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 São Paulo, 03/11/2025 - A preocupação em comprar produtos farmacêuticos para tratar dos mais variados tipos de doenças vai além da necessidade de saber se o remédio trará ou não o efeito desejado. Fatores como a segurança no momento da compra e a autenticidade do produto estão cada vez mais presentes para quem precisa de uma drogaria. Uma situação que atinge desde o laboratório e trabalhadores do setor até chegar ao consumidor.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, assaltos a farmácias no estado de São Paulo registraram um aumento de 6,8% de janeiro a setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado. As quadrilhas, em geral, agem com violência e sempre desejam medicamentos de alto custo, principalmente as famosas canetas emagrecedoras.
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O comerciante Fábio Martins Leonardo é proprietário de uma pequena farmácia no Tatuapé, zona leste da capital paulista. Há poucos meses, ele foi assaltado por três criminosos armados enquanto se preparava para encerrar seu expediente. “Eles chegaram preparados, estavam com sacos plásticos, e depois de fazer a mim, meus funcionários e clientes reféns, levaram de tudo: dinheiro e remédios de todos os tipos”, relatou Fábio Martins, que contabilizou apenas prejuízos materiais.
A falta de segurança nas farmácias tem chamado a atenção das organizações de trabalhadores, tais como o Sindicato dos Práticos de Farmácia e dos Empregados no Comércio de Drogas, Medicamentos e Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sinprafarma). A entidade ressalta que tem sido frequente a procura de trabalhadores em busca de orientação.
Diretora do Sintprafarma, Eliane Slomp destacou que não são raras as denúncias anônimas. “Recentemente, recebemos uma denúncia anônima de um trabalhador que presta serviços em uma grande rede de farmácia e que nos informou que ela foi assaltada mais de oito vezes entre os meses de setembro e outubro por conta das canetas emagrecedoras", disse a advogada.
A sindicalista orienta que, sempre após um assalto, é importante o funcionário providencie, no sindicato, a emissão da CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho). Pois, dessa maneira, os órgãos de fiscalização podem identificar padrões, causas recorrentes e riscos nos ambientes de trabalho para a adoção de medidas preventivas e de melhoria da segurança no trabalho.
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A Associação Brasileira de Farmácias e Drogarias constituiu um Grupo Temático (GT) de Segurança, de olho na crescente incidência de furtos e roubos desses estabelecimentos. Trata-se de um Grupo Temático (GT) de Segurança que reúne representantes das 29 redes associadas, que respondem por mais da metade da venda de medicamentos no País.
O GT dedicado a esse tema junta-se aos demais oito grupos que já integram a entidade. O objetivo é dar mais amplitude ao acompanhamento de dados e casos sobre essas práticas criminosas, promover o compartilhamento de inteligência interna e sugerir atitudes preventivas.
“Há tempos já realizamos estudos semestrais de prevenção de perdas para benchmarking interno. Nunca na história da entidade cogitou-se abordagem nessa área, mas essa mudança de olhar demonstra a gravidade e insegurança dos tempos atuais”, adverte Sergio Mena Barreto, CEO da Abrafarma.
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A falsificação de medicamentos, considerada crime hediondo pelo Código Penal, com penas que vão de 10 a 15 anos de prisão, é outro agravante. Dados do Instituto de Segurança Farmacêutica indicam que os crimes farmacêuticos aumentaram 4% em 2023, com cerca de 154 países afetados por esses delitos – que incluem a falsificação de produtos farmacêuticos. Engana-se quem acredita que a compra pela internet é uma boa solução.
Os riscos aumentam ainda mais a partir do comércio eletrônico. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) identificou falsos anúncios, em redes sociais e em sites, sobre a venda de medicamentos agonistas GLP-1, popularmente conhecidos como canetas emagrecedoras, incluindo o Mounjaro (tirzepatida).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que um em cada dez fármacos que circulam em países de baixa e média renda seja de baixa qualidade ou falsificado, incluindo medicações genéricas e de alto valor. O alerta do setor farmacêutico: as vendas online de produtos ilegais já representam 36% do total de itens falsificados, e o prejuízo estimado com medicamentos e produtos hospitalares falsos chega a R$ 11,5 bilhões.
Uma pesquisa recente realizada pelo Procon com 686 pessoas revelou que 63% dos consumidores já receberam algum produto falsificado em vez do original. No mês passado, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) promoveram o webinar “Falsificação de Medicamentos”, que contou com a presença dos principais representantes do setor. O encontro serviu para reforçar a importância do fortalecimento dos marcos regulatórios e da educação do público sobre os perigos do contrabando e da venda ilegal de medicamentos.
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Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo afirmou que tem intensificado as ações de combate a roubos e furtos a farmácias. Além de atuar para identificar e prender criminosos envolvidos nessas ocorrências, as polícias concentram esforços na desarticulação do mercado ilegal de medicamentos e na prisão de receptadores dos produtos roubados.
Segundo a nota, até setembro de 2025, o trabalho das forças policiais resultou na prisão de cerca de 60 adultos e na apreensão de 8 adolescentes, além da recuperação de mais de R$ 1 milhão em produtos e medicamentos, sobretudo canetas emagrecedoras. As ações continuam para coibir este tipo de crime em todo o estado.
Veja algumas dicas da área de Vigilância Sanitária da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) para evitar a compra de produtos falsificados:
Comprar apenas em drogarias autorizadas e licenciadas pela Vigilância Sanitária, nunca em locais como mercados ou lanchonetes, por exemplo.
Pedir sempre a nota fiscal.
No momento da compra da medicação, a embalagem deve estar em bom estado de conservação, estar lacrada, ter rotulagem em português; a bula deve estar sempre presente junto do medicamento.
Verifique se na embalagem da medicação consta o número de registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A embalagem deve conter o nome do farmacêutico e seu registro no Conselho Regional de Farmácia (CRF).
O número do lote e a data de validade devem ser os mesmos na embalagem e no produto.
A embalagem deve ter o número do SAC da empresa e o selo de segurança que, ao ser raspado, mostra a palavra “qualidade”, além da marca do fabricante.
Em caso de reações adversas ou perda de efeito, é importante procurar um médico ou um equipamento de saúde.
Se o consumidor já faz uso do medicamento, deve verificar se há mudança na embalagem externa, como cor, formato, tamanho das letras, se há alteração de sabor, cor e forma do produto; no caso de injeção, caso a aplicação seja feita na própria farmácia, a dica é comprar primeiro o medicamento, verificar todos os itens acima relacionados e só então pedir para fazer a aplicação.
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