Mercado de ETF se destaca em 2025, com avanço de 50% no patrimônio
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Por Eduardo Puccioni, da Broadcast
redacao@viva.com.brSão Paulo, 29/12/2025 - O mercado de fundos de índices (ETFs, na sigla em inglês) apresentou uma expansão significativa em 2025, tanto em patrimônio quanto em número de fundos. Apesar disso, o segmento ainda é pouco representativo dentro da indústria total de fundos, o que é interpretado como um potencial de crescimento gigantesco para muitas gestoras e especialistas.
Um ETF (Exchange Traded Fund, na sigla em inglês) é um fundo de investimento que replica a carteira e a rentabilidade de um determinado índice de referência, como o Ibovespa, ou qualquer índice de ações ou de renda fixa.
Em números, os ETFs saíram de um patrimônio de R$ 54 bilhões em dezembro de 2024, para R$ 81 bilhões em novembro de 2025, representando um crescimento de 50%, segundo dados da B3. Esse salto interrompe a “estagnação”, como classificou Bianca Maria, gerente de produtos da B3, do patrimônio dos ETFs num patamar entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões dos últimos quatro anos. Em 2021, o montante encerrou em R$ 50 bilhões, caindo para R$ 43 bilhões em 2022 e subindo para R$ 47 bilhões em 2023. “Em 2025, esse crescimento superou a consistência que estávamos vendo nos últimos anos", destaca a gerente de produtos da B3.
Danilo Gabriel, gestor de fundos indexados da XP Asset, faz uma ponderação. Embora tenha crescido bastante em 2025, o mercado brasileiro de ETF ainda é muito pequeno. "Nos Estados Unidos existem fundos que individualmente têm mais de R$ 75 bilhões de patrimônio. A indústria inteira de ETF [no Brasil] está nessa magnitude. Na hora que olhamos globalmente, é uma indústria de US$ 15 bilhões, US$ 16 bilhões, então estamos muito atrás do que pode acontecer. Mas esse ano [2025] foi muito benéfico no sentido de termos sequestrado a atenção do mercado", diz Gabriel.
Uma alavanca para o crescimento do patrimônio alocado em ETFs foi a criação de novos fundos por mais gestoras. Maria lembra que foram lançados mais de 50 novos fundos de índices de janeiro até novembro, saindo de cerca de 130 em dezembro de 2024 para 180 no penúltimo mês do ano, uma evolução de quase 40%. "Acho que isso comprova toda a tese de despertar deste mercado. E a B3 acredita que esse movimento está muito alinhado com esse movimento que aconteceu fora do Brasil e está chegando aqui agora."
Mas o que torna o mercado de ETFs tão promissor para muitos analistas?
Para explicar esse potencial de crescimento, Maria compara o Brasil com os Estados Unidos. "Lá fora, o patrimônio dos ETFs representa hoje cerca de 33% do total de indústria de fundos de investimentos, enquanto no Brasil, os R$ 81 bilhões, representam menos de 1% do total", explica a gerente da B3.
Ponto de virada
Ainda como ponto importante para a virada do mercado de ETFs, o ano de 2025 foi marcado por produtos nunca vistos anteriormente no Brasil, lembra a gerente de produtos da B3. "Tivemos o primeiro ETF híbrido, que mistura renda fixa e renda variável. O primeiro ETF de cogestão, com duas casas fazendo a gestão de um mesmo produto. Vimos também um boom em ETF de renda fixa, principalmente aqueles vinculados a crédito privado. E por fim, agora nesses últimos meses, vimos os ETFs de ouro. Vimos novos ETFs de ouro sendo lançados, inclusive usando os contratos futuros da B3, por meio do índice F Gold [IFGold B3]. É todo um ecossistema que vai se complementando", acrescenta Maria.
Ao mesmo tempo que as gestoras lançam novos produtos, é preciso tomar cuidado com o modismo, alerta Rogério Freitas, executivo responsável pela área de investimentos do ASA.
Não tenho dúvida de que o mercado de ETF seguirá crescendo. O problema é que às vezes ele [o mercado] cresce de maneira errada. Existem modismos e esse é um problema. Moda não deve ganhar o nosso portfólio.
Segundo Freitas, o conselho é fugir de modismos, montar uma alocação e carregar durante muito tempo.
Mudança regulatória
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) colocou em sua Agenda Regulatória de 2026 a discussão para ETFs de gestão ativa. A abertura da autarquia para diálogo sobre o assunto foi vista como positiva e um indicativo de maturidade da indústria. Por outro lado, discussões sobre transparência são esperadas.
Atualmente, no Brasil, o ETF ainda é entendido como um fundo passivo, uma vez que acompanha índices. Já no exterior, esse tipo de fundo listado pode ter uma gestão ativa, ou seja, o gestor pode selecionar ativos de forma discricionária.
"A CVM liberou a agenda regulatória de 2026 e entrou na pauta esse assunto superquente, que são as discussões sobre liberação de ETF ativo, que é um ponto que a B3 já vem conversando com o mercado, com os reguladores inclusive. Achamos ótimo ter entrado para a agenda regulatória, a CVM dar foco para novas modalidades de ETF, porque isso foi um dos motivos de ter desenvolvido [o mercado] lá fora, quando novos tipos de produtos que atingem diferentes clientes foram surgindo, aumentamos aqui o leque de portfólio e consequentemente a possibilidade de mais pessoas e clientes estarem investindo", afirma Maria.
Gabriel compartilha da opinião de que o ETF de gestão ativa é importante para democratizar os investimentos, mas que essa mudança sozinha não vai ser a chave para a aceleração do mercado, mas que irá ajudar.
O investidor, na hora que ele ganha opções, aumenta a democratização dos acessos. A indústria fez um trabalho junto a Anbima e estamos fazendo junto a CVM, tentando mostrar o que seria essa indústria 2.0 dos ETFs com a possibilidade do ETF ativo. Mas ele sozinho não vai virar o mercado, ele vai ajudar.
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