Roberto Parizotti / Fotos Públicas
São Paulo, 06/08/2025 - Cansado do noticiário de problemas na política, crimes, poluição e corrupção ?Sim, os aspectos negativos da instabilidade política, da desigualdade social e da corrupção que vivemos na sociedade contemporânea realmente afetam sua saúde para pior. É o que comprova uma nova pesquisa publicada em julho na revista científica Nature Medicine.
Desenvolvida por 41 estudiosos da América Latina, Europa, África e Ásia, incluindo pesquisadores brasileiros, ela revela que os fatores políticos, ambientais e sociais de um país influenciam, de forma significativa, o estado de saúde mental e físico, ocasionando maiores índices de declínio cognitivo e quadros de demência.
Na prática, os resultados sugerem que exposições estruturais combinadas, além do estilo de vida individual, interferem no processo de envelhecimento, variando bastante entre os países. É o primeiro estudo com grande volume de dados a correlacionar a polarização política, as falhas de governança e a instabilidade institucional ao declínio cognitivo e de capacidades físicas do corpo.
Segundo um dos autores do estudo, Eduardo Zimmer, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador apoiado pelo Instituto Serrapilheira, isso acontece pela exposição a fatores estressores, como explicou em entrevista ao Viva.
A hipótese que usamos para explicar esse declínio é a 'hipótese do exposoma', que é a soma de exposições que a gente tem na nossa vida. O exposoma de alguém que vive no sul global é mais estressor do que alguém que vive no norte global".
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Nesse sentido, destaca Zimmer, o brasileiro acaba perdendo aproximadamente cinco anos de vida do cérebro em relação à média global. "Com tudo o que vem acontecendo nos últimos anos, a política ganhou muita força nas redes sociais, um debate que muitas vezes é pouco produtivo e mais beligerante, as pessoas mais brigam do que discutem solução e isso cria um estresse crônico. É um fator que afeta a vida e o cérebro das pessoas", explica.
A poluição do ar também foi um dos fatores do estudo apontado como negativo para o envelhecimento saudável. Não é a primeira vez que o tema aparece nesse tipo de estudo, contudo, tradicionalmente as pesquisas focam em condições de caráter particular, como passado genético e estilo de vida. Segundo essa nova pesquisa, o envelhecimento tem um espectro mais amplo, envolvendo uma combinação entre o ambiente em que vivemos e tudo a que somos expostos no dia a dia.
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Ao todo, foram analisados dados de 161.981 participantes em 40 países, incluindo o Brasil. A pesquisa usou modelos avançados de inteligência artificial e modelagem epidemiológica para análise das “diferenças de idade biocomportamentais (BBAGs)” - termo usado para avaliar a diferença entre a idade real de uma pessoa e a idade prevista com base em sua saúde, cognição, educação, funcionalidade e fatores de risco, como saúde cardiometabólica ou deficiências sensoriais.
A partir disso, foi possível verificar uma relação direta entre o envelhecimento da população e os contextos políticos, sociais, econômicos e ambientais específicos de cada país. "Os resultados mostram de maneira marcante que o local onde vivemos pode nos envelhecer de forma acelerada, aumentando o risco de declínio cognitivo e funcional. Em um país desigual como o Brasil, esses achados são extremamente relevantes para políticas públicas”, completa Zimmer.
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