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São Paulo, 28/06/2025 - Nesta semana, um sintoma pouco conhecido da menopausa ganhou destaque após uma participação da apresentadora Eliana Michaelichen, 52, no podcast Pod Delas. Na ocasião, ela contou ter ficado com um ombro congelado, sem conseguir mover o braços durante um período de transição de carreira.
Nesta sexta-feira, a artista retomou o tema em postagem em suas redes sociais e explicou mais sobre o caso. "Eu tive capsulite adesiva, que recentemente começaram associar à menopausa, por conta da queda no estrogênio, que também causa oscilação de humor, calorão, e afeta músculos, tendões e articulações".
Segundo a ginecologista Mirian Andrade Mira, médica chefe da maternidade do grupo Santa Casa de Franca, em São Paulo, esse tipo de alteração no ombro pode ser considerada rara, com incidência de 3 a 5 casos para 1.000 mulheres na pós menopausa. "A menopausa é caracterizada por uma queda significativa na produção de estrogênio, o que contribui para um conjunto de sintomas musculoesqueléticos, incluindo dor articular, perda de massa muscular, redução da densidade óssea e maior predisposição a condições como capsulite adesiva".
Ela diz ainda que estudos experimentais recentes demonstram que o estrogênio, especialmente o estradiol, exerce efeito contra a formação de fibrose. Assim, a falta do estrogênio típica do período perimenopausal favorece processos fibróticos na cápsula articular do ombro, promovendo o desenvolvimento do ombro congelado.
"Além disso, há evidências de que mulheres na menopausa apresentam maior perda de densidade mineral óssea no úmero proximal acometido por ombro congelado, sugerindo que alterações hormonais femininas contribuem tanto para a patogênese da capsulite adesiva quanto para alterações ósseas locais, de forma semelhante ao que ocorre na osteoporose".
O tratamento padrão do ombro congelado inclui fisioterapia, analgesia, anti-inflamatórios não esteroides, infiltração de corticosteroides e, em casos refratários, procedimentos cirúrgicos. Já a terapia de reposição hormonal iniciada idealmente na fase de transição menopausal ajuda a proteger contra a osteoporose, evitando o enfraquecimento dos ossos e o maior risco de fraturas, mas ainda não há evidências de benefício direto sobre a evolução da capsulite adesiva.
O médico Jean Kley, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Ombro e Cotovelo (SBCOC), explica que, embora essa doença seja mais conhecida pela perda do movimento nessa área do corpo, ela tem, na realidade, três fases. A primeira começa com uma dor bem intensa. Na sequência, em um período que varia de um a três meses, a pessoa começa a ter perda de movimento. A terceira é a fase de descongelamento, que pode levar até seis anos para ocorrer sem interferência médica adequada.
Ele diz também que a doença tem relação com o estado de humor, afetando pessoas mais ansiosas e preocupadas. "Na questão do próprio humor da mulher, isso de alguma forma deve elevar o seu nível de tensão, sua ansiedade e assim ter uma relação direta com a doença que é o ombro congelado".
O especialista recomenda que qualquer dor intensa ou alteração na mobilidade do ombro deve ser investigada o quanto antes por um ortopedista especialisado nessa região do corpo, já a doença pode ser difícil de ser diagnosticada nas fases leve e moderada. Além disso, o médico pondera que mudanças de hábito serão necessárias para evitar e reverter o quadro. "Manter atividade física regular e trabalhar a higiene mental, o combate ao estresse e à ansiedade são medidas bem interessantes para tentar prevenir essa doença".
Ao final de seu vídeo divulgado nesta sexta, a apresentadora Eliana disse ainda que o caso ocorrido com ela carrega um alerta. "Se quando eu começasse a sentir as dores, eu tivesse ido ao médico, provavelmente eu não precisaria passar pela cirurgia. E qual é a mensagem? Que a gente não negligencie a nossa saúde, que a gente não ignore as dores do nosso corpo", pontuou.
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