Insuficiência cardíaca é doença silenciosa e agravada pelo envelhecimento, alerta especialista

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A World Heart Federation projeta um aumento global de 25% na prevalência de insuficiência cardíaca até 2030, devido principalmente ao envelhecimento da população - Envato
A World Heart Federation projeta um aumento global de 25% na prevalência de insuficiência cardíaca até 2030, devido principalmente ao envelhecimento da população
Por Bianca Bibiano [email protected]

Publicado em 28/05/2025, às 10h37

São Paulo, 28/05/2025 - A World Heart Federation projeta um aumento global de 25% na prevalência de insuficiência cardíaca até 2030, devido principalmente ao envelhecimento da população. Contudo, de acordo com Luiz Sérgio Carvalho, médico titular da unidade de Cardiologia e Medicina Interna no Hospital Sírio Libanês e professor na Universidade Católica de Brasília, a doença é silenciosa e nem sempre recebe atenção aos sinais iniciais, levando a agravamentos. "Poucos profissionais e pacientes estão treinados para reconhecer os sinais. Muitas vezes, o paciente é encaminhado ao pneumologista por falta de ar, e não se pensa em insuficiência cardíaca", e destaca:

"É preciso mais atenção dos clínicos e mais informação para o público. Exames simples como raio-X de tórax e eletrocardiograma já ajudam bastante no diagnóstico de insuficiência cardíaca."

De acordo com publicação do periódico Open Heart, essa condição representa uma das principais causas de internação hospitalar, especialmente entre adultos acima de 65 anos, onde responde por até uma em cada cinco hospitalizações. No Brasil, estima-se que 2,5 milhões de pessoas convivam com a doença, gerando um custo anual superior a R$ 1 bilhão para o sistema de saúde. 

O que é insuficiência cardíaca

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"É o extremo da cardiopatia", explica Luiz Sérgio Carvalho, médico do Hospital Sírio Libanês, e professor na Universidade Católica de Brasília - Foto: Divulgação

Segundo Carvalho, a insuficiência cardíaca acontece, por definição, quando uma pessoa chega ao extremo de uma cardiopatia, ou seja, esgotam-se os mecanismos de compensação do coração.

"Por exemplo, em casos de pressão arterial elevada, o coração tende a hipertrofiar para vencer a resistência periférica. Com o tempo, as pressões internas aumentam, estimulando o crescimento das células cardíacas, até que esse processo se esgota — isso é a insuficiência cardíaca". 

O médico alerta que, além da hipertensão, a doença pode ser causada por outros fatores, como diabetes não controlada, cardiopatias congênitas, doenças valvares, doença de Chagas e outras miocardiopatias, levando a uma lesão nas células do miocárdio. "Com isso, cria-se um estado de não retorno — o estado terminal da função cardíaca", pontua. 

Diagnóstico precoce garante melhor qualidade de vida

A insuficiência cardíaca tem como principal sintoma a falta de ar, que aparece com esforços simples do cotidiano, mas principalmente ao deitar. "O paciente tem um comprometimento dos alvéolos pulmonares, fazendo com que o ato de deitar-se prejudique a respiração, com isso, muitos relatam a necessidade de usar vários travesseiros ao dormir, por uma necessidade de manter o tronco elevado", explica o cardiologia. 

Além da interrupção de hábitos nocivos ao organismo, como tabagismo, o controle de doenças como hipertensão arterial e diabetes pode evitar que a insuficiência cardíaca se instale permanentemente. "Um hipertenso que mantém a pressão em 13 por 8, por exemplo, tem a mesma chance de evoluir com insuficiência cardíaca que uma pessoa não hipertensa. Já quem tem controle instável, com a pressão subindo e descendo, tem maior risco. O mesmo vale para diabéticos — quanto mais cedo o tratamento e melhor o controle da glicose, menor a chance de desenvolver a condição."

Uma vez instalada, a insuficiência cardíaca precisa ser monitorada por toda a vida. Além dos medicamentos específicos, a perda de peso também é vista pelos profissionais de saúde como fundamental no tratamento.

"Em muitos casos, os sintomas melhoram drasticamente com o emagrecimento. Outro ponto essencial é a reabilitação cardiopulmonar, que melhora muito a qualidade e a expectativa de vida."

Desigualdade no tratamento precoce

De acordo com o cardiologista, a realidade brasileira expõe uma preocupante desigualdade: pacientes com maior escolaridade e renda tendem a apresentar menor mortalidade e melhores resultados nos tratamentos de insuficiência cardíaca. Em contrapartida, os mais vulneráveis têm menos acesso a tratamentos modernos, morrendo até três vezes mais cedo e sendo hospitalizados com frequência até cinco vezes maior.

Nesse sentido, ele reforça a necessidade de conscientização de profissionais de saúde e de diagnóstico precoce para evitar aumento na prevalência da insuficiência cardíaca nesses grupos. "O SUS [Sistema Básico de Saúde] já oferece grande parte dos medicamentos gratuitamente. Contudo, a reabilitação cardiopulmonar, infelizmente, ainda é pouco acessível. Falta investimento e conscientização dos gestores nesse sentido". 

O médico destaca que iniciativas gratuitas de hospitais universitários, como o da Universidade Católica em Brasília e o da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), buscam contribuir com essa frente de tratamento, assim como hospitais de referência, como o Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, e o Hospital das Forças Armadas, de Brasília. "Muitos desses projetos são voltados apenas a pacientes de alta complexidade, por isso precisamos reforçar o papel da atenção básica na rede pública, que ainda oferece pouquíssimas iniciativas de diagnóstico e tratamento precoce", completa.

Palavras-chave insuficiência cardíaca

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