Quase um quarto dos brasileiros ainda são invisíveis para os bancos
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São Paulo, 08/12/2025 – Quase um quarto da população brasileira - 35,3 milhões - ainda segue fora do sistema bancário formal, segundo levantamento da Serasa Experian. Esses brasileiros não possuem conta, cartão de crédito ou sequer um registro de crédito ativo. E mais, essas pessoas estão nos grotões mais afastados do país, onde ainda nem a internet chegou. Trazer essa fatia da população para o sistema financeiro é o grande desafio dos bancos, que têm investido pesado em tecnologia para a simplificação de processos e proteção contra fraudes.
Embora o nível de bancarização do Brasil seja considerado elevado e uma referência para a América Latina, segundo dados do Banco Central (BC), trazer mais pessoas para dentro do sistema é importante para o crescimento do País. Melhorar esse índice se traduz em mais empreendedorismo, incentivo a formação de poupança, além de garantir a inclusão e dignidade para milhões de brasileiros.
O maior desafio ainda, na visão de Amaury Martins de Oliva, diretor de Sustentabilidade, Cidadania Financeira, Relações com o Consumidor e Autorregulação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), está em chegar aos pontos mais isolados do País e superar barreiras tecnológicas. Os últimos dez anos, reforça ele, foram marcados por um avanço relevante nessa frente, impulsionado pelo investimento constante em tecnologia para simplificar a abertura de contas e combater fraudes.
Em 2005, o País registrava 87 milhões de pessoas bancarizadas. Em dez anos esse número mais que duplicou e superamos os 200 milhões de bancarizados. O Brasil é considerado uma liderança em termos de inclusão. Ainda temos desafios a superar, mas somos referência na América Latina e exportamos nossos projetos.
Para calcular o nível de bancarização, o BC considera diversos tipos de relacionamentos com as instituições financeiras e não apenas contas correntes ativas. Nesse cálculo também são contabilizadas conta poupança social digital (para receber benefícios do governo); conta salário; conta de pagamento pré-paga (comuns em bancos digitais e fintechs); aplicações e investimentos financeiros, outros ativos mantidos nessas instituições, além de contas inativas (que aguardam o processo de espólio) e de menores.
O ritmo de bancarização acelerou principalmente após a pandemia, acrescenta Oliva. Entre 2020 e 2025 foram incluídas mais de 45 milhões de pessoas no sistema financeiro.
De acordo com o diretor de Sustentabilidade da Febraban, uma série de fatores contribuíram para esse avanço. “O primeiro deles é investimento massivo em tecnologia, que para este ano deve somar R$ 45 bilhões. Hoje quase 82% das operações financeiras são feitas em canais digitais (principalmente via celular)”, afirma o diretor da Febraban.
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Outro fator importante que contribuiu para a bancarização da população foi o surgimento dos bancos digitais, acrescenta ele.
Esse movimento foi importante por promover a concorrência e facilitou a inclusão financeira.
Pix revolucionário
A chegada do Pix, em 2020, que contou com apoio total dos bancos, também representou uma revolução da forma como o cidadão lida com as finanças. Com essa ferramenta hoje é possível pagar praticamente de tudo, do boleto de contas de consumo ao ambulante que está vendendo água, refrigerante e cerveja na porta do estádio.
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O pagamento de auxílios emergenciais feitos pelo Governo Federal durante a pandemia foi outro fator importante que também impulsionou a digitalização e consequentemente a bancarização dos brasileiros. Para receber a ajuda do governo foi necessária a abertura de uma conta onde seria feito o depósito.
Trabalho constante
Para o BC, o crescimento da inclusão financeira no Brasil é o resultado de políticas públicas voltadas para essa finalidade iniciadas em 2003, com a regulação dos correspondentes bancários. Desde então, a instituição vem adotando uma série de outras políticas públicas para impulsionar essa inclusão, como o lançamento do Pix e a entrada e regulação de instituições de pagamento e bancos digitais no Sistema Financeiro Nacional (SFN).
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Além da crescente digitalização do SFN, o movimento de inclusão da população ganhou impulso, de acordo com o BC, a partir do programa do auxílio emergencial do Governo Federal e da popularização do comércio eletrônico.
Além de continuar suas ações de fortalecimento da inclusão financeira, como a evolução constate do Pix e fortalecimento do cooperativismo, o BC tem se concentrado na melhora da qualidade dessa inclusão financeira.
Para conhecer mais de perto o trabalho de educação financeira realizado pelo BC, a autarquia oferece dicas e cursos online em sua página na internet. Basta clicar em https://www.bcb.gov.br/cidadaniafinanceira.
Exclusão e renda
Foto: Reprodução LinkedIn
Rafaela Cavalcanti, CEO da CloQ, fintech de análise de crédito e dados alternativos, aponta para alguns caminhos possíveis para atingir os excluídos do sistema financeiro. Ela observa também que essa exclusão não significa ausência de renda.
"Muitos desses brasileiros trabalham, consomem, movimentam dinheiro todos os dias, mas o sistema não os enxerga. Com dados e tecnologia, é possível mudar isso de forma escalável e responsável", afirma.
Com a intenção de trazer esse público para dentro do sistema, Cavalcanti sugere cinco medidas:
| Cinco passos para ampliar a bancarização |
| Utilizar dados alternativos para análise de crédito | O uso de informações de consumo, pagamentos digitais e hábitos cotidianos pode substituir ou complementar o histórico bancário tradicional. |
| Simplificar processos de identificação e integração digital | Automatização, biometria e integração de dados públicos e privados reduzem barreiras de entrada e tornam o processo mais rápido e seguro. |
| Criar produtos financeiros adaptados ao perfil invisível | Nano-créditos, contas digitais simplificadas e produtos com menor exigência documental ampliam o acesso de quem vive na informalidade. |
| Investir em educação financeira e construção de histórico positivo | A maior parte desse público não está negativada. Segundo a Serasa Experian, 80,5% não têm restrições no CPF, mas também não possuem registros formais. |
| Construir ecossistemas de dados compartilhados | A consolidação de ecossistemas interconectados, com bancos, fintechs, varejistas e plataformas digitais, acelera o avanço da inclusão. |
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