São Paulo e Brasília, 5/7/2025 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou a atenção para a necessidade de uma "governança multilateral" para tratar do uso de ferramentas de Inteligência Artificial (IA). Durante discurso no
Fórum Empresarial do Brics, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), no Rio de Janeiro, Lula pontuou que a revolução tecnológica permeia todos os setores da economia e que, na falta dessas diretrizes comuns, o modelo de negócio das grandes empresas do setor irá se sobressair.
A Inteligência Artificial traz possibilidades que há poucos anos sequer imaginávamos. Na ausência de diretrizes claras coletivamente acordadas, modelos gerados apenas com base na experiência de grandes empresas de tecnologia vão se impor. Os riscos e os efeitos colaterais da Inteligência Artificial demandam uma governança multilateral”, afirmou.
Sustentabilidade
Durante o discurso, o presidente também disse que os países membros dos Brics podem liderar um "novo modelo de desenvolvimento", pautado pela agricultura sustentável, a indústria verde e os biocombustíveis.
Lula pontuou que, em 2024, o fluxo comercial do Brasil foi duas vezes maior com países dos Brics do que com a União Europeia, com destaque para a exportação de itens ligados ao agronegócio. "Crédito rural, fomento à agricultura de baixo carbono e restauração de terras degradadas potencializam nossa capacidade de produzir alimentos para o mundo", disse Lula, acrescentando que o Brics foi essencial para a criação da Aliança Global contra a Fome.
Segundo o presidente, o Brasil tem responsabilidade com a promoção de uma
transição ecológica "justa e inclusiva", e aproveitou para lembrar da realização da 30ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP 30), em Belém (PA).
"A descarbonização das nossas economias é um processo irreversível", disse Lula. "Nossos países [membros do Brics] já estão entre os maiores investidores de energia renovável do planeta. Há imenso potencial para ampliar a produção de biocombustíveis, baterias, placas solares e turbinas eólicas."
O presidente destacou que países do bloco possuem 84% das reservas de terras raras, consideradas estratégicas para a transição energética, com 66% do manganês e 63% do grafite do mundo. Segundo o petista, o objetivo é ir além da extração de riquezas, qualificando a participação dos países em todas as etapas das cadeias de suprimento, em parceria com o setor privado.
"O Brasil está bem posicionado para este salto: contamos com marcos regulatórios estáveis, mão de obra qualificada e energia limpa para o processamento mineral eficiente e sustentável", disse Lula.
Lula aproveitou para fazer menção a conflitos geopolíticos globais, dizendo que o vínculo entre a paz e o desenvolvimento é "evidente". "Não haverá prosperidade em um mundo conflagrado, o fim das guerras e dos conflitos que se acumulam é uma das responsabilidades de chefes de Estado e de governo", afirmou o petista, no discurso.
O mandatário disse que o "vácuo de liderança" agrava crises enfrentadas pelas sociedades e que a cúpula do Brics vai apontar soluções para os problemas. Ele defendeu a integração entre países como alternativa às barreiras, e a solidariedade em vez da indiferença.
O presidente Lula disse ainda que os países membros do Brics devem continuar crescendo mais que o restante do mundo neste ano. As nações do bloco tiveram crescimento médio de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, ante uma média global de 3,3%. Os 11 membros plenos dos Brics já são responsáveis por 40% do PIB global e o bloco econômico se consolidou como um "polo aglutinador" de economias com dinâmicas próprias. "Aproximar nossos setores produtivos é um pilar fundamental dos Brics", reforçou o presidente brasileiro.
Ele também disse que a sinergia entre os países em desenvolvimento permitiu a superação de desafios recentes, como a crise financeira de 2008 e a pandemia de covid-19. "Diante do ressurgimento do protecionismo, cabe às nações emergentes defender o regime multilateral de comércio e reformar a arquitetura financeira internacional", prometeu o presidente, reforçando que os Brics são o fiador de um "futuro promissor".
Segundo Lula, também é importante combater as desigualdades econômicas, o que permite o fortalecimento dos mercados consumidores, impulsiona o comércio e alavanca investimentos.