dRio, 10/10/2025 - Em apenas um ano, 2,2 milhões de famílias brasileiras deixaram a situação de
insegurança alimentar. No entanto, 2,5 milhões de domicílios no País ainda conviviam com a fome. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua: Segurança Alimentar de 2024, divulgados nesta sexta-feira pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O total de domicílios com algum grau de incerteza sobre a segurança alimentar e nutricional de seus moradores caiu de 21,1 milhões em 2023 (27,6% do total de domicílios) para 18,9 milhões em 2024 (24,2%). Na passagem de 2023 para 2024, a fatia de lares com moradores em situação de insegurança alimentar leve diminuiu de 18,2% para 16,4%; a proporção em estado de insegurança moderada reduziu de 5,3% para 4,5%; e a fatia em situação grave encolheu de 4,1% para 3,2%.
"Aumentou a proporção de domicílios em segurança alimentar em todas as grandes regiões", declarou a pesquisadora Maria Lucia Vieira, responsável pela pesquisa do IBGE.
Apesar da melhora, o País ainda tinha 2,5 milhões de domicílios com privação quantitativa de alimentos, que atingiram não apenas os adultos da família, mas também as crianças e os adolescentes, apontou o IBGE.
"Houve, portanto, ruptura nos
padrões de alimentação nesses domicílios e a fome esteve presente entre eles, pelo menos, em alguns momentos do período de referência de três meses. Esse cenário foi ainda mais expressivo entre domicílios particulares localizados na área rural do Brasil, uma vez que a proporção de IA (insegurança alimentar) grave foi de 4,6%, e, portanto, 1,6 ponto porcentual superior ao verificado na área urbana (3,0%)", ressaltou o IBGE.
Considerando todos os graus de insegurança alimentar, a proporção de lares nessa situação foi mais elevada nas áreas rurais (31,3%) do que nas zonas urbanas (23,2%). Em 2024, as regiões com maior proporção de lares com algum grau de insegurança alimentar foram Norte (37,7%) e Nordeste (34,8%). No Norte, 6,3% das casas registraram insegurança alimentar grave, e no Nordeste, 4,8%.
Seis em cada dez lares (59,9%) com insegurança alimentar tinham mulheres como responsáveis pelo domicílio, enquanto homens estavam à frente em 40,1% dos lares nessa situação. Segundo Maria Lucia Vieira, a maior ocorrência de domicílios chefiados por mulheres nessa situação pode ter relação com arranjos em que elas cuidam sozinhas das crianças da família, sem a presença do pai.
Raça e escolaridade
A perspectiva racial também se mostrou relevante: mais da metade dos domicílios com insegurança alimentar tinham pessoas pardas como responsáveis pelo lar (54,7%), seguidos por brancas (28,5%) e pretas (15,7%). Nos casos de insegurança alimentar grave, a participação de domicílios com responsável pardo passou subia a 56,9%, mais que o dobro da parcela com responsáveis brancos (24,4%).
Quanto menor a escolaridade, maior a vulnerabilidade à fome. Uma fatia de 65,7% dos domicílios em insegurança alimentar grave tinham como responsáveis pessoas que cursaram até o ensino fundamental completo. As crianças estavam mais expostas ao problema do que os idosos: 3,3% da população de 0 a 4 anos e 3,8% da população de 5 a 17 anos conviviam com insegurança alimentar grave, enquanto essa proporção era de 2,3% na população de 65 anos ou mais.
A insegurança alimentar estava relacionada à renda. Dois em cada três (66,1%) lares com renda per capita de até um salário mínimo estavam em situação de insegurança alimentar.