Foto: Adobe Stock
Publicado em 07/11/2025, às 11h33
São Paulo, 07/11/2025 – Cuidar da saúde no imaginário de pessoas maduras é sinônimo de cuidar do corpo, e não necessariamente da mente, como mostra uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva encomendada pela farmacêutica Apsen. Conforme os dados, 69% dos brasileiros com mais de 50 anos fazem seus exames de rotina regularmente. Contudo, apenas 32% realizam acompanhamento voltado à saúde mental.
No total, o cuidado com a saúde mental ainda está abaixo do esperado: apenas 40% fazem acompanhamento regular. Desses, as mulheres são as que mais procuram esse tipo de cuidado, com 41% de adesão.
O levantamento ouviu homens e mulheres com idades entre 18 e mais de 50 anos, de todas as regiões do País.
O psicanalista e Professor da Faculdade Sírio-Libanês, Leonardo Goldberg, avalia que ainda há um estigma forte presente entre pessoas mais velhas em relação ao cuidado mental.
A geração que hoje está envelhecendo cresceu em uma época na qual o sofrimento psíquico era visto como fraqueza, 'improdutividade' ou traço pessoal".
Ele ressalta que cuidado físico é natural para as pessoas ao envelhecer. Assim, quando há alguma dor ou limitação, a procura médica é legitimada. Contudo, no caso do sofrimento psíquico, muitas vezes há uma associação com a vergonha e o medo do estigma, como se o cuidado em saúde mental fosse o avesso do ideal da geração, que culturalmente valorizava bastante a cultura do "aguenta firme".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que os problemas de saúde mental entre os idosos são frequentemente subdiagnosticados e subtratados. Além disso, o estigma em torno dessas condições pode fazer com que as pessoas relutem em procurar ajuda.
Narjara Pedrosa é professora no curso de Psicologia do Centro Universitário UNICEPLAC, em Brasília, onde coordena o projeto Mente Ativa, que oferece atendimento gratuito a terceira idade, alerta que ainda há um contexto de psicofobia no Brasil: preconceito relacionado a quem tem doenças mentais.
Ela avalia que a existência desse tipo de comportamento é referente à falta de espaços que discutam essa temática que deveria estar presente no dia a dia, em casa, nas escolas e trabalho.
Ela adiciona que pessoas mais velhas possuem a dificuldade de falar e reconhecer as suas emoções e acabam adoecendo e afetando todo o organismo.
"Hoje, vemos muitos transtornos subnotificados nessa faixa etária e questões como depressão e ansiedade, por exemplo, afetando outros adoecimentos".
As Estimativas Globais de Saúde (GHE) de 2021 mostram que, globalmente, aproximadamente um sexto das mortes por suicídio (16,6%) ocorrem entre pessoas com 70 anos ou mais.
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O estudo constatou que há uma maior preocupação com a saúde em geral, mas, quando se trata do cuidado mental, a adesão ainda não chega a 50%. Entre os respondentes de 18 a 49 anos, a média de acompanhamento é de 45%.
Os números desse grupo se tornam ainda menores quando comparados à preocupação em realizar exames de rotina. Entre os que têm entre 18 e 29 anos, 56% afirmam fazer exames regulares; esse número sobe para 66% entre aqueles com idades entre 30 e 49 anos.
A pesquisa também abordou a preocupação com a saúde entre os participantes: 59% afirmam que essa preocupação aumenta com o passar do tempo.
Entre os brasileiros com mais de 50 anos, uma das principais preocupações é a alimentação. Nesse grupo, 73% dizem manter uma rotina de alimentação saudável e, além disso, oito em cada dez pessoas tentam beber água com frequência.
Narjara relembra que, o processo de envelhecimento requer um preparo mental para diversos acontecimentos:
"Trata-se das mudanças corporais, o crescimento dos filhos, a aposentadoria, a perda de pessoas que amamos; além de mudanças culturais, sociais e doenças. Faz com que as pessoas tenham que apresentar recursos psíquicos para enfrentar os desafios cotidianos", explica.
Leonardo Golberg aponta que um passo importante é reconhecer um espaço e pessoa segura para conseguir "endereçar os sentimentos". Ele explica que é preciso criar aberturas para o cuidado em saúde mental, falar com um profissional de confiança, aos poucos, sobre questões e poder nomear o que está sentindo.
"Um trabalho sério em saúde mental no envelhecimento não produz uma 'infantilização da velhice', pelo contrário, é um processo de escuta e intervenção que pressupõe que as pessoas mais velhas amem, desejem, realizem, tomem posição e possam decidir questões importantes da suas vidas", ressalta.
Narjara também traz à luz o papel da família e dos amigos nesse processo. Isso porque, muitas vezes, a pessoa que está sofrendo não consegue reconhecer o que está passando e é a rede de apoio que fornece o incentivo para buscar ajuda.
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