Especialistas alertam para aumento de problemas na visão após os 50 anos

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Conheça os principais problemas de visão após essa idade e como são os tratamentos disponíveis atualmente
Por Bianca Bibiano [email protected]

Publicado em 10/07/2025, às 11h21

São Paulo, 10/07/2025 - As complicações na visão atingem cerca de 285 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Desses casos, até 80% poderiam ser evitados ou tratados. De acordo com especialistas ouvidos pelo Viva, alterações oculares são uma consequência natural do envelhecimento e costumam se intensificar após os 40 anos. A boa notícia é que tratamentos mais avançados e cirurgias mais eficazes têm ajudado muitos a enxergar a vida com novas perspectivas na maturidade.

Dentre os principais problemas de saúde ocular que afetam as pessoas a partir dessa idade, Álvaro Dantas, oftalmologista do Hospital Ícone da Visão e especialista em saúde ocular 50+, destaca cinco: vista cansada, catarata, glaucoma, olho seco e doenças da retina. Mesmo com suas especificidades, cada problema tem em comum o envelhecimento do organismo humano.

"As pessoas antigamente, que tinham 40 anos, eram vistas como velhas. Hoje, chegam aos 60 com toda vitalidade, mas começam a perceber um órgão dando sinais de falha, mesmo os que levam uma vida saudável. Do ponto de vista de autoestima, é ruim, a pessoa se sente envelhecida, além dos transtornos do dia a dia de ter um problema de visão. Quando a gente trata ou opera, a gente percebe a reenergização e a vitalidade crescer nesses pacientes", diz o oftalmologista.

Neste dia da saúde ocular, a oftalmologista Raquel Fernandes Buratto, do Santa Marcelina Saúde, reforça a importância do acompanhamento periódico. "Passar em consulta com um especialista ao menos uma vez ao ano é muito importante para garantir que qualquer complicação seja diagnosticada de forma precoce, aumentando a probabilidade de preservar o agravamento de doenças e, consequentemente, manter uma boa visão".

Tratamentos mais modernos para a visão

Dantas lembra que, no passado, era comum postergar alguns procedimentos cirúrgicos na visão por medo dos riscos. "Antigamente, a cirurgia de catarata, por exemplo, era agressiva, mandavam postergar ao máximo e se operava apenas quando chegava a uma situação muito ruim, pois entendiam que o risco era maior que o benefício". Hoje, isso mudou.

A cirurgia de catarata passou a ser menos traumática, é feita por aspiração, por isso é preferível operar a doença o quanto antes. Tanto que é a cirurgia na visão mais realizada de todas as cirurgias humanas."

A correção cirúrgica, mesmo após os 50 anos, pode trazer ganhos extras. Como ele explica, na cirurgia de catarata é feito o implante de uma lente intraocular artificial. "Nesse momento, consegue-se milagres, pois a pessoa chega míope e com catarata e a cirurgia corrige até a miopia, por exemplo, dispensando uso de óculos mais adiante".

Apesar dos avanços, o acesso a essas tecnologias nem sempre é garantido. Enquanto o Sistema Único de Saúde (SUS) e os planos de saúde cobrem a cirurgia de catarata com lente, outros tratamentos como os de glaucoma, vista cansada e retina, muitas vezes, só estão disponíveis na rede privada. "A oftalmologia evoluiu muito nos últimos anos, mas ainda existe desconhecimento. Muita gente não sabe que já existe correção para vista cansada e lasers que baixam a pressão ocular por até seis anos, evitando uso prolongado do colírio de glaucoma", exemplifica Dantas.

Ele também destaca que o custo dos procedimentos deve ser visto sob outra perspectiva. "Uma lente multifocal com boa armação pode chegar a R$ 20 mil. O laser nesses casos oferece até mais custo-benefício".

Cirurgias da visão após os 60 anos exigem cuidados especiais

O oftalmologista Bernardo Kaplan Moscovici, do Hospital Visão Laser, afirma que a procura por cirurgias nos olhos cresce até 30% nos meses mais frios, quando o clima favorece o pós-operatório. Ele esclarece que os procedimentos oftalmológicos estão entre os mais seguros da medicina, com taxa de satisfação superior a 95%.

Ele afirma que a idade não é um fator que atua na reversibilidade dos quadros. "Existem fatores externos que afetam mais, como a exposição à radiação ultravioleta ou industrial, o excesso de álcool, o cigarro, a falta de alimentação adequada, além de condições genéticas", pontua, e destaca que hábitos saudáveis fazem mais diferença do que a idade na recuperação dos olhos após um tratamento ou cirurgia.

"Mesmo pacientes com mais de 90 anos podem ter sucesso completo na cirurgia. A maioria dos procedimentos é minimamente invasiva e segura".

Embora a maioria das cirurgias oftalmológicas seja de baixo risco e realizadas apenas com anestesia ou sedação, pessoas mais velhas podem ter condições clínicas mais específicas. Por isso, o médico alerta para a importância de uma avaliação pré-cirúrgica cuidadosa.

"Há riscos inerentes à idade porque a resposta ao estresse em idosos é menor, além de fatores como comorbidades com hipertensão e diabetes. Isso pode atrapalhar a recuperação. Por isso, todo mundo tem que passar por avaliação com geriatra e outros especialistas, avaliando os riscos de uma cirurgia nos olhos", completa Moscovici.

