Alessandra Taraborelli
Publicado em 07/08/2025, às 08h59 - Atualizado às 12h21
São Paulo, 07/08/2025 - Somos Avosidade é um movimento pro-idade, liderado pela empresária e jornalista mineira Natália Dornellas, que busca por meio de mensagens positivas e bem-humoradas, conscientizar as pessoas com mais de 50 anos sobre esta fase da vida. Essas frases são impressas em camisetas, panos de pratos, meias, folhetos, etc.
Uma das palavras muito usadas pela empresária é “velho”, que carrega um estigma muito negativo e isso não é só Brasil, segundo ela. "Eu vejo que os falantes da língua espanhola também têm dificuldade com o ‘viejo’, é difícil". E exatamente por gostar de desafios, é que a jornalista faz do "velho" sua pauta.
“A palavra velho está em muitas frases porque é, talvez, a mais difícil de trabalhar, a mais impregnada de preconceito".
Na maioria das vezes, se não é uma pessoa do universo da longevidade, pode achar que a referência é pejorativa. E Natália avisa que velho não é xingamento. "Existe a criança, o jovem, o adulto e o velho, são fases da vida."
No final de julho, estive no Jardim Pamplona Shopping, em São Paulo, onde Dornellas foi convidada, em razão do Dia dos Avós, para expor seus produtos e promover uma série de encontros com influenciadoras que dialogam diretamente com a geração prateada, num espaço de trocas, experiências e conexões sobre essa nova fase da vida.
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Assim que cheguei, fui recebida com um enorme sorriso, um abraço acolhedor e os olhos brilhando, que reforçaram a percepção de que ela tem muita paixão e propósito pelo que faz. Começamos a conversar e nos primeiros dez minutos já parecia que nos conhecíamos há algum tempo.
Logo deu para perceber o quanto a palavra “velho” gera curiosidade e estranheza. Enquanto conversamos era possível ver a reação de algumas pessoas que passam em frente à loja, umas olhavam e fechavam o rosto, pareciam incomodadas, mas a grande maioria ria e tinha até os que tiravam fotos.
Enquanto a conversa rolava, uma mulher mais velha entrou na loja e quis saber o porquê daquelas frases. Dornellas prontamente interrompeu a nossa conversa e foi atender a cliente. Ela disse que gostou muito das frases e falou sobre a importância de se tratar mais sobre o tema, contou sobre como ela se sente uma “velha” muito diferente da mãe dela. E comentou que gosta da atual fase e, embora não goste de deixar os cabelos grisalhos, prefere não fazer procedimentos no rosto que descaracterizem a idade que tem. Depois de uma boa prosa mineira, ela comprou um pano de prato, agradeceu, quis saber como acompanhar a loja e disse que falaria sobre o movimento com família e amigos.
Voltamos a conversar. Então, Dornellas contou que decidiu mudar o rumo da sua vida profissional, até então de repórter de moda, após ter a “oportunidade” de cuidar do seu pai. “Foi pelo coração que eu cheguei aqui. É interessante quando você para e analisa os projetos de alguns parceiros e amigos, muitos chegaram à longevidade por questões pessoais, tipo: estava cuidando da minha mãe e percebi um gap”, revela.
Com o pai doente, ela passou a frequentar ambientes que tinham mais velhos, como por exemplo, o local onde ele fazia ginástica cerebral. “Eu ficava conversando com os colegas e amigos dele e pensava: 'Gente, quero ficar só conversando com eles, não quero mais voltar para o coquetel de lançamento da coleção'. Eu queria a conversa dessas pessoas”, explica.
Foi neste momento, que ela começou a escrever sobre a sua história com o seu pai e criou o projeto “A mãe do pai”, em que ela dividia com as pessoas sua rotina com o pai. “De repente, um homem absolutamente ativo passou a depender de mim fisicamente. Intelectualmente ele estava do mesmo jeito, mas tinha dificuldade de remoção. Eu ia contanto meus dias com ele. Às vezes, ele estava muito bem-humorado, ele era um homem muito inteligente, tinha umas tiradas maravilhosas, e virou aquela saga: eu e meu pai. Mas meu pai morreu muito mais rápido do que a gente imaginava, dormiu e não acordou”.
Três meses depois, eclodiu a pandemia e a jornalista pensou: “para onde vou agora? Não tem mais ele para justificar “A mãe do pai”. Então, ela criou o “Conversa de vó”, uma série de lives com mulheres 80 mais. “Eu sempre tive esse apresso com o idoso que estava mais inviabilizado. Hoje, os 60+ estão nas redes, com seus perfis sociais. Os 80+ não aparecem tanto, eles não utilizam muito a tecnologia e eu quis contar a história dessas pessoas". Foram cerca de 60 lives naquela época.
