Por que sentimos tanto prazer em apostas? Especialista explica
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Por Larissa Crippa
redacao@viva.com.brSão Paulo, 29/12/2025 - A popularidade de jogos e apostas tem se intensificado com a crescente facilidade proporcionada pela internet. Essa modalidade, que muitas vezes resulta em mais perdedores do que vencedores, segundo especialistas, está em um processo de expansão no Brasil em meio ao fenômeno das bets.
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Dados do Ministério da Fazenda revelam que, em 2025, o Brasil registrou entre 25 milhões e 30 milhões de apostadores online. Além disso, pesquisas recentes realizadas pelo TIC Domicílios mostram que cerca de 19% dos usuários de internet no País participaram em algum tipo de aposta online neste ano.
A popularização das plataformas digitais de apostas ampliou o alcance e a intensidade do problema. As chamadas bets utilizam estratégias de design e neuromarketing, como recompensas rápidas, bônus constantes, cores chamativas e estímulos sonoros, que aumentam o engajamento e dificultam a interrupção do jogo. A facilidade de acesso pelo celular, aliada à publicidade massiva, contribui para a normalização do hábito e eleva o risco de dependência, especialmente entre pessoas mais vulneráveis.
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Por que aposta vicia?
O médico psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, Luiz Zoldan, explica que os jogos são produzidos para viciar. A combinação dos elementos citados é planejada para manter o jogador engajado por mais tempo e estimular a repetição do comportamento, favorecendo relações de dependência.
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Apostas provocam alterações no funcionamento do cérebro e comprometem a capacidade de controle do indivíduo. Conhecido clinicamente como “jogo patológico” ou “transtorno do jogo”, o quadro é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e consta tanto na Classificação Internacional de Doenças (CID) quanto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).
Trata-se de um transtorno dos hábitos e impulsos, caracterizado por episódios repetidos de jogo que passam a dominar a vida da pessoa, levando à perda de controle sobre tempo e dinheiro, mesmo diante de prejuízos financeiros, profissionais, sociais e familiares.
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Como isso afeta o cérebro?
Do ponto de vista neurológico, o vício funciona de forma semelhante a outras dependências. Ao apostar, o cérebro ativa o sistema de recompensa, responsável pela liberação de dopamina, neurotransmissor associado à sensação de prazer.
Com o tempo, o cérebro passa a exigir estímulos cada vez maiores para alcançar a mesma sensação, o que leva ao aumento da frequência e do valor das apostas. Esse processo reduz o juízo crítico, prejudica o planejamento e favorece decisões impulsivas. Os impactos vão além da saúde mental: o transtorno pode desencadear ansiedade, depressão, distúrbios do sono, estresse crônico, endividamento grave, perda de vínculos afetivos e, em casos extremos, ideação suicida.
Como saber se estou viciado?
Não é possível prever com exatidão quem desenvolverá o transtorno, mas qualquer pessoa está sujeita ao risco, segundo Zoldan. Alguns fatores aumentam a vulnerabilidade, como personalidade impulsiva, histórico familiar de dependências, exposição frequente a jogos de azar, experiências traumáticas e presença de transtornos como ansiedade e depressão.
Ferramentas como o Questionário de Jogos de Azar de Massachusetts (MAGS) e o Questionário de South Oaks (SOGS), que podem ser encontrados na internet, auxiliam na autoavaliação. Responder “sim” a três ou mais perguntas indica a necessidade de buscar ajuda profissional. Sinais comuns incluem necessidade de apostar valores cada vez maiores, dificuldade de parar, culpa após jogar, uso de dinheiro destinado a outras despesas e mentiras para esconder o hábito.
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Como se curar do vício em apostas?
O tratamento envolve, principalmente, psicoterapia, com destaque para abordagens cognitivo-comportamentais ou psicodinâmicas, além do uso eventual de medicamentos para tratar sintomas associados, como ansiedade e depressão.
Grupos de apoio também são recomendados. Especialistas e autoridades discutem medidas regulatórias, como restrição de publicidade, controle de aplicativos e limites a patrocínios, seguindo modelos já adotados para reduzir danos relacionados ao álcool e ao tabaco.
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