Lula diz que liga para Trump quando sua intuição disser que o americano quer negociar

Ricardo Stuckert / PR

Lula disse que poderia até taxar produtos dos EUA, mas decidiu não fazê-lo por não querer adotar o mesmo comportamento de Trump - Ricardo Stuckert / PR
Lula disse que poderia até taxar produtos dos EUA, mas decidiu não fazê-lo por não querer adotar o mesmo comportamento de Trump

Por Geovani Bucci e Gabriel de Sousa, da Broadcast

redacao@viva.com.br
Publicado em 06/08/2025, às 16h39 - Atualizado às 17h13
São Paulo e Brasília, 06/08/2025 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta-feira, 6, em entrevista à Reuters, que "não tem por que" ligar para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para falar sobre o tarifaço contra os produtos nacionais. Na mesma entrevista, porém, Lula disse que, no dia em que sua “intuição” lhe disser que Donald Trump está disposto a negociar o tarifaço, não terá dúvida de ligar.
 "Não tenho o porquê ligar para Trump porque, nas cartas que ele mandou, ele não fala em negociação", disse Lula. "Um presidente não pode ficar se humilhando para outro", afirmou.
Segundo o petista, o comunicado norte-americano foi recebido de forma "totalmente autoritária" pelo governo brasileiro. Ele classificou a medida como mais do que uma "simples intromissão", afirmando que se tratava do próprio presidente dos EUA agindo como se pudesse ditar regras a um país soberano. Lula afirmou ainda que até poderia anunciar uma taxação sobre produtos americanos, mas decidiu não fazê-lo por não querer adotar o mesmo tipo de comportamento de Trump.
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O presidente ressaltou que o Brasil não está encontrando interlocução com o governo americano, mas que a diplomacia brasileira está aberta para o diálogo. "Na hora que eles quiserem conversar, vamos conversar. Acreditamos que países que possuem 201 anos de relação diplomática civilizada não vão jogar isso fora por atitude destemperada", afirmou.

O presidente ressaltou que não há nada anormal na relação comercial entre os dois países e lembrou que, nos últimos 15 anos, os EUA acumularam superávit de mais de US$ 400 bilhões com o Brasil. Ainda segundo ele, dos 74 principais produtos americanos importados, grande parte entra no País com tarifa zero, e a média de imposto é de apenas 2,7%.

Big techs

Lula voltou a defender o direito de o Brasil de regular empresas de tecnologia - as big techs - conforme suas próprias leis e soberania nacional. “É da nossa obrigação regular o que a gente quiser regular. Se não quiserem regulação, que saiam do Brasil. Não existe outro mecanismo”, declarou. Ele também reiterou que o Brasil não tem parceiro privilegiado e que seu compromisso é com quem quiser comprar e vender. "Se os EUA quiserem taxar o México, nós vamos oferecer oportunidades de venda e compra", afirmou.

O presidente informou que está em diálogo constante com sua equipe de ministros e com empresários, promovendo reuniões diárias para definir as próximas medidas. O petista ressaltou que as negociações estão sendo lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que "não tem nada de esquerda".

Segundo ele, se não houver abertura para uma solução negociada, tomará decisões “que não tenham mais volta”. Ainda assim, garantiu que o País vai esgotar todas as possibilidades de diálogo, inclusive utilizando os canais da Organização Mundial do Comércio (OMC), mesmo reconhecendo que são processos demorados. “Já ganhamos dos Estados Unidos na OMC. É um instrumento que precisamos valorizar”, disse.

Lula reforçou que não pretende se rebaixar diante da postura americana. Afirmou que, no dia em que sentir que há disposição real para uma conversa, não terá dúvidas em telefonar para Trump. “Mas eu não vou me humilhar”, frisou.

O petista aproveitou para criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL), que atuaram nos bastidores para “insuflar os Estados Unidos contra o Brasil”. Lula chegou a dizer que ambos deveriam ser processados e condenados como “traidores da pátria”, e revelou que o ex-presidente teria arquitetado, em caso de derrota eleitoral, o assassinato dele próprio, do vice-presidente Alckmin e do juiz responsável por julgá-lo, Alexandre de Moraes. “Se tivesse um mínimo de civilidade, ele teria feito como eu fiz: perdi eleições e fui para casa me preparar para a próxima”, afirmou.

Impactos

Ele também comentou que o governo atua para lidar com os impactos do tarifaço sobre empresas nacionais. "Estamos trabalhando para saber como vamos lidar com empresas brasileiras que terão prejuízos. Temos que cuidar da manutenção de empregos e ajudar empresas a procurar novos mercados", disse.
 Além disso, Lula afirmou que o governo está empenhado em convencer empresários americanos a se posicionarem contra as medidas de Trump, destacando a importância do engajamento do setor privado dos EUA na contenção dos efeitos do tarifaço. Ao ser questionado sobre um plano de contingência, disse que o Brasil fará o que estiver ao alcance da economia nacional, sempre mantendo a responsabilidade fiscal.

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