressivos em ambientes digitais.
Mais da metade dos entrevistados (55,2%) acredita que as plataformas precisam melhorar os sistemas de denúncia, e 47,3% pedem comunicação mais clara sobre como denunciar conteúdos ofensivos.
Entre as sugestões, estão campanhas de conscientização, maior moderação de comentários e monitoramento de usuários reincidentes.
No LinkedIn, investidas românticas e comportamentos abusivos violam as Diretrizes da Comunidade. Para manter a segurança, a plataforma usa tecnologia e equipes especializadas que identificam e removem conteúdos nocivos. Usuários podem denunciar casos em publicações, comentários ou perfis, além de ativar um recurso que detecta e oculta mensagens ofensivas.
A pesquisa mostra que os assédios no trabalho impactam diretamente a saúde emocional e a trajetória profissional das pessoas.
Entre quem passou por assédio moral, os sintomas mais citados são: desânimo (43%), ansiedade e depressão (34%) e queda na autoconfiança (33%).
No caso do assédio sexual, os efeitos são igualmente graves:
Os impactos são ainda mais intensos entre mulheres pretas e pardas, que registram maiores índices de medo (33%), ansiedade (24%) e baixa autoestima (21%), quando comparadas às mulheres brancas.
Na dimensão profissional, 1 em cada 6 mulheres vítimas de assédio pediu demissão após o ocorrido, e 1 em cada 3 repensou seus planos de carreira. Além disso, 19% relataram mudança nas expectativas profissionais, 16% se afastaram de colegas e chefias, e 14% perceberam queda de desempenho após as agressões.
Mesmo entre profissionais de empresas obrigadas a implementar medidas contra o assédio, conforme a Lei Emprega + Mulheres (Lei 14.457/22), 83% afirmam desconhecer a legislação ou suas obrigações básicas.
Para os especialistas, esse dado mostra que a comunicação e o treinamento sobre o tema ainda são insuficientes.
“Fomentar uma cultura ética e de confiança não é apenas uma questão de compliance, mas de sustentabilidade humana e de negócio”, reforça Maíra Liguori.
*Estagiária sob supervisão de Claudio Marques
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