Estadão Conteúdo
Publicado em 12/08/2025, às 17h38 - Atualizado às 17h50
São Paulo, 12/08/2025 - Com a prisão de Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma e figura carimbada nas campanhas publicitárias da rede farmacêutica, os consumidores se perguntam: como ficam os preços dos remédios?
O Viva apurou que, até o momento, o Ministério Público de São Paulo (MPSP), responsável pela Operação Ícaro, que investiga o esquema de corrupção que envolve o empresário, disse que não restringiu as operações da rede nessa primeira etapa.
Nesta terça-feira, foram expedidos três mandados de prisão temporária – um para o operador líder do esquema, Artur Gomes da Silva Neto, que atua como fiscal da Secretaria de Estado da Fazenda; e outros dois para os empresários Sidney Oliveira, da Ultrafarma, e Mário Otávio Gomes, diretor da FastShop.
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Para o especialista em direito penal e sócio do Euro & Tyles Advogados Associados, Gabriel Huberman Tyles, o impacto da operação deve se concentrar na imagem da varejista, e não necessariamente no preço final dos produtos. “É preciso separar a qualidade da empresa, dos medicamentos com o fato do empresário ter ou não praticado um crime.”
As primeiras consequências, além da prisão temporária, que hoje tem o limite de cinco dias, incluem a análise tributária na esfera administrativa, para então seguir para análise criminal. “Os funcionários e fornecedores não devem se preocupar, pois a promotoria não visa atingir terceiros e sim quem está envolvido ativamente com o esquema. O cliente final também não deve sofrer as consequências”, explica o advogado.
O especialista relembra grandes esquemas que envolveram investigações ou prisões de empresários à frente de grandes varejistas no Brasil, que seguiram em funcionamento. “Dependendo dos rumos da investigação, a Justiça pode solicitar o bloqueio de bens da empresa, mas isso não ocorre da noite para o dia.”
A medida mais óbvia, de acordo com Tyles, é o afastamento de Sidney Oliveira das operações da rede de farmácias. “É o que deve ser decretado, se não for suficiente a liberdade com a imposição de uma medida cautelar. Agora, é preciso esperar nos próximos dias a informação de quanto dinheiro os empresários se beneficiaram e devem ao Estado, para entender os impactos financeiros sobre as redes varejistas.”
Procurada pelo Viva, a Ultrafarma ainda não se pronunciou sobre como seguirão as operações das lojas e e-commerce nos próximos dias.
A Ultrafarma surgiu em 2000 na cidade de São Paulo (SP), no ano seguinte à implementação dos medicamentos genéricos no País, autorizados pelo Ministério da Saúde. A rede foi idealizada pelo empresário Sidney Oliveira, que estava à frente desde 1998 das farmácias Drogavida, com 23 lojas espalhadas na capital, mas que não conseguiram competir com o crescimento de outras redes.
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Após viagens para países que já tinham implementado os genéricos, como Índia e México, o paranaense volta para São Paulo e inaugura a primeira unidade da Ultrafarma, na zona sul de São Paulo, que se aproveitou da popularização dos medicamentos genéricos no País, além de marketing em canais de televisão aberta.
O resultado são 15 mil produtos disponíveis no e-commerce, 4 milhões de clientes ativos, cinco lojas físicas na capital paulista, além dos modelos de negócio Ultrafarma Popular e a linha de vitaminas Sidney Oliveira. O empresário é, inclusive, rosto das campanhas publicitárias da rede, similar a estratégia da Havan, que usa da imagem do dono, Luciano Hang, para promoções de marketing.
Em 2007, a Fazenda Pública Estadual de São Paulo acusou Sidney Oliveira e a Ultrafarma de sonegação fiscal. Em 2014, o empresário se envolveu em uma nova polêmica, ao afirmar que a Associação Brasileira de Farmácias (Abrafarma) tinha um lobby junto às multinacionais farmacêuticas para impedir a ascensão dos medicamentos genéricos. Mais recentemente, em 2019, a 2ª Vara Fiscal Federal de São Paulo acusou o empresário de não ter pago R$ 3 milhões em impostos federais.
Em nota ao Viva, a Abrafarma afirmou que a operação desta terça-feira não deve afetar os preços das redes associadas.
“A Ultrafarma não é e nunca foi associada da Abrafarma. A entidade tem no respeito às leis, incluindo a responsabilidade fiscal, como um dos seus valores basilares. Aqui temos práticas transparentes e responsáveis, inclusive com diversos associados com ações listadas na Bolsa de Valores, seguindo todas as boas práticas tributárias e fiscais.”
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