Saiba o que faz um conselheiro, cargo em que predominam pessoas acima de 50 anos

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O conselho de administração, entre outras atividades, dá as diretrizes estratégicas e analisa riscos envolvendo a organização - Envato
O conselho de administração, entre outras atividades, dá as diretrizes estratégicas e analisa riscos envolvendo a organização
Por Cláudio Marques [email protected]

Publicado em 17/07/2025, às 08h42 - Atualizado às 14h06

São Paulo, 17/07/2025 - A atividade de conselheiro de empresa não é exclusiva do profissional 50+, mas pela sua própria natureza, acaba sendo uma ocupação exercida principalmente por pessoas mais maduras. O motivo é que para atuar como conselheiro é necessário ter experiência e conhecimento a respeito de vários assuntos que envolvem o desempenho de uma corporação – privada ou pública. Também deve ser alguém comprometido e que exerça suas funções com confidencialidade e equilíbrio emocional.

“A atividade exige saber navegar na complexidade. Normalmente, só se atinge isso com mais idade”,  diz Adriane de Almeida, diretora de Ensino e Inovação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), entidade que congrega conselheiros e ministra cursos para formação e certificação na atividade.

Ela, que já atuou como conselheira, faz uma ressalva: “Mas não adianta ser 50+ se a pessoa nunca viveu situações empresariais difíceis. Atuar em conselho é uma atividade para quem teve cargos muito altos, porque sabe lidar com a complexidade das organizações”.

Os tipos de conselhos

Existem dois tipos de conselho: o administrativo e o consultivo. O primeiro é um órgão criado no estatuto da organização e tem grande responsabilidade pelo cumprimento de leis como a das S/A, das estatais ou das cooperativas.

No segundo caso, como o nome diz, é um órgão de consulta para o dono da organização. “Este tipo de conselho tem menos riscos embutidos em sua atividade. E ele pode ser transitório”, explica Almeida.

Empresas listadas em bolsa, estatais e cooperativas financeiras têm obrigação legal de constituir um conselho de administração.

“O conselho de administração é uma segurança para os investidores. É um agente de governança muito importante para garantir a longevidade da organização”, afirma a diretora do IBGC. 

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Adriane de Almeida, do IBGC, diz que o conselheiro precisa saber navegar na complexidade - Foto: Divulgação/IBGC

As principais ações desse tipo de colegiado são aprovar o balanço e os relatórios trimestrais para o balanço anual, o orçamento, a remuneração dos executivos, abertura ou fechamento de filiais, além de aprovar dividendos depois da assembleia. Uma das coisas importantes que faz é a contratação do CEO da organização.

O conselho também dá as diretrizes estratégicas, analisa a quais riscos a organização está exposta, se debruça sobre a cultura organizacional, sustentabilidade e o canal de denúncias. "Tudo o que é mais macro na organização é olhado pelo conselho”, diz Almeida.

O conselho é um órgão colegiado em que todos têm o mesmo poder de voto. Ele coloca em perspectiva a longevidade da organização. “Para ser longeva, uma corporação ou instituição precisa olhar para a estratégia e controle, como finanças. A pessoa que senta no conselho precisa estar comprometida com o longo prazo, com a visão estratégica e com os controles”, afirma.

Além de maturidade e saber interagir, um outro atributo de um conselheiro é saber agir na incerteza.

O conselheiro tem que ter vivido na complexidade para saber onde estão as questões críticas.

Como um conselho de administração tem esse papel voltado ao longo prazo, o conselheiro não vai ter todas as informações, em comparação com um executivo da empresa. O ideal é que o colegiado se reúna no máximo uma vez por mês, oito horas no dia, segundo o IBGC.

As habilidades que o/a conselheiro (a) precisa ter: 

  • Trabalhar em grupo
  • Tomar decisões de qualidade
  • Comunicar-se de forma eficiente
  • Relacionamento interpessoal
  • Gerenciar conflitos
  • Relacionamento com stakeholders
  • Coragem para tomar decisões difíceis
  • Gerenciar a ambiguidade
  • Inspirar confiança 
  • Adaptabilidade
  • Mentalidade estratégica
  • Conhecimento de contabilidade para ler e entender demonstrativos financeiros
  • Conhecimento em finanças, estratégia e governança corporativa
  • Gestão de risco

Nessa questão de riscos, a executiva lembra que o conselho toma decisões que envolvem o patrimônio da empresa, em caso de fraude ou problemas envolvendo questões trabalhistas e ambientais. “Quem está lá tem que saber trabalhar nesse nível de responsabilidades.” No entanto, o conselheiro precisa ser independente e ter condições de se desligar caso não concorde com alguma decisão ou com os rumos da organização. “Por isso, não é uma função para formar patrimônio pessoal”, alerta Almeida. Inclusive, há casos de conselheiros não remunerados, como no terceiro setor.

Os membros do conselho de administração exercem a função por mandatos, geralmente de dois a quatro anos, podendo ou não serem reeleitos, segundo as regras da organização. A eleição se dá conforme estabelecido no estatuto, mas geralmente ocorre na assembleia geral de acionistas. É praxe haver suplentes designados para o conselho de administração, que assumem o cargo em caso de vacância do membro titular. 

A escolha de um nome para ser referendado pela eleição é variada: pela própria empresa, internamente ou via headhunter, e por indicação de grupos de acionistas. Mas é muito comum, segundo Adriane, um conselheiro que deixar o posto indicar alguém para a vaga.

“É um cargo muito importante, exige sigilo e muita responsabilidade. Então, a contratação é muito cuidadosa e a indicação é muito importante. É preciso ter muitas referências, porque a pessoa vai ter acesso às informações mais estratégicas da organização”, afirma.

O curso de certificação de conselheiro do IBGC, que tem duração de seis meses, organiza o conhecimento de governança de quem pretende exercer atividade. Outra frente do curso é falar de negócios – que é a principal atividade de um conselheiro. Temas como estratégia, finanças, contabilidade, risco, sustentabilidade, ética, inovação, IA são abordados. A diretora do IBGC conta que as aulas trabalham questões comportamentais como ter  postura independente, capacidade de decidir na incerteza e na complexidade, trabalhar em equipe, autoconhecimento, escuta ativa, comunicação não violenta. Ha simulação de reunião de conselho e os professores são todos conselheiros e conselheiras. "Mas não é um MBA", alerta Adriane Almeida, lembrando que se trata de um curso preparatório.

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