São Paulo, 08/11/2025 - Desde que atingiu o recorde de US$ 4.392 por onça-troy em 16 de outubro, o preço do ouro passou por uma correção devido ao fortalecimento do dólar e à redução das expectativas de cortes consecutivos nos juros dos EUA. No entanto, a
demanda pelo metal precioso deve continuar forte, impulsionada por compras de bancos centrais e pelo interesse global por diversificação de investimentos e ativos considerados seguros.
Especialistas acreditam que o ouro tem potencial de valorização nos próximos meses. Preveem que cortes mais expressivos nos juros dos EUA, até meados de 2026, pressionarão o dólar para baixo e aumentarão a procura pelo metal como ativo de proteção, diz Mauriciano Cavalcante, diretor de ouro da corretora Ourominas.
Daniel Teles Barbosa, sócio da Valor Investimentos, destaca que o ouro reassumiu um papel central nas reservas internacionais, em razão da desvalorização do dólar e da volatilidade dos mercados globais. Ele comenta que a demanda pelo metal deve continuar robusta, embora sujeita a correções pontuais.
"A instabilidade fiscal nos EUA, as pressões de Donald Trump por cortes de juros e os conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio indicam um cenário favorável à procura por ouro", observa Barbosa. Compras por bancos centrais por necessidade de diversificação também devem manter o preço elevado, embora ele não descarte correções pontuais.
Segundo o Saxo Bank, os fatores fundamentais que impulsionam o ouro "permanecem intactos", mas o preço do metal está em fase de arrefecimento devido a obstáculos de curto prazo, como o tom cauteloso do Fed.
"O tom durante este período mudou da euforia para a reflexão. Assim que essa fase corretiva terminar, as mesmas forças que impulsionaram a alta deste ano provavelmente voltarão a se manifestar, tornando a próxima alta significativa para 2026.
O ING menciona que o mercado está analisando o acordo entre os EUA e a China firmado na semana passada, que ofereceu alívio temporário à tensão comercial, mas pouco contribuiu para resolver as divergências fundamentais entre as duas nações, mantendo vivo o interesse pelo ouro. Por outro lado, para o banco holandês, as expectativas reduzidas de novos cortes nas taxas de juros pelo Fed em dezembro limitam os preços do metal.
BCs entre os grandes compradores
Bancos centrais como os da China, Índia, Turquia, Polônia e o Banco Central Europeu (BCE) ampliaram significativamente suas reservas em ouro desde o início de 2025.
Segundo Barbosa, da Valor Investimentos, esse movimento dos BCs é uma extensão de uma tendência que começou em 2022, quando os bancos centrais adquiriram 1.080 toneladas, seguidas por 1.037 toneladas em 2023 e 1.045 toneladas em 2024.
A China liderou as aquisições em 2025, com compras de 600 toneladas de ouro físico até setembro, acima da média histórica de 473 toneladas anuais entre 2010 e 2021, de acordo com o World Gold Council.
No Brasil, Barbosa diz que o Banco Central manteve em 2025 suas reservas de ouro em 129 toneladas, o mesmo volume de 2024. Ele lembra que, entre 2020 e 2024, o BC praticamente dobrou suas reservas, de 67 para 129 toneladas.
Varejo quer ouro
No
mercado brasileiro, a demanda no varejo tem sustentado os preços do metal. Houve um aumento significativo nas negociações de ETFs de ouro (fundos negociados em bolsa) entre 2020 e 2025. Nesse período, o volume médio diário passou de R$ 12 milhões para R$ 29 milhões na B3, destaca Barbosa. "Os hedge funds e investidores institucionais têm reforçado posições em fundos lastreados em ouro físico, o que sustenta o preço", acrescenta.
Cavalcante, da Ourominas, confirma uma tendência firme da demanda no varejo, mas acredita que movimentos de correção de preços pontuais podem interromper o rali momentaneamente.
Entre 2024 e 2025, por exemplo, a Ourominas registrou um aumento de 70% na demanda por ouro físico, com volume de 850 quilos movimentados de janeiro a setembro, ante 500 quilos no total de 2024. "O investidor busca o ouro como porto seguro e oportunidade de ganho, e a perspectiva de cortes de juros nos EUA no próximo ano, junto a um dólar mais fraco, tende a limitar um movimento de correção dos preços do metal."
Cavalcante diz que o maior volume de vendas pela Ourominas ocorreu em 2020, durante a pandemia, quando a corretora comercializou 3,5 toneladas de ouro diante da incerteza econômica global. Desde então, a demanda tem se mantido elevada, com destaque para investidores individuais.
O portfólio de opções de investimento no varejo inclui três modalidades: ouro físico, ETFs (fundos negociados em bolsa) lastreados em ouro e contratos futuros negociados na B3. As cotas de ETF custam a partir de R$ 10, enquanto o contrato futuro mínimo é de R$ 50. O ouro físico pode ser comprado no balcão a partir de 0,5 grama. O valor de uma grama de ouro físico está em cerca de R$ 725, afirma Cavalcante.
Após o lançamento dos ETFs de ouro em dezembro de 2020, a B3 começou a oferecer contratos futuros de ouro neste ano, facilitando o acesso e impulsionando ainda mais a demanda no mercado. "Nunca se viu tanta procura pelo ouro no mercado financeiro e no balcão físico como neste ano", afirma o diretor da Ourominas, cuja empresa lançou em janeiro uma plataforma digital, o OurominasApp, que permite comprar e vender ouro a partir de 0,5 grama e adquirir ouro físico a partir de 1 grama.