Recuperação exige atenção redobrada

Após a cirurgia, os cuidados incluem evitar quedas, não fazer esforço físico, não abaixar, nem deixar cair água nos olhos durante o banho. O uso de colírios também exige atenção: alguns precisam ser aplicados com frequência, com o auxílio de adaptadores, e a higiene dos frascos deve ser rigorosa para evitar infecções.

Panos e bolsas de gelo devem ser evitados. "O correto é usar apenas lenços descartáveis. Não pode passar a mão nos olhos, alguns usam até protetor de acrílico", recomenda Moscovici. Em casos mais complexos, como transplantes de córnea ou retina, pode ser necessário o uso de dispositivos para manter a posição adequada da cabeça.

Prevenção é o melhor tratamento para problemas na visão

Após os 40 anos, a recomendação é de visitas anuais ao oftalmologista. Doenças como o glaucoma, por exemplo, são silenciosas e só podem ser diagnosticadas com a medição da pressão ocular. "Infelizmente, aqui no Brasil o que leva o paciente ao médico é a troca do óculos, não a busca por prevenção. Acaba que é só nesse momento que o médico tem a chance de medir a pressão ocular", alerta Dantas. E completa:

"O mais precioso sentido é a visão, ela representa 80% da nossa interação com a vida. Perder a visão é irreparável".

Os 5 principais problemas de visão após os 50 anos

Com o envelhecimento, algumas alterações visuais são inevitáveis. A partir dos 40 anos, o organismo começa a apresentar mudanças naturais, e a saúde ocular também é afetada. Entre os 50 e 60 anos, essas alterações se intensificam, e é justamente nessa fase que surgem ou se agravam os principais distúrbios da visão. Confira abaixo as doenças mais comuns:

Vista cansada (presbiopia)

É, na maioria dos casos, a primeira queixa visual relacionada à idade. A partir dos 43 ou 44 anos, a lente natural do olho, que antes era flexível e permitia o autofoco, começa a perder elasticidade. Com isso, a capacidade de ver de perto se reduz progressivamente, atingindo seu ápice de perda por volta dos 53 anos.

A presbiopia atinge todas as pessoas. Quem nunca usou óculos, passa a precisar deles para perto, e quem já tinha miopia, hipermetropia ou astigmatismo, normalmente adota lentes multifocais. "Todo mundo vai passar por isso. Depois de uma idade, ou a pessoa está usando óculos para ler ou buscando lente multifocal", explica Dantas.

A vista cansada gera grande impacto no dia a dia, especialmente com o uso intensivo de telas. O tratamento atual passa por correção a laser. No entanto, ele ainda não é oferecida pelo SUS, sendo coberto por alguns planos de saúde, dependendo da indicação e do grau de correção necessário.

Catarata

Assim como a presbiopia, a catarata também está relacionada ao envelhecimento da lente natural do olho. Nesse caso, além de perder a flexibilidade, ela se torna opaca, o que compromete progressivamente a visão. A catarata evolui lentamente, podendo levar décadas até atingir um estágio mais grave, mas também é uma condição inevitável com o tempo.

Com a cirurgia, é implantada uma lente intraocular artificial, que pode inclusive corrigir outros problemas como a miopia. O procedimento está disponível tanto pelo SUS quanto por planos de saúde, e é considerado um dos mais seguros e comuns no mundo.

Olho seco

Considerada uma epidemia, o olho seco é uma condição comum e crônica que pode afetar a todos, mas especialmente mulheres na menopausa. A doença está ligada à queda na produção de lágrimas e pode ser agravada pelo uso de telas, medicações como antidepressivos e sedativos, além de fatores hormonais. Também piora com a idade.

Nesse caso, ainda não há cura, mas o controle é possível com lubrificantes oculares, fisioterapia nos olhos e mudanças de hábito. Apesar de parecer um incômodo simples, o olho seco pode prejudicar bastante a qualidade de vida, apontam os especialistas.

Glaucoma

O glaucoma é uma das doenças mais graves da visão, pois pode levar à cegueira irreversível. Está diretamente ligado ao aumento da pressão intraocular e, assim como outras doenças da idade, tende a se tornar mais comum com o avanço dos anos. Acima dos 80 anos, mais de 10% da população pode ser afetada.

É uma doença silenciosa e normalmente é notada quando o paciente sente que está perdendo a visão, revelando um estágio avançado. Por isso, o acompanhamento médico e o controle da pressão ocular são fundamentais. O tratamento visa estabilizar a doença e impedir sua progressão. Em alguns casos, já é possível contar com lasers que substituem o uso prolongado de colírios.

Doenças da retina

As doenças da retina também ganham relevância após os 50 anos, com destaque para duas condições: a retinopatia diabética e a degeneração macular relacionada à idade (DMRI). A retinopatia diabética é uma complicação do diabetes que pode levar a sangramentos, descolamento de retina e perda da visão. Por isso, o controle rigoroso da glicemia é essencial.

Já a DMRI é a principal causa de perda de visão em países desenvolvidos e afeta a mácula (região da retina responsável pela visão central), conforme explica Buratto. Seus sintomas incluem dificuldade para ler ou reconhecer rostos. Antigamente, havia poucas opções de tratamento, mas hoje há medicações injetáveis e novas tecnologias, como a biofotomodulação, que têm mostrado bons resultados.

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