E foi com essas lives que Dornellas teve a certeza de que queria fazer projetos de impacto para falar sobre envelhecimento. Em 2022 fundou uma Organização Não Governamental (ONG). “Só que eu sou Leão com ascendente em áries, o ‘timing’ do terceiro setor me deixou enlouquecida, ali as coisas demoram muito”, brinca.
Essa morosidade, acabou levando Nati, como é conhecida, para este novo caminho que é o movimento Somos Avosidade, cujo objetivo é falar sobre longevidade com humor. Para isso, entre as frases bem-humoradas ela se “apoderou” da palavra velho e, no início deste ano, fez algumas camisetas para umas amigas desfilarem durante o carnaval em Belo Horizonte e testar a palavra. O sucesso foi tão grande que ela não parou mais.
"Eu sempre gostei de camisetas com frases, comecei a falar de longevidade e a palavra velho coloquei em tudo."
Ela ressalta que esta é uma palavra difícil, porque sempre nos foi apresentada como algo que se deve descartar depois que está velho. Incluí-la no dia a dia das pessoas é uma forma de acabar com o preconceito.
De repente, outra mulher entra na loja falando alto, dizendo que adorou a camiseta e que "a Rosangela disse para pedir 15% de desconto".
Nati levanta, começa a rir e pergunta quem é Rosangela. Assim que ela identifica que a cliente está falando sobre a Rosangela Marcontes, uma amiga que também tem um perfil no Instagram sobre longevidade, e está andando no shopping com uma camiseta com a frase: “Velho é o jovem que deu certo”, ela confirma o desconto. A mulher diz “amei essa camiseta, muito legal, vou levar uma para minha e outra para a minha mãe”.
“Estou jogando essas frases para o mundo e o mais poderoso é a reação. Eu acredito que sentem algo como 'eu não estou velha, eu dei certo”, afirma.
Os cabelos brancos são outro preconceito que ela avalia que está ultrapassado. “Eu por exemplo, deixo meus cabelos grisalhos por um tempo, depois canso e pinto, e percebo que quando estou com os cabelos branco os homens olham menos para mim. Eu não ligo, não. Quero brincar com os meus cabelos grisalhos quando e como eu quiser”.
Ela conta que a mãe morreu jovem, com 59 anos, e que era uma mulher muito vaidosa, mas que jamais usaria os cabelos grisalhos. “Ela não teve a chance de ser velha, ela era extremamente vaidosa e cheia de assessórios, se cuidava muito. Mas eu tenho certeza que se tivessem dado a ela oportunidade de envelhecer, ficar com ruga, cabelo branco e conhecer seu neto, ela certamente teria optado por envelhecer, a gente tem que entender como bônus. A velhice é uma conquista, como diz o Alexandre Kalache (epidemiologista médico especializado no estudo do envelhecimento)”, afirma.
Ela ressalta ainda que não é só uma questão de sorte ficar velho, tem também a questão social e como a pessoa se prepara para este momento da vida.
“Muitas pessoas não têm acesso a coisas básicas, isso é muito difícil, mas também tem que ter um pouco de sorte mesmo. O jovem tem que dar certo para chegar a ser velho, é uma conquista, uma construção... A nossa geração, já vislumbrando que vai viver mais, tem que tentar se preparar melhor que nossos pais, fisicamente e financeiramente. E aqui, a ideia é a pró-idade, eu prefiro fazer um discurso positivo”, conclui.
A mineira, que completou 49 anos recentemente, diz que também já recebeu elogios, que na verdade eram preconceitos, como: "Nossa, você está linda, nem parece que vai fazer 49 anos". Para que não houvesse dúvidas sobre a sua idade, ela fez uma camiseta com a frase: 49 com carinha de 49.
Por enquanto, a empresária, que está de mudança para São Paulo, não decidiu se vai abrir uma loja, mas para quem quiser entrar nesta campanha pró-idade, é possível adquirir os produtos pelo Instagram.
Grisalha & Musa;
Queremos morrer velhos, não de velhice;
Que a gente tenha tempo de ficar velha;
Mais velha hoje do que ontem;
Deixa a velha ser velha;
Desculpa a sinceridade. Tá todo mundo ficando velho
Avó, sim. Babá, não!;
Xodó da Vovó;
Velho é chic.
Claro que eu garanti a minha camiseta quando estive com ela!
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