'A violência é o avesso do direito', diz socióloga Maria Cecília Minayo
Paula Bulka Durães/Viva
17/12/2025 | 18h15
Brasília, 17/12/2025 – Aos 87 anos, a pesquisadora Maria Cecília Minayo aborda um tema sensível para os 1,3 mil participantes da 6ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (Conadipi): a violência contra a pessoa idosa, que ela define como "avesso do direito".
O segundo dia do evento priorizou a discussão dos cinco eixos temáticos (veja abaixo) que sustentam as propostas provenientes das 2,6 mil etapas regionais, estaduais e municipais. Entre os convidados para aprofundar essas questões estão pesquisadores ilustres ligados ao direito da velhice, como Minayo e a linguista e escritora brasileira Conceição Evaristo.
Leia também: “A diversidade está aqui”, diz secretário da pessoa idosa em conferência
A negligência, segundo a socióloga, é o principal tipo de violência praticado contra a pessoa idosa, respondendo por 79,54% das denúncias registradas pelo Disque 100, de acordo com dados reunidos em sua pesquisa. Essa tipologia supera as agressões físicas, psicológicas e contra o patrimônio, e é essa difícil realidade que deve orientar as políticas públicas.
"Violência ou maltratos contra as pessoas idosas é um ato. Pode ser um ato único ou repetido, ou resultado da omissão. Porque ele causa a quebra de qualquer relação em que se tem expectativa da confiança", define.
A socióloga destaca que não quer responsabilizar as famílias, pois sabe que são elas os principais agentes de cuidado no País e convivem com sobrecarga. No entanto, Minayo diz que a violência contra a pessoa idosa, na maioria dos casos, começa dentro de casa.
Ela traçou, com muita ênfase, o perfil dessas vítimas: mulheres de 60 a 75 anos, de baixa escolaridade, com sinais de declínio cognitivo e dependentes de familiares agressores.
Saberes ancestrais
A linguista Conceição Evaristo abriu a palestra magna, pela manhã, com uma reflexão sobre a concepção do tempo nas culturas africanas, contrastando o tempo linear com o tempo espiral. Segundo ela, o tempo cronometrado não capta a profundidade da vida.
"Não é o tempo cronometrado, seguindo em linha reta, mas o tempo em contínuo movimento, que nos torna continuidade, renovação, eternização dos nossos ancestrais por meios de gerações de saberes compartilhados", reflete.
Em sintonia com o tema central da Conferência, as múltiplas velhices, Evaristo questionou se a longevidade é realmente uma conquista para as classes populares, que carecem de qualidade de vida e apoio.
"A velhice é uma conquista e não uma tragédia, mas vamos pensar, qual a patologia das pessoas pertencentes às classes populares? Sabemos que grande parte das pessoas não desfruta a velhice com qualidade de vida, condição que prova, moradia segura, alimentação garantida."
Diálogo, inquietação e propostas
Amanhã, quinta-feira, 18, começa de fato o debate das propostas pleiteadas pelas etapas regionais e municipais, que serão analisadas em grupos de trabalho, conforme cada eixo temático.
Com a "mão na massa", a expectativa dos participantes é que o que for definido ganhe força para ser tratado não só nos conselhos da pessoa idosa, mas também adquira solidez para se transformar em políticas públicas urgentes.
Nesta quarta-feira, alguns participantes manifestaram inquietação e descontentamento com os recursos inclusivos, sobretudo o excesso de estímulos, como som alto, aplausos e gritos, para pessoas neurodivergentes ou com sensibilidade auditiva.
Quais são os eixos temáticos?
- Financiamento das políticas públicas para ampliação e garantia dos direitos sociais;
- Fortalecimento das políticas para a proteção à vida, à saúde e ao acesso ao cuidado integral da pessoa idosa;
- Proteção e enfrentamento a todas as formas de violência, abandono social e familiar da pessoa idosa;
- Participação social, protagonismo e vida comunitária na perspectiva das múltiplas velhices;
- Consolidação e fortalecimento da atuação dos Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa como política do Estado Brasileiro.
Comentários
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.
