Tânia Rêgo/Agência Brasil
Por Luiz Araújo e Elisa Calmon, da Broadcast
redacao@viva.com.brBrasília e São Paulo, 05/10/2025 - O Brasil precisará investir cerca de R$ 900 bilhões para universalizar os serviços de água e esgoto até 2033, desafio que mobiliza entes públicos e privados. Para custear o número crescente de projetos, o mercado tem explorado alternativas que vão desde as linhas de crédito tradicionais a modelos vinculados a resultados à sustentabilidade.
O saneamento é financiado por três principais mecanismos: captação direta por entes públicos, crédito público por meio de bancos de desenvolvimento e, mais recentemente, a expansão do financiamento privado, impulsionada sobretudo por concessões e parcerias público-privadas (PPPs).
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A entrada de investidores privados por meio do mercado de títulos é um dos principais destaques entre as opções disponíveis. Desde a aprovação do Marco do Saneamento, em 2020, o setor emitiu debêntures para 52 projetos, totalizando R$ 60,2 bilhões. Entre 2015 e 2020, período anterior ao novo marco, foram apenas R$ 3,9 bilhões. Os números são da Abcon Sindcon, entidade que representa os operadores privados.
Para a associação, os incentivos fiscais foram fundamentais para destravar investimentos, especialmente em regiões historicamente negligenciadas. A entidade ressalta, contudo, que não há um modelo de financiamento "universalmente mais vantajoso".
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"São caminhos complementares, que variam se estamos lidando com uma nova concessão ou com uma mais antiga, e também de acordo com a própria estrutura do projeto", destaca a superintendente técnica da Abcon Sindcon, Ilana Ferreira.
Incentivo público
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) se mantém como principal agente público a financiar o setor. Os sete projetos estruturados ou em estruturação pelo banco, cujos leilões devem ocorrer até ano que vem, somam R$ 83 bilhões de investimentos. Do montante, o BNDES tem participação estimada em R$ 29,5 bilhões.
A presença do banco tem sido ampliada a partir de vias híbridas. Entre os projetos recentes está o elaborado para a concessionária Águas de Manaus, combinando R$ 255 milhões de crédito direto e R$ 1,2 bilhão em debêntures incentivadas.
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"O BNDES tem papel central, mas outras instituições também atuam de forma importante", aponta o diretor executivo da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), André Godoy. Como exemplo, cita a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, assim como outras instituições financeiras estaduais de fomento, como o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).
A Caixa viu sua cota disponível atingir o teto no ano passado. "Contratamos, para o setor de saneamento, R$ 8,1 bilhões", detalha o diretor de Sustentabilidade da Caixa, Jean Benevides. Até junho de 2025, foram R$ 2,5 bilhões. O saldo parcialmente menor pode estar relacionado a dificuldades de operadores, principalmente os menores, de elaborar projetos alinhados aos padrões exigidos em editais.
"Por isso, atuamos também com assistência técnica, inclusive com apoio de organismos multilaterais, para estruturar um pipeline robusto", diz Benevides. A instituição vem ampliando ainda o uso de linhas próprias, como o Finisa, e participando da estruturação de PPPs e emissões de debêntures.
A ajuda do Estado também ocorre de forma direta às prefeituras e concessionárias, sejam elas públicas ou privadas. O governo federal, por meio do "Saneamento para Todos", programa operado pela Caixa, elevou os investimentos públicos de R$ 476 milhões em 2024 para R$ 1,78 bilhão neste ano.
Participação privada
A participação privada nos investimentos em saneamento subiu de 15,1% em 2020 para 27,3% em 2023, somando R$ 6,7 bilhões, segundo a Abcon. O setor realizou 60 leilões desde o marco do setor, com R$181,6 bilhões em investimentos contratados.
Atualmente 26 projetos de PPP e concessão estão em estruturação no País, com previsão de cerca de R$ 70 bilhões em aportes. A agenda de certames inclui as operações de Pernambuco, com disputa prevista para dezembro e investimentos estimados em R$ 19 bilhões. Projetos em Goiás, Rondônia e Rio Grande do Sul seguem no radar.
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A participação privada ganha força também por meio das desestatizações. Em 2022, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) passou pelo processo, seguida pela Sabesp no ano passado, enquanto a expectativa é que a mineira Copasa seja privatizada até o primeiro trimestre de 2026.
Metas sustentáveis
Financiamentos atrelados a métricas de sustentabilidade também têm ganhado força. Há poucos dias, a Aegea anunciou a emissão de US$ 750 milhões por meio de títulos dívida atrelados à metas de sustentabilidade, que no saneamento levam o nome de blue bonds em referência à água. Em julho, a Sabesp recorreu à mesma estratégia para captar US$ 500 milhões.
Recentemente, a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) assinaram um contrato de 200 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão). O financiamento atrela desembolsos ao cumprimento de metas de eficiência, governança e adaptação climática.
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