Foto: Divulgação Santillana
Por Fabiana Holtz
[email protected]São Paulo, 25/07/2025 – A escritora Ruth Rocha, do alto dos seus 94 anos completados em março, conta com alegria sobre os caminhos que a levaram a escrever mais de 200 títulos para o público infantil. Com 40 milhões de exemplares vendidos e livros publicados em 25 idiomas, a autora segue inspirando leitores de todas as gerações.
E a vencedora de oito prêmios Jabutis de literatura infantil não para: renovou seu contrato de exclusividade com a editora Salamandra, do grupo Santillana Educação, até 2039.
Neste ano, sua editora tem trabalhado na reformulação de alguns títulos da série "As Aventuras do Alvinho". Até o final do ano a expectativa é ter três livros disponíveis para venda.
Além disso, o clássico “Marcelo, marmelo, martelo” foi publicado em Portugal e nos Estados Unidos.
Aliás, ela também fechou no final do ano passado uma parceria com o mestre dos quadrinhos, Mauricio de Sousa para lançar uma edição especial em que a Turma da Mônica encontra Marcelo, marmelo, martelo.
Leia mais na entrevista a seguir:
Ruth Rocha: A renovação do contrato foi muito fácil, porque eles queriam assinar por um tempo longo e nós também.
Isso nos deu uma garantia de continuidade nos projetos. Recentemente lancei a coleção “Ler e Brincar”, em parceria com a Anna Flora. Composta por quatro volumes, ela apresenta conceitos básicos às crianças pequenas, de forma lúdica, através de textos, imagens e brincadeiras, incentivando o aprendizado e o convívio em família e na escola. Também gostei muito de lançar “O grande livro dos macacos”. E relancei a coleção Comecinho, de oito livros, que conta as aventuras de Miguel e Pedrinho. Essa eu escrevi pensando em meus netos.
Comecei a escrever com 38 anos. Tudo começou porque minha filha Mariana pedia para contar histórias, mas ela queria que eu inventasse as aventuras. Foi aí que criei a história das duas borboletas, uma azul e uma amarela, que não podiam brincar juntas por serem de cores diferentes. É uma história anti-preconceito.
Eu trabalhava como colaboradora para a revista Cláudia, da Editora Abril, e Sônia Robatto, diretora da revista Recreio ouviu a história e me pediu para que eu escrevesse outras. Foram surgindo novas histórias e então me dei conta que escrever tinha virado minha profissão. Foi um caminho natural. Entendo que para escrever bem é fundamental ler bastante e com constância.
Minha família. Meu avô era um grande contador de histórias. Na minha casa se conversava muito. Minha mãe contava história, meu pai, minha avó, meu avô. E também tinha muita leitura, o tempo todo. Venho de uma família que conversava muito, de um ambiente cheio de histórias. Minha mãe lia para mim antes de eu aprender a ler.
Outro ponto importante que contribuiu para a minha carreira é que tive professores de literatura muito bons. Estudei nos colégios Bandeirantes e Rio Branco. Um desses professores nos pediu a leitura de “Prosas Bárbaras”, de Eça de Queiroz, e foi muito importante pra mim. Depois disso li a obra inteira dele e fui seguindo com Monteiro Lobato, Machado de Assis, José de Alencar e não parei mais.
Incentivar a leitura desde cedo é muito importante, pois dá repertório, amplia os horizontes. A literatura nos dá a base. Então, a minha recomendação é leia, leia e leia.
“Grande Sertão Veredas” de Guimarães Rosa, que estou relendo no momento, é o meu livro favorito. Empatado com “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marques. Entre os autores infantis o meu favorito é “Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato.
Tudo pode servir de inspiração. Um filme, um poema, uma música e até uma simples conversa me inspiram.
De todos os livros que já escrevi, considero “Marcelo, martelo, marmelo” um marco. Essa é a minha história que mais vende há 50 anos. Ganhou até crítica no “The New York Times” e segue muito querido pelo público.
Também gosto bastante de ‘O reizinho mandão’ e de “Uma história de rabos presos” (laureado com o Prêmio Jabuti de melhor livro infantil em 1990), uma sátira sobre políticos ladrões. Acho uma história boa. Considero “Mulheres de coragem”, importante também pelo contexto atual. Acho até que deveria ser recomendado para leitura nas escolas.
Não estou familiarizada com os escritores da nova geração, mas gosto muito de Ana Maria Machado, Pedro Bandeira, João Carlos Marinho, Eva Furnari e Anna Flora.
Devido à minha idade, tenho muita dificuldade para enxergar; então conto com a ajuda de minha irmã e do meu neto. Estou acabando de reler o "Grande Sertão Veredas". Minha irmã, Rilda, de 96 anos, me liga todos os dias e lê uma hora por dia para mim. Já lemos "Guerra e Paz", "Irmãos Karamazov", também. Começamos a rotina de leitura por telefone por conta da pandemia. Antes eu a visitava em casa. Já meu neto vem na minha casa duas vezes por semana e lê pra mim. Recentemente lemos “Cem anos de solidão”.
Não acho difícil. Praticar a leitura é um ato muito importante que pode ser naturalizado na rotina da família. Você pode estimular seus filhos com hábitos simples no cotidiano. É preciso conversar, cantar, ensinar versos, ler para elas e junto com elas.
Colocar o livro em um lugar especial, como um tempo prazeroso em família, com certeza vai plantar aquela sementinha de amor pela leitura.
E a escola também tem participação nisso. É preciso indicar bons livros, discutir isso em sala, estimular a leitura e a reflexão.
É uma coisa maravilhosa e ao mesmo tempo ruim. Celular e tablet são fascinantes para elas porque não exigem nenhum esforço, ao passo que a leitura exige. Gostei muito de proibirem os celulares nas escolas. Isso vai deixar as crianças livres para fazerem o que sabem fazer de melhor, que é brincar.
Na minha visão, segue o mesmo papel que sempre teve: o de melhorar o pensamento. Esse mundo polarizado para o lado errado precisa muito de literatura, de conhecimento, de educação.
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