'PcD' no lugar de 'deficiente' ou 'especial': conheça vocabulário anticapacistista

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Mais de 545 mil pessoas com deficiência movimentam a força de trabalho no País - Envato
Mais de 545 mil pessoas com deficiência movimentam a força de trabalho no País
Por Paula Bulka Durães paula.bulka@viva.com.br

Publicado em 29/07/2025, às 08h50

São Paulo, 29/07/2025 - O preconceito contra a pessoa com deficiência (PcD) passa pelo vocabulário. Algumas expressões populares são carregadas de estereótipos e reforçam a discriminação. Segundo o último censo do IBGE, 6,3% da população tinha alguma deficiência em 2022. Do total de 14,4 milhões pessoas, 545,9 mil estão inseridas no mercado formal e movimentam a força de trabalho no País.

O capacitismo é crime e é definido como o preconceito, discriminação e exclusão social contra pessoas com deficiência, que carrega a ideia da existência de um padrão corporal superior. A adoção de um vocabulário anticapacistista é essencial para combater esse crime dentro e fora das empresas, bem como entender o protagonismo dessa população nos mais diversos setores da sociedade.

Leia também: Estrutura falha e capacitismo ainda travam a vida do trabalhador PcD

Inclusive a expressão "portador de deficiência" é preconceituosa, pois reforça o estereótipo da deficiência como um fardo a ser carregado. As palavras "deficiente" e "especial" também não devem ser mais utilizadas, uma vez que a sigla PNE (Pessoas com Necessidades Especiais) foi combatida por ativistas dos direitos de pessoas com deficiência.

O guia anticapacistista do Tribunal de Contas do Estado do Piauí, publicado no ano passado, destaca palavras que devem ser excluídas para referenciar PcDs. São elas: "doente", "defeituoso", "especial", "inválida", "aleijado", "anormal", "portador de deficiência", "incapaz", "portador de necessidades especiais", "sequelado" e "deficiente".

Outras frases como "mais perdido do que cego em tiroteio" ou "João sem braço" são destaques do guia como expressões capacitistas.

O manual de redação do projeto Alma Preta traz o detalhamento de termos que devem ser excluídos da redação jornalística e do vocabulário popular. A atenção vai para "deficiência intelectual" ou "mental". Ambas são palavras que não devem ser usadas como sinônimos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou da Síndrome de Down. No caso do TEA, prefira "neurodivergência" ou "neurodiversidade", que engloba pessoas neurotípicas e neurodivergentes. 

Leia também: Onde estão e quantos são os brasileiros com deficiência, segundo Censo do IBGE

Também é incorreto dizer "surdo-mudo", uma vez que a deficiência auditiva não exclui a comunicação de pessoas com surdez. 

Substituições possíveis

  • "Dar uma mancada" - trocar por: "faltar com o compromisso";
  • "Você está cego/surdo?" - melhor: "você prestou atenção?";
  • "Estar mal das pernas" - usar: "estar com problemas";
  • "Fingir demência" - dizer: "fingir de desentendido";
  • "Não ter braço" para alguma função - trocar por: "não temos o pessoal necessário";
  • "Ceguinho" - dizer: "pessoa com deficiência visual".

Outras expressões incorretas

  • "Nossa, você nem parece PcD" - A surpresa pressupõe que a pessoa com deficiência tem alguma característica física que a pessoa que fala não tem;
  • "Você tem cara de normal" - Não existe normal ou anormal, e sim pessoa com ou sem deficiência;
  • "Seus filhos vão nascer normais?" - A normalidade utilizada como sinônimo de pessoa sem deficiência é um termo capacitista.
  • "Deus não dá uma cruz que você não possa carregar" ou "ninguém recebe um fardo que não possa carregar" - A deficiência não é fardo.
  • "Você é um exemplo de superação" - Pessoas com deficiência não são heroínas e a deficiência não precisa ser superada.
  • "Pessoa especial" ou "mãezinha especial" - para se referir a mães de crianças com deficiência ou com doenças raras. Ninguém deve ser considerado especial por ter deficiência ou ser mãe.
  • "E eu aqui reclamando da minha vida" - A PcD não vive uma realidade pior do que as outras pessoas. As dificuldades cotidianas são resultado da falha ou ausência de políticas públicas que insiram pessoas com deficiência na sociedade, no mercado de trabalho e facilitem a mobilidade urbana.

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