São Paulo, 08/07/2025 - O Brasil pode ser impactado pela mais recente ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em uma tarifa adicional de 10% qualquer país que se "alinhe às políticas antiamericanas do Brics" e prometeu dar o troco caso seja punido. Para analistas, ainda que seja um risco, é difícil mensurá-lo uma vez que as relações comerciais seguem cobertas de incertezas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o Brasil é "soberano" e que também pode taxar os EUA. "Se o Trump pode taxar, nós podemos taxar também", disse o brasileiro, durante a cúpula do Brics, que acontece no Rio de Janeiro.
Na imprensa americana, circulam rumores de que o governo Trump não pretende impor imediatamente uma nova tarifa de 10% contra os membros do Brics. No entanto, tal como deixou claro em sua publicação, o republicano pretende cumprir a ameaça aos países que adotarem medidas consideradas "antiamericanas".
Trump ameaçou adotar uma nova tarifa aos países do Brics, atraindo holofotes em paralelo à cúpula do bloco, realizada no Rio de Janeiro, sob a presidência brasileira. O grupo tem como países-membros Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.
"Qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics será submetido a uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política", escreveu Trump, em sua rede Truth Social, sem mencionar o Brasil, na noite de domingo.
Para o analista do banco americano BMO Capital, Ian Lyngen, do BMO Capital, embora postagens em redes sociais não se traduzam em políticas nacionais imediatas, no caso de Trump, é difícil ignorá-las. Além disso, o fato de o republicano não ter mencionado países específicos ou um cronograma para a adoção da nova tarifa pode tornar o tabuleiro de negociações comerciais ainda "mais desafiador", na sua visão.
"O Brasil é certamente um dos países do Brics, não um país que eu diria que se posicionou para estar ideologicamente alinhado com a administração Trump. Então, eu diria que é justo dizer que essa ameaça poderia se aplicar ao Brasil", diz o co-chefe de títulos soberanos da América Latina da Fitch Ratings, Todd Martinez.
O Brasil foi taxado em 10% pelas tarifas recíprocas de Trump, anunciadas em 2 de abril, que ficou conhecido como o 'Dia da Libertação', figurando entre os países menos afetados pelas novas políticas comerciais de Washington. Mas, na sequência, o republicano anunciou uma pausa de 90 dias para negociações, que terminaria em 9 de julho, prazo que ontem foi prorrogado para agosto.
A secretária de Comunicação e porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que
Trump monitorou a cúpula do Brics "de perto". "É por isso que ele mesmo divulgou uma declaração. Ele não percebe que esses países estão se fortalecendo, e sim apenas os vê como uma tentativa de minar os interesses dos Estados Unidos. Isso não é aceitável para ele, não importa quão forte ou fraco um país seja?, afirmou.
O tema tarifas não foi debatido na reunião do bloco, conforme Lula. "Ninguém tocou nesse assunto, é como se não tivesse ninguém falado, não demos nenhuma importância para isso", afirmou.
Para Martinez, da Fitch, ainda há muitas incertezas em torno das políticas comerciais que os EUA devem adotar após o fim da trégua tarifária. "Não temos muita clareza sobre essas ameaças que continuam surgindo e desaparecendo. Há muita incerteza em torno de tudo isso", conclui.
Nova rodada de notificações
Em uma nova rodada de medidas unilaterais que elevou a apreensão no mercado global e contaminou diversos ativos, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite de ontem a imposição de tarifas comerciais contra mais sete países. Ao todo, 14 economias terão produtos sobretaxados pelos EUA, com porcentuais que variam entre 25% e 40%, conforme Trump declarou nesta segunda. As medidas devem entrar em vigor a partir de 1º de agosto, mas o republicano afirmou que este seria um prazo final que não está "100% certo".
Todos os países alvo da nova ofensiva comercial americana foram notificados por carta ontem. Pelos comunicados mais recentes, os produtos da Tailândia e do Camboja serão taxados em 36%, os da Sérvia e de Bangladesh em 35%, os da Indonésia em 32%, os da Bósnia em 30%, e os da Tunísia em 25%. Mais cedo na segunda-feira, Trump informou tarifas de 25% para Japão, Coreia do Sul, Malásia e Casaquistão, de 40% para Laos e Mianmar, e de 30% para a África do Sul. As cartas, de acordo com o presidente, são "ofertas finais".