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Cotação do ouro como investimento bate máximas; entenda o porquê

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Nível elevado de incertezas faz investidores correrem para ativos mais seguros de investimento, como o ouro - Envato
Nível elevado de incertezas faz investidores correrem para ativos mais seguros de investimento, como o ouro

Por Letícia Araújo, Eduardo Laguna, Mateus Fagundes e Vinícius Novais, da Broadcast

redacao@viva.com.br
Publicado em 17/10/2025, às 10h26
São Paulo, 17/10/2025 - A cotação internacional do ouro atingiu o nível de US$ 4.300 pela primeira vez na história nesta quinta-feira, que marcou sua quinta sessão consecutiva de ganhos. O metal precioso teve impulso com o noticiário econômico nos Estados Unidos, diante do aumento da percepção de risco dos investidores americanos, já que aumentam as tensões comerciais com a China e o país não consegue pagar suas contas correntes, o chamado "shutdown".
Na Comex, divisão de metais da bolsa de Nova York (Nymex), o ouro para dezembro encerrou em alta de 2,45%, a US$ 4.304,60 por onça-troy, após atingir máxima a US$ 4.314,70. 
Junto a isso, diretores do banco central americano, o Federal Reserve, vêm reforçarando sinais de apoio a uma decisão de cortes da taxa básica de juros. Esse cenário reduz os rendimentos dos títulos públicos do Tesouro americano, os chamados Treasuries, e também pressiona a rentabilidade do dólar - ativos estes que competem com o ouro como opções de investimentos considerados mais seguros. Afinal, quanto menos as Treasuries pagam e confore o dólar vai perdendo valor, mais faz sentido ao investidor carregar ouro em seus portfólios.
Conforme Christopher Galvão, analista da Nord Investimentos, os bancos centrais podem ter diminuído o ritmo, mas seguem comprando ouro, ao mesmo tempo em que os investidores buscam maior diversificação frente às incertezas geopolíticas. "Os investidores ao redor do mundo diversificam uma parte das suas carteiras em dólar, e parte dessa diversificação acaba sendo direcionada justamente ao ouro."
Como o ouro não oferece mais um ponto de entrada tão interessante quanto o de um ano atrás, o investidor, alerta Galvão, precisa ficar atento se o cenário internacional continua favorecendo a commodity. "O momento ainda é positivo, mas o investidor deve ficar bem atento ao preço e principalmente ao contexto macro. É o contexto macro que pode movimentar ou continuar impulsionando o preço do ouro", frisa o analista.
Para analistas da Sucden Financial, o ouro continua atraindo investidores, servindo como um "porto seguro em tempos de incerteza política e macroeconômica". Já Ahmad Assiri, estrategista da Pepperstone, aponta que traders estão "navegando em uma incerteza a curto prazo" sem a publicação de dados econômicos importantes, adiada por causa do shutdown do governo dos Estados Unidos. 

O que é shutdown?

A situação de pausa nas despesas correntes dos EUA, o shutdown, hoje chega ao seu 17º dia, sem sinal de resolução à vista. Por lei, o Congresso americano deve aprovar o orçamento público federal do país até o último dia do ano fiscal, que coincide com o último dia útil de setembro.
Se não for aprovado, então a partir de 1º de outubro o ano fiscal se inicia com a paralisação de alguns serviços e agências federais, suspendendo alguns serviços essenciais, como correios, controle de tráfego aéreo, entre outros.

Até quanto vai o ouro?

Com novas tarifas anunciadas pelos Estados Unidos contra a China, "investidores têm ainda mais motivos" para proteger seus investimentos diversificando para o ouro, afirmou o analista Fawad Razaqzada, da City Index e da Forex. Em sua análise para a rede CNBC, o metal deve atingir o patamar de US$ 5.000, com possíveis correções a curto prazo atraindo novos compradores. 
Especialistas ouvidos pela Broadcast entendem que o novo patamar de US$ 4 mil é sustentável, uma vez que não se espera, ao menos no curto prazo, uma grande dissipação das incertezas globais que levam investidores a buscar refúgio no metal precioso.
A demanda pela commodity vem ganhando força há pelo menos três anos, puxada pelas compras de bancos centrais, sobretudo o da China, que diversificaram suas reservas - leia-se, reduziram a dependência do dólar - diante dos crescentes riscos fiscais, inflacionários e geopolíticos.
Enquanto os conflitos militares aumentavam no mundo, com a guerra na Ucrânia e a ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, os juros subiam em economias que saíram da pandemia mais endividadas e com a inflação persistente. Só na China, a participação do ouro nas reservas internacionais saltou de aproximadamente 3% para quase 7% desde meados de 2022.
"Em síntese, o ouro mantém uma perspectiva positiva, sustentado por expectativas de flexibilização monetária, incertezas geopolíticas e forte demanda institucional", afirma o operador da mesa de alocação da Nippur Finance, Cândido Piovesan. A análise gráfica, segundo ele, aponta um suporte do ouro na faixa entre US$ 4.090 e US$ 4.050, sendo que se ultrapassar o ponto de resistência, cerca de US$ 4.200, pode abrir caminho para o metal buscar novas máximas, em direção aos US$ 4.300.
Piovesan, acrescenta que o cenário global volátil pode fazer do ouro um dos ativos mais resilientes e valorizados de 2025.
Desde o início do ano, o valor do ouro já subiu mais de 50% no mundo. Embora o melhor momento de entrada já tenha ficado para trás, Ray Dalio, fundador da Bridgewater e um dos entusiastas do rali dourado, recomendou que investidores aloquem 15% de suas carteiras em ouro. O gestor comparou o ambiente atual com o do começo da década de 1970, quando a combinação de inflação, pesados gastos governamentais e dívida pública elevada levou a uma menor confiança em moedas e ativos "de papel".

Mineradora brasileira acompanha a alta do ouro

A Aura Minerals, mineradora brasileira que abriu capital nos Estados Unidos, aproveita o momento da commodity. Desde a oferta inicial de ações (IPO, em inglês) na Nasdaq, em julho, o papel deu um salto de 60%. Já os BDRs listados na B3 subiram 56% no mesmo período, acumulando ganho de 203% somente neste ano.
Analistas consultados pela Broadcast enxergam que esse movimento coordenado entre os dois ativos deve continuar, mesmo se o ouro atingir o nível de US$ 6 mil a onça-troy, chance que não é descartada pelo Bank of America (BofA).
"Nesse cenário, o múltiplo de preço sobre lucro da Aura Minerals rondaria 11 vezes, o que não é extremamente alto", afirma o analista de investimentos do Banco Daycoval, Gabriel Mollo.
Mesmo se o metal precioso se mantiver na casa de US$ 4 mil por onça-troy, Mollo não vê espaço para uma realização, dadas as perspectivas positivas. Para ele, além do preço do ouro, a empresa colhe os frutos de uma série de investimentos relevantes que fez no ano passado. "Com os altos preços do ouro e o desempenho operacional estável, apoiados por um rigoroso controle de custos, esperamos que a Aura registre resultados sólidos no terceiro trimestre", avalia o BTG Pactual, que permanece otimista com a ação e tem recomendação de compra para o papel.

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