Tarifa de Trump obriga Brasil a avaliar novos mercados em difícil desvio de comércio

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Nesta semana, o presidente Donald Trump anunciou que os produtos brasileiros não estão mais no piso de seu tarifaço (10%)

Por Por Eduardo Laguna, da Broadcast

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Publicado em 12/07/2025, às 12h02 - Atualizado às 12h15

São Paulo, 10/07/2025 - A tarifa de 50% que o governo americano promete cobrar a partir de 1º de agosto vai impor a muitos exportadores brasileiros a dura missão de procurar mercados alternativos no exterior. É uma dor de cabeça que as empresas não tinham até quarta-feira. Pelo contrário: existia até uma perspectiva otimista de o tarifaço ajudar o Brasil na briga pelo mercado americano contra concorrentes que pagariam tarifas mais altas, entre eles China e México.

Nesta semana, o presidente Donald Trump anunciou que os produtos brasileiros não estão mais no piso de seu tarifaço (10%), mas sim na alíquota mais alta, algo que para muitos exportadores do Brasil significa riscar os Estados Unidos do mapa e buscar novos consumidores. A China é um destino óbvio para os produtores de commodities, mas não para as fábricas de produtos manufaturados, que têm pouco a oferecer a uma indústria que produz de tudo e lida com excesso de capacidade por conta da crise imobiliária que já há anos assola o gigante asiático.

A tendência é que as atenções se voltem ao Mercosul, assim como aos mercados com quem o bloco sul-americano tem ou costura acordos comerciais que permitiriam acesso privilegiado aos produtos brasileiros. A lista inclui vizinhos da América Latina, como México, Chile, Colômbia e Peru, além da Índia, os países da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) - Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein -, com quem o Mercosul concluiu negociações de livre comércio há uma semana, e claro, a União Europeia, cujo acordo está sendo finalizado.

Mas não é uma substituição fácil. As dificuldades são de ordem tanto técnica quanto econômica. É preciso estabelecer novas relações, desbancar concorrentes, conquistar clientes e adaptar linhas de produção para atender especificidades de cada mercado.

Em paralelo, a briga por clientes vai acontecer quando todos os outros parceiros comerciais dos Estados Unidos, incluindo a própria China, buscam mercados alternativos ao americano. Nesse contexto de excesso de produção, será difícil para a indústria brasileira se manter no páreo sem enfrentar o custo Brasil, representado por juros e impostos altos, além de deficiências de infraestrutura.

Como muitas empresas brasileiras têm operações nos Estados Unidos ou são filiais de multinacionais americanas, boa parte do comércio bilateral é intercompany - ou seja, entre companhias de um mesmo grupo - e complementar. Isso confere estabilidade e alguma resiliência às tarifas de Trump.

Segundo Felipe Rainato, advogado e consultor da área de comércio internacional do escritório Hondatar, a relação comercial, em alguns casos, não vai deixar de existir, só vai ficar mais cara. "É possível que muitos exportadores decidam antecipar embarques", prevê.

Ainda assim, a elevação tarifária representa um custo que dificilmente as empresas conseguirão repassar aos preços ou amortecer nas margens. Não à toa, a retomada das negociações entre os países em busca de um acordo para reverter a tarifa foi o caminho defendido por instituições como Fiesp, Amcham e Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Diretor-superintendente da Abit, associação que representa a indústria têxtil, Fernando Valente Pimentel diz que a barreira de Trump chega em um momento em que o setor vinha trabalhando para aumentar a presença nos Estados Unidos. "Com esse 'tarifaço', nós vamos ter um quadro de dificuldade de preservar o que foi conquistado e, obviamente, ao plano de expansão, que, se nada mudar, fica extremamente prejudicado", comenta.

Palavras-chave Brasil EUA Trump tarifaço